Sítio do Piropo

B. Piropo

< Jornal Estado de Minas >
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01/09/2005

< IDF San Francisco >


O Intel Developer Forum (IDF) é um evento organizado pela Intel para aproximar seus técnicos e executivos da comunidade de desenvolvedores para a plataforma Intel e da imprensa internacional. O IDF percorre o mundo, com edições na Ásia, Europa e Américas. Ano passado o Brasil foi incluído no circuito e teremos em dezembro, em São Paulo, a segunda edição brasileira do IDF. É nele que a Intel divulga seus planos para o futuro.

Há exatamente uma semana encerrou-se mais uma edição do IDF em San Francisco, na Califórnia. Seu mote, segundo Jeff McCrea, Presidente da Intel Americas, foi ambicioso. “A melhor maneira de prever o futuro é inventá-lo”, disse ele ao abrir o evento de quatro mil participantes representando mais de mil e quinhentas empresas que assistiram a 143 apresentações sobre os produtos, os planos e as pesquisas da Intel na área das novas tecnologias.

O campo coberto pelas palestras de abertura (“keynotes”), apresentações, sessões técnicas, mesas redondas e debates foi muito amplo e, na maior parte dos casos, excessivamente técnico como é de se esperar de um evento voltado para desenvolvedores. Mas uma análise global do que foi mostrado no último IDF leva à conclusão que a estratégia da Intel para os próximos anos está apoiada em dois pontos básicos: o projeto de novos processadores de múltiplos núcleos e baixo consumo de energia e o desenvolvimento de uma linha de produtos voltada para o entretenimento, consubstanciada pela tecnologia que recebeu o exótico nome de “Viiv”.

A Nova Arquitetura Intel

O mote que orientou o desenvolvimento da nova microarquitetura Intel é “desempenho por watt”, deixando entrever que foi concebida para tornar os computadores menores e otimizar o uso de energia. Os primeiros exemplares de processadores nela baseados estarão disponíveis no final do próximo ano.

Figura1: Pat Gelsinger exibindo o wafer do processador Tulsa de 65 nm

Tornar processadores mais poderosos e, ao mesmo tempo, fazê-los consumir menos energia é uma façanha e tanto. Que, segundo Paul Ottelini, Presidente e principal executivo (CEO) da Intel, será alcançada combinando o poder de processamento da microarquitetura NetBurst dos processadores Pentium de alto desempenho com a economia de energia da Banian, adotada nos processadores para dispositivos móveis. Uma combinação que multiplica por dez a relação entre capacidade de processamento e dissipação de energia. Ou seja: seus microprocessadores consumirão um décimo da potência dos equivalentes atuais de mesmo poder de processamento ou terão um poder de processamento dez vezes maior que os equivalentes atuais de mesmo consumo de potência (a potência média dissipada pelos processadores de alto desempenho da linha Intel cairá da faixa dos 110 a 130 Watts para o patamar dos 65 Watts e alguns processadores para dispositivos móveis consumirão menos de 5 Watts). A Intel tem hoje em desenvolvimento cerca de quinze projetos baseados na nova arquitetura, dez deles contemplando processadores de núcleo quádruplo.

No que toca a núclos múltiplos, a tendência parece irreversível. Hoje a Intel já oferece dois microprocessadores de duplo núcleo: Pentium D e Extreme Edition. E tem em desenvolvimento quinze produtos de núclos múltiplos, dos quais dez de núcleos quádruplos. Já na edição anterior do IDF San Francisco, em março deste ano, a Intel afirmou que esperava que até o final do próximo ano as porcentages de seus processadores comercializados para microcomputadores (móveis ou de mesa) e servidores seriam, respectivamente, 70 e 85 porcento. Nesta edição não apenas reafirmou essa previsão como acrescentou que até o final de 2007 essas porcentagens deverão subir, respectivamente, para 90 e cem porcento.

Para quem gosta de detalhes técnicos: a nova microarquitetura incorporará avanços tecnológicos notáveis, como um “engine” de alto desempenho para execução de instruções fora de ordem (OOO, de “Out Of Order”, possibilidade de executar algumas instruções antes da ordem predeterminada oferecida por alguns processadores de múltiplas linhas de processamento quando uma delas está livre), gerenciamento avançado de energia (capacidade de regular o consumo de energia de acordo com a demanda do processamento, atualmente exclusiva da linha de processadores para dispositivos móveis), melhorias no acesso à memória e avanços no sistema de “cache” em processadores de núcleos múltiplos.

