Sítio do Piropo

B. Piropo

< Coluna em Fórum PCs >
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29/10/2007

< Babylon 7: Traduzindo com um clique >


Há programas dos quais a gente gosta e há programas dos quais a gente não gosta. E há ocasiões em que somos obrigados, geralmente por honra da firma, a usar um programa do qual não gostamos. Contrariedade da qual somos compensados quando, afinal, podemos usar a vontade um programa do qual gostamos.

Em geral gosta-se de um programa porque ele é bom, ou seja, cumpre sua missão de forma rápida e eficaz. Mas esta não é a única razão. Há dezenas de outras. Senão, como explicar que, volta e meia, nos “apaixonemos” por um programa? Eu mesmo já tive um caso de amor mal resolvido com um programa extraordinário, o XTreeGold, velho e fiel companheiro dos tempos da interface de caracteres que, provavelmente, a maioria dos leitores que começaram a usar computador na era da interface gráfica nem ouviram falar. Paixão tão forte que me levou a escrever meu primeiro livro. Mas que não teve final feliz: seu alvo, o pobre XTG, morreu de morte matada há cerca de dez anos (a empresa que o desenvolveu foi comprada pela PCTools que foi comprada pela Symantec que descontinuou o programa sem mais aquela). Sinto falta dele até hoje.

E dos programas sobreviventes, quais os que mais gosto? Bem, eu poderia citar os integrantes do pacote Office, especialmente da versão 2007, que estão primorosos. Mas isso seria até covardia: o Office e os demais pacotes de aplicativos (como o Macromedia Studio, outro de meus prediletos, recentemente adquirido pela Adobe) têm centenas de programadores permanentemente dedicados a seu desenvolvimento e aperfeiçoamento, portanto não é de admirar que atinjam o nível de excelência.

E os outros programas, aqueles mais simples que nos ajudam no trabalho diário, qual deles o que mais me agrada?

No que toca a mim, não há muito que discutir. Há um programinha danado de útil, com uma cara simpaticíssima e, sobretudo, de uma formidável engenhosidade que conquistou meu coração à primeira vista. Justamente na entrevista coletiva promovida para seu lançamento lá pelo final dos anos noventa.

O programa chama-se Babylon e foi desenvolvido em Israel pela empresa de mesmo nome. Começou como um programa simples com um objetivo igualmente simples: ajudar os internautas monoglotas a consultar páginas da Internet escritas em idioma estrangeiro, principalmente o Inglês que dominava a rede. Tratava-se, portanto, de um dicionário, mas não foi isso que o tornou especial nem me fez cair de amores por ele. O que me chamou a atenção foi a forma pela qual ele admite consultas. No Babylon, não é necessário (embora seja possível) “entrar” com a palavra para conhecer sua tradução ou significado. Basta que a palavra apareça em qualquer ponto da tela para que se possa mover o cursor do mouse até ela e premir o botão central do mouse (no caso dos mouses de dois botões, a combinação Ctrl+botão direito) para que a janela do programa se abra mostrando o significado da palavra em português.

Parece coisa simples? Pois pense duas vezes. Porque esta forma de consultar o Babylon funcionava (e, naturalmente, ainda funciona na versão 7 que acabou de ser lançada) em qualquer palavra de qualquer janela de qualquer programa. Na verdade, até mesmo fora de um programa. Veja, na Figura 1, o que ocorreu quando eu cliquei sobre a palavra “Lixeira”, abaixo do objeto de mesmo nome, com o botão do meio do mouse (na verdade, com a “rodinha” do topo do mouse; desde que uso o Babylon, passei a usar apenas mouses de “rodinha” – ou “Wheel mouses” – para facilitar as consultas). Onde o Babylon foi buscar o termo para traduzi-lo (no caso, vertê-lo para o inglês, já que identificou a palavra como do idioma português)?

Figura 1: Consulta ao Babylon diretamente na Área de Trabalho.

Não percebeu a dificuldade? Pois eu explico. Se a palavra “Lixeira” se encontrasse, digamos, na janela de um editor de textos ou navegador da Internet, o programa poderia buscá-la na memória, embora não fosse tarefa fácil “fuçar” o trecho de memória reservado a outro programa. Mas pelo menos haveria uma explicação. Porém, no caso da Figura 1, a palavra foi exibida na tela diretamente pelo sistema operacional na chamada “Área de Trabalho”. E a “Lixeira” é um objeto do sistema, na verdade uma pasta muito especial. Onde encontrar seu nome em caracteres para poder traduzi-lo?

Só há uma possibilidade: na própria tela. No momento do clique o Babylon teria que perscrutar a memória de vídeo ao redor do cursor e “ler” a palavra que lá encontrasse.

Mas como ler uma palavra na tela de Windows? Afinal, por usar uma interface gráfica, tudo que aparece na tela de Windows é lá “desenhado”. Então como ler uma palavra cujos caracteres foram desenhados na tela e não representados a partir de um “código de caractere” como velho ASCII ou o novo Unicode?

Também só pode haver uma resposta: analisando a “imagem” da palavra e promovendo o reconhecimento ótico de seus caracteres para digitalizá-la. E somente então consultar o dicionário interno do programa.

