Sítio do Piropo

B. Piropo

< Jornal Estado de Minas >
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25/11/2004

< As seis “Ts” da Intel >


O cavalo de batalha da Intel são seus microprocessadores, uma das maravilhas tecnológicas do mundo moderno. Um objeto tão complexo que o intervalo que medeia entre as fases de concepção e projeto até a venda dos primeiros exemplares se estende por alguns anos.   Quem produz esse tipo de artefato não pode navegar ao sabor dos ventos do mercado. Pelo contrário: depende de um planejamento minucioso com um horizonte bastante amplo. Portanto não é difícil prever hoje as novidades que a Intel lançará no futuro próximo. Mesmo porque é do interesse da empresa que elas sejam do conhecimento da indústria da informática e do público em geral. Tanto assim que promove regularmente um evento denominado Intel Developers Forum (IDF) cujo objetivo é, justamente, fornecer à indústria e à imprensa informações sobre as tecnologias que estão “no forno” e serão incorporadas a seus produtos no futuro próximo.

Originalmente o IDF ocorria duas vezes por ano apenas nos EUA. Depois, passou a ter edições regulares em outros países da Europa e Ásia. Semana passada foi a vez do IDF São Paulo, o primeiro a ocorrer abaixo da linha do Equador. E a adesão de cerca de quinhentos participantes mostrou que a iniciativa foi mais que bem sucedida.

A palestra de abertura foi proferida por Frank Spindler, Vice-Presidente do Grupo de Tecnologia Corporativa da Intel, que discorreu sobre os planos da empresa para os próximos anos. E enfatizou que eles dependem decisivamente daquilo que, no jargão interno da empresa, é conhecido como as “Ts”, ou “tecnologias que representam a evolução da forma pela qual as plataformas são projetadas e utilizadas”. As seis “Ts” da Intel são: Tecnologia Hyperthreading (HT), Tecnologia LaGrande (LT),   Tecnologia Vanderpool (VT), Tecnologia Silvervale (ST), Tecnologia de Memória Estendida 64 (EM64T) e Tecnologia de Gerenciamento Ativo (AMT).

A primeira, Hyperthreading, que permite que um único processador seja “enxergado” pelo sistema operacional como duas unidades semi-independentes, já entrou na linha de produção desde 2002 com os Pentium4 HT e está integrada a mais de 50 milhões de unidades vendidas.

A Tecnologia LaGrande, assim como as duas seguintes, Vanderpool e Silvervale, também não são novas. Estão maduras e somente não foram lançadas no mercado porque dependem da liberação pela Microsoft de seu ansiosamente esperado sistema operacional de 64 bits cujo nome de código é “Longhorn”. LaGrande visa a segurança dos sistemas e fornece a base em hardware para fortalecer sistemas operacionais e aplicativos, protegendo-os de ataques de vírus, vermes, cavalos de Tróia e assemelhados. Silvervale é uma variante da tecnologia Vanderpool aplicada a servidores. E Vanderpool é uma tecnologia revolucionária que permite a criação de “partições” em um microprocessador, de tal forma que um sistema operacional ou aplicativo diferente rode em cada uma delas, de forma totalmente independente das demais. Em resumo, elas permitem a criação de “máquinas virtuais” formalmente independentes, porém usando o mesmo microprocessador. Como eu disse, nenhuma delas é novidade e eu mesmo já escrevi sobre o assunto. Quem desejar mais informações pode visitar meu sítio em < www.bpiropo.com.br >, entrar na seção “Pesquisar” e efetuar uma busca com o nome das tecnologias “Hyperthreading”, “LaGrande” e   “Vanderpool” (Silvervale nada mais é que uma extensão da tecnologia de virtualização Vanderpool para servidores). Restam então, de novidade, as duas últimas “Ts”, EM64T e AMT. Vamos a elas.

EM64T (Extended Memory 64 Technology) é, na verdade, uma “recauchutagem” da boa e velha IA32, ou Intel Architecture 32 bits, que integra as linhas Pentium e, sobretudo, Xeon. A nova tecnologia consiste em um conjunto de inovações que estão sendo adicionadas ainda este ano à linha de processadores para servidores da Intel que ainda usa a AI32. Ela aumentará significativamente o tamanho máximo da memória que pode ser endereçada, fazendo com que os processadores tenham um desempenho semelhante ao da linha Itanium que adota a moderna IA64, ou arquitetura de 64 bits da Intel. Ela pode ser encarada sob dois pontos de vista. Há quem ache, como a Intel, que se trata de um esforço para melhorar o desempenho de seus velhos, bem sucedidos, conhecidos e confiáveis processadores Xeon, concebidos para equipar servidores de alto desempenho, a custos mais baixos que os necessários para migrar para o Itanium. Mas também há quem ache, como a maior parte dos especialistas de fora da empresa, que se trata de um esforço da Intel para superar seu desapontamento com as minguadas vendas do Itanium e disputar o mercado, em um nível de preços competitivos, com bem sucedido Athlon 64 de sua concorrente AMD. Escusado dizer que os dois pontos de vista não são mutuamente exclusivos. Ao contrário: ambos estão corretos.