No início do próximo ano a linha de produção de algumas fábricas da Intel adotará a tecnologia de fabricação de processadores com camada de silício de 65 nm (nanômetros, ou milionésimos de milímetro), o que permitirá aumentar significativamente o número de transistores em cada processador. O processo de fabricação já foi objeto de testes de laboratório bem sucedidos. Tanto assim que, na palestra de abertura do IDF, Paul Otellini mostrou orgulhoso o primeiro “wafer” de 65 nm fabricado pela Intel. Um objeto circular de trinta centímetros de diâmetro com algumas centenas de microprocessadores prontos para serem cortados e encapsulados. Nele, afirmava Otellini, havia 250 bilhões de transistores.

Viiv

Viiv (que, segundo a Intel, pronuncia-se “váiv” e rima com “five”) é uma tecnologia concebida o que a Intel chama de “lar digital” (“digital home”). Ela estará presente em uma coleção de dispositivos eletrônicos voltados tipicamente para uso doméstico e entretenimento, principalmente música, vídeo, fotos e jogos. Em suma: aquilo que a indústria convencionou chamar de CE, ou “Consumer Electronics”.

Seu lançamento foi feito na palestra de abertura do segundo dia do IDF por Don McDonald, Presidente e Gerente Geral do Digital Home Group da Intel. Segundo ele, trata-se da primeira plataforma voltada desde o nascimento para o “lar digital”.

Figura2: Viiv Golden Gate, e B.Piropo

Pelo que foi possível perceber, Viiv não é exatamente uma tecnologia mas um conceito. Algo semelhante ao adotado pela linha Centrino. Não configura um produto específico nem uma única tecnologia, mas sim um conjunto de tecnologias incorporadas a diversos produtos com o mesmo fim. Da mesma forma que os produtos da linha Centrino são portáteis e voltados para comunicação sem fio, os da linha Viiv serão voltados para o entretenimento. De acordo com a definição da Intel, a tecnologia Viiv “marca o ponto de interseção para o qual convergem a inovação, um sem número de dispositivos digitais, entretenimento de primeira classe e o estado da arte em tecnologia para oferecer ao usuário seu entretenimento digital preferido”. Parece um conceito um tanto fluido, mas a tecnologia Centrino também parecia quando foi lançada e hoje domina o mercado de micros portáteis, portanto vale a pena esperar para ver.

Figura3: Viiv Golden Gate

O meio preferencial de operar os dispositivos Viiv será por controle remoto. Não obstante, terão grande poder de processamento e capacidade de comunicação com e sem fio. O que foi lançado no evento foi apenas a tecnologia, portanto ainda não há dispositivos Viiv no mercado. Mas a Intel apresentou o Golden Gate, um exemplo do que virá a ser o típico computador Viiv para uso doméstico. O protótipo, inteiramente funcional, capaz de exibir vídeos em alta resolução e jogos tridimensionais, vinha equipado com um microprocessador de duplo núcleo, alto desempenho e baixo consumo de energia (ainda em desenvolvimento com o codinome “Yonah”) e cabe em minha mão espalmada.

Figura4: Viiv Golden Gate

Neste ponto, talvez você esteja curioso para saber o que significa o termo “Viiv”. Eu também estou. Tanto assim que, na sessão de perguntas e respostas logo após a apresentação, perguntei ao próprio McDonald. Que, ao que parece, também não sabe. Disse ele, um tanto a contragosto, que se trata apenas de um termo cunhado pela área de mercadologia da Intel após pesquisas que consideraram a sonoridade, a receptividade e, sobretudo, a disponibilidade da marca em diversos países do mundo (para evitar disputas judiciais com marcas eventualmente existentes). Mas significado, mesmo, não tinha.

Figura5: Viiv Golden Gate

O que me fez lembrar com saudades da época em que as “marcas” da Intel eram “286”, “386” e assim por diante.

Bons tempos, aqueles...

B. Piropo