Pois é justamente isto que o Babylon faz desde sua primeira versão. E é isto que tanto me fez admirar programeto. A idéia é um achado e desconheço coisa mais engenhosa no que toca à usabilidade: um clique sobre qualquer palavra da tela e seu significado aparece milagrosamente. Uma façanha e tanto.

Simplificadamente se pode considerar que o Babylon é um mecanismo de reconhecimento ótico de caracteres (“OCR Engine”) acoplado a um segundo mecanismo de armazenamento e consulta de dicionários. Sim, “dicionários”, no plural, porque ambos os mecanismos são tão eficientes e flexíveis que permitem que qualquer dicionário seja agregado ao programa, inclusive alguns especializados criados pelos próprios usuários. Basta criar o dicionário, formatar o arquivo da forma adequada e instalá-lo em uma máquina que abrigue o Babylon.

Sendo assim não é de admirar que nesses quase dez anos de vida o Babylon tenha evoluído um bocado desde sua primeira e singela versão concebida para ajudar os internautas. Tanto assim que hoje, já na sua sétima versão, o Babylon fornece resultados obtidos de mais de 1.300 (sim, por extenso, mil e trezentos) dicionários em mais de 75 idiomas. E sua função “smart dictionary” permite que ele reconheça sem qualquer intervenção do usuário qualquer um dentre 17 idiomas (dentre os quais o Francês, Russo, Chinês, Italiano, Alemão, Espanhol e, naturalmente, Português) e providencie sua tradução para qualquer outro à escolha do freguês.

Ran Ohayon, Vice-Presidente da Babylon, esteve no Brasil para o lançamento da versão sete e tive a oportunidade de entrevistar a ele e a Raphael Cohen, Diretor da VM Tecnologia que representa o Babylon no Brasil. E ambos revelaram alguns números interessantes sobre o programa, especialmente no que toca ao mercado Brasileiro.

Segundo Ohayon, o Brasil é o quarto mercado do Babylon, sendo superado apenas pelos EUA, Israel e Alemanha. E olhe que não é um mercado pequeno: são 37 milhões de usuários espalhados por todo o mundo.

O sítio internacional do programa, em < http://www.babylon.com/ >, recebe cinco milhões de visitas mensais das quais 6% são provenientes do Brasil (que, além dele, oferece um sítio em português em < http://www.babylon.com.br >). Destes cinco milhões, cerca de seiscentos mil baixam o programa para testes e quase vinte mil pagam a licença. Resultado: apenas em 2007 foram vendidas 30 mil novas licenças para o Brasil exclusivamente pela Internet. Se levarmos em conta que as vendas via rede correspondem a apenas um terço da receita da Babylon (a maior fatia consiste na venda de licenças em bloco para empresas, muitas das quais incorporam ao Babylon seus próprios dicionários de termos técnicos), dá para perceber que não é à toa que o programa vem conquistando cada vez maior número de fãs.

Mas quais são as novidades da versão 7? Se você quiser vê-las em vez de ler sobre elas, veja a < http://www.babylon.com/systems/pages/demo.html > demonstração oferecida pela empresa em animações tipo “flash” (infelizmente apenas em inglês).

Mas ainda assim vale a pena comentá-las.

Uma delas é a integração da correção ortográfica automática durante a digitação em programas como gerenciadores de correio eletrônico, blogs, formulários, mensagens instantâneas tipo MSN e praticamente tudo mais que aceitar entrada de texto. O que permite algo que até agora era impossível: correção ortográfica de textos de mensagens de correio eletrônico em sítios tipo “webmail” como GMail e Hotmail enquanto se digita a própria mensagem. O Babylon identifica o idioma e não apenas marca as palavras como incorretas como oferece sugestões, traduções e significados. Uma função que atua mesmo quando se insere uma palavra, digamos, em inglês, em um texto em português. Se a palavra estiver escrita incorretamente, seja qual for o idioma, é sublinhada em vermelho e a correção é sugerida.

Além disso a nova versão incorporou a função “auto-completar”. Basta começar a digitar que, se a função estiver ativa, Babylon prevê a palavra ou expressão e oferece sugestões para completá-la.

E, finalmente, nestes tempos em que tudo é “personalizável”, a janela do Babylon passou a ajustar-se ao gosto do usuário, que agora pode escolher as cores da moldura, o fundo, tamanho dos caracteres, transparências e coisas que tais (veja Figura 2).

Figura 2: personalização do Babylon.

Como nas versões mais recentes, para quem permanece conectado à Internet o Babylon 7 continua oferecendo acesso gratuito à Wikipedia, além do chamado acesso “Premium” (através do pagamento de um adicional à assinatura) a um grande número de enciclopédias, muitas delas de excelência reconhecida como as Britannica, Oxford, Merrriam Webster, Pons, Larousse, e Langenscheidt. E tudo isso com o mesmo clique único do mouse.

Não é de admirar que o Babylon seja hoje o líder mundial do mercado de dicionários e programas de tradução. E que eu já não consiga viver sem ele...

 

B. Piropo