A EM64T foi anunciada pela Intel em fevereiro deste ano para integrar seus novos processadores com nome de código Nocona (um Xeon vitaminado), Potomac (um Xeon ainda mais vitaminado) e Prescott (o novo núcleo do Pentium). A EM64T não é a mesma tecnologia usada no projeto do Itanium, portanto os processadores que ela integrará não são “de 64 bits”. Como se trata de uma extensão da arquitetura IA32 de 32 bits, os aplicativos desenvolvidos para a linha Itanium (cujo conjunto de instruções, ou “instruction set”, é diferente) não rodarão nela. Como endereçamento de memória exige total participação do sistema operacional, os SO atualmente disponíveis não suportarão a EM64T. Mas a Microsoft já anunciou que espera liberar no início do próximo ano uma versão de Windows inteiramente compatível (veja em
< http://www.microsoft.com/presspass/press/2004/feb04/02-17ExtendedTechnologyPR.asp >)
e tanto a SuSE quanto a Red Hat anunciaram igualmente para breve versões de suas distribuições Linux para a EM64T.

Uma das vantagens da EM64T é que (fortalecendo o ponto de vista dos especialistas de fora da empresa) ela suportará grande parte dos aplicativos desenvolvidos para os processadores de 64 bits da concorrente AMD (informação obtida na própria Intel em
< http://www.intel.com/technology/64bitextensions/faq.htm >),
assim como muitos dos aplicativos atuais desenvolvidos para as arquiteturas de 32 bits Intel e AMD, se bem que com algumas restrições. E funcionará em perfeita harmonia com a tecnologia HT. Se você está interessado em detalhes técnicos da EM64T, encontrará os dois volumes do “Guia do Programador da EM64T” em < http://www.intel.com/technology/64bitextensions/ >.

Finalmente vamos à última – e mais recente – “T”, a Active Management Technology, ou AMT. Ela é parte da “arquitetura de referência embutida IT” (Embedded IT Reference Architecture) da Intel, cujo objetivo é “prover gerenciamento proativo, disponibilidade do sistema, proteção contra produtos mal intencionados (“malware”) e segurança da informação”.

A AMT inclui melhorias no hardware e software que asseguram acesso e gerenciamento de sistemas em rede independentemente de seu estado (funciona mesmo que a estação conectada à rede esteja desligada). Seu alvo são os gerentes de tecnologia, responsáveis por sistemas em rede, que terão novos (e revolucionários) recursos para resolver velhos problemas.

Segundo a Intel, a AMT permitirá: comunicação com a estação de trabalho mesmo que esteja desligada ou que o sistema operacional não esteja operativo; um agente de inventário resistente a ataques que trabalha junto ao BIOS para garantir a atualidade das informações; um espaço de memória não volátil que permite acesso às informações vitais mesmo com o sistema desligado; redirecionamento do “console” (vídeo e teclado) que permite acesso remoto para configuração de BIOS e recuperação ou atualização do sistema; opções de controle remoto, incluindo inicialização remota da máquina; uma interface de programação de aplicativos (API) padronizada que permitirá a terceiros desenvolverem módulos que se aproveitam das facilidades da AMT.

A AMT é uma tecnologia voltada essencialmente para uso corporativo. Seu objetivo é poupar trabalho e recursos aos gerentes de sistemas (a própria Intel estima que seu uso propiciará a ela mesma uma economia anual de 16 milhões de dólares em gerenciamento de sistemas e suporte a clientes), reduzindo o custo total de propriedade (TCO, ou Total Ownership Cost) e permitindo que os gerentes focalizem prioritariamente iniciativas voltadas para os negócios em vez de consumirem a maior parte de seu tempo “apagando incêndios”.

Talvez a parte mais interessante da AMT seja sua habilidade de permitir o gerenciamento mesmo de máquinas desligadas. Imagine que um gerente precise distribuir com urgência uma atualização de segurança do sistema operacional em uma rede de centenas de máquinas. Com a AMT ele o fará sabendo que todas as máquinas receberão a atualização, mesmo aquelas conectadas à rede mas que eventualmente estejam desligadas no momento em que ela foi distribuída. A atualização será armazenada em um espaço de memória não volátil (por exemplo, um módulo de “flash memory”) que, assim que o micro for religado, repassará as informações durante a inicialização, antes mesmo da carga do sistema operacional.

O IDF São Paulo 2004 foi uma iniciativa muito bem-vinda. A Intel prometeu que o evento se repetirá ano que vem.

Tomara.


B. Piropo