Sítio do Piropo

B. Piropo

< Jornal Estado de Minas >
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11/06/2009

< IDF 2008 San Francisco >

A Computex 2009 foi realizada durante cinco dias da semana passada, de segunda a sexta-feira, em Taipei, Taiwan. Ela é hoje a segunda feira de tecnologia do mundo em tamanho e importância e está na vigésima nona edição. Organizada pela associação local da indústria de informática, a TCA (Taipei Computers Association), com o decisivo apoio do governo local através de seu órgão de fomento do comércio exterior, Taitra (Taiwan External Trade Development Council), foi a única feira de informática realizada em 2009 que, embora não apresentando crescimento, também não “encolheu” significativamente: a diferença entre o número de expositores do ano passado em relação ao deste ano foi de apenas um por cento, chegando a exatos 1.712 empresas que ocuparam 4.498 estandes espalhados em cinco salões de exposição em quatro diferentes pavilhões visitados por cerca de cem mil participantes dos quais 35 mil do exterior. E esta aparente estagnação pode ser encarada como uma significativa vitória da Computex sobre as concorrentes CeBIT alemã e Consumer Electronics americana, cujas edições 2009 sofreram uma redução da ordem de 20% devido à crise econômica mundial. E olhe que a Computex 2009 teve ainda que enfrentar o desassossego internacional causado pela gripe suína: na escala de Tóquio, um passageiro do mesmo avião em que eu vinha para a feira foi retirado do vôo e, segundo consta, ficou em quarentena.

Figura 1: Pavilhão de Nangang, vista exterior

Três dos quatro pavilhões em que se realizou a feira ficam próximos do Taipei 101, um prédio de 101 pavimentos situado no centro comercial e imponente marco de Taipei. O quarto, maior, com estandes distribuídos em dois andares, é o novo Centro de Exposições de Nangang, distante poucos quilômetros. Os estandes foram distribuídos em doze conjuntos temáticos, cada um deles ocupando uma área delimitada em seu pavilhão. Uma providência singela que permite encontrar com facilidade qualquer estande, grande parte deles de empresas daqui de Taipei, como Acer, ASUS, Gigabyte, MSI, Transcend e Zyxel, mas com uma significativa presença de expositores internacionais, como AMD, Hitachi, Intel Microsoft, NVidia, SanDisk e outros, dentre os quais a solitária Bematech, única empresa brasileira presente no evento. Aliás, note-se que o Escritório Comercial que o Brasil mantém em Taipei (onde não pode manter embaixada devido a questões ligadas à política internacional) estava representado.

Figura 2: Interior do Hall 1, Pavilhão TWTC, vista parcial

A cerimônia de abertura foi breve. Yuen Chuan Chao, presidente da Taitra, fez uma curta saudação aos participantes, seguido do prefeito de Taipei e demais autoridades. Todos com um tom acentuadamente otimista, indicando que Taiwan pretende “tocar o barco” com crise ou sem crise e muita disposição. Isto posto, abriu-se a feira.

Paralelamente a ela foram realizados seminários técnicos onde, sintomaticamente, se discutiu principalmente a posição da indústria de informática e telecomunicações em face da crise. Por exemplo: o primeiro deles, “CEO Summit Forum”, reuniu os principais dirigentes de três poderosas empresas do setor, HP, ARM e Google para discutir a “computação verde”, um conjunto de providências para minorar as agressões da indústria de IT ao meio ambiente. Providências que incluem desde a redução da massa de metal e plástico nos produtos da HP até a concepção de microprocessadores menos poderosos porém altamente eficientes no que toca ao consumo de energia pela ARM e o desenvolvimento pela Google do Android, um pacote de software que inclui um sistema operacional, utilitários e aplicativos básicos para dispositivos móveis que considera a economia de energia um relevante fator de projeto.

Outro evento que chamou a atenção foi o “e21 Forum 2009” já em sua décima edição, que reúne executivos das principais empresas do setor para discutir progressos técnicos, onde o destaque foi a apresentação de Sean Maloney, vice-presidente executivo da Intel, que apresentou a nova família de processadores móveis de voltagem ultrabaixa que ensejarão a criação de micros portáteis (“notebooks”) com menos de uma polegada de espessura e baixíssimo consumo de energia e anunciou o lançamento dos processadores Lynnfield e Clarksfield para o segundo semestre deste ano e o do Westmere (o primeiro da geração de 32 nm) para o início do próximo. Além de exibir pela primeira vez a Pine-Trail, próxima geração da plataforma para o processador Atom que reduz para dois o conjunto de CIs do chamado “chipset” (um deles é o próprio processador, que incorpora o controle da memória e outras tarefas antes desempenhadas pela chamada “south bridge”).

Um ponto que chamou minha atenção foi o fato de que, mais que uma gigantesca exposição de tudo o que diz respeito à tecnologia de informática e telecomunicações, a Computex é sobretudo e principalmente uma feira de negócios. E chinês leva mesmo a sério essa coisa de fazer negócios. Tome como exemplo o “Procurement Match”. A idéia é de uma simplicidade franciscana: criar um ambiente onde compradores e vendedores em potencial possam se encontrar, trocar ideias e fechar negócios. O que nas demais feiras internacionais é feito informalmente em jantares e festas mas que aqui se faz de forma organizada, simples e direta como convém. E absolutamente despojada.

Funciona assim: compradores vão a um centro de informações e se registram. Vendedores, previamente inscritos, aguardam o contato. E a organização da Computex verifica quais deles têm interesses em comum e põe uns em contato com os outros. Mais simples, impossível.

Figura 3: “Procurement Match”

Veja a foto. O ambiente é simples. Não há luxo nem frioleiras. Tudo é feito de forma rápida e direta. Em primeiro plano, sentados, os representantes dos vendedores. Aquela senhora em frente ao quadro branco põe ordem nas coisas, convocando os participantes para cada reunião. E, ao fundo, naquelas dezenas de mesas, realizam-se os contatos comerciais.

Figura 4: “All In One” PCs em exposição

O resto é feira. Muitos computadores convertidos em central de entretenimento (aquilo que há uma década chamávamos de “multimídia PC” e que agora, revistos, melhorados e alguns altamente sofisticados, chamam-se AIO ou “All In One” PC), muita tela sensível ao toque, uma imensa quantidade de acessórios, gabinetes, placas de vídeo de altíssimo desempenho e dissipadores de calor com ventoinhas “incrementadíssimas”, tudo isto para satisfazer o mercado dos entusiastas de jogos e muita, mas muita mesmo, comunicação sem fio.

Figura 5: Dissipador e ventoinha para UCP da Amatech

Mas tudo isso ou já se pode ou dentro de um par de meses se poderá ver nas boas lojas perto de você. É só esperar um pouco porque, garanto: apesar da crise, o mercado promete.

B. Piropo