Sítio do Piropo

B. Piropo

< Coluna em Fórum PCs >
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07/01/2008

< Dois Monitores I: Por Que? >


Windows começou a suportar a possibilidade de estender a Área de Trabalho para dois monitores a partir da versão 98. Eu uso dois monitores em minhas máquinas desde 1999,quando publiquei, em dezembro, uma série de quatro colunas sobre o assunto. Revendo as colunas (ainda disponíveis na < http://www.bpiropo.com.br/escritos.htm > seção “Escritos” do Sítio do Piropo, “Coluna do Piropo / Trilha Zero – 1999”) percebi que a coisa, naquela época, era tão complicada que duas das colunas visavam exclusivamente a solução dos possíveis problemas encontrados pelos usuários que se arriscavam a instalar um segundo monitor. Hoje tudo ficou mais simples e o uso de dois monitores facilita tanto a vida do usuário que resolvi voltar ao assunto após instalar o presente de Natal que dei a mim mesmo, dois novos monitores de 22”.

Antes de 1998 o uso de dois monitores não era impossível. Mas exigia tanto malabarismo e impunha tantas condições que, na prática, a façanha tornava-se quase inalcançável. Tanto assim que até então eu jamais tinha visto um micro usando dois monitores. Nas primeiras versões de Windows, até e inclusive Windows 95, tanto quanto eu saiba era mesmo impossível. Nos tempos do DOS era possível, desde que o programa (e não o sistema operacional) suportasse a função. O que tornava o uso de dois monitores um negócio um bocado especializado. Por exemplo: os bons ambientes de programação, incluindo a formidável série “Turbo” da Borland (Turbo Assembly, Turbo Pascal e Turbo C), permitiam o uso de dois monitores para programar. Em um deles o programador exibia o depurador e o código fonte que estava sendo editado e, no outro, “rodava” o programa já compilado. Aparecia um erro? Tudo bem, não era preciso recarregar coisa alguma. Bastava, no outro monitor, verificar a natureza do erro no depurador e alterar o código fonte no editor. Quem já programou usando esta técnica (ou seja, antes dos ambientes de programação “visuais”) pode entender o quanto isso facilitava o trabalho. Mas era um treco complicado, caro, e só fazia sentido em máquinas usadas quase que exclusivamente para rodar o programa que suportava a função, as máquinas “dedicadas“.

Mas quando Windows disseminou as noções de “interface gráfica” e “sistema operacional multitarefa” e criou o conceito de “Área de Trabalho”, novas portas se abriram. Inclusive a possibilidade de se usar dois monitores na operação diária do computador, o que pode facilitar extraordinariamente a vida do usuário.

Complicou? Expliquemos, então.

Antes de Windows a forma pela qual o usuário interagia com o computador (ou seja, a “interface” entre ambos) era a chamada “linha de comando”. Em uma tela que podia exibir apenas caracteres (quase sempre 25 linhas de 80 caracteres cada) aparecia um cursor piscando em frente a um designador de drive (indicando que estava pronto para receber comandos e por isso mesmo era conhecido por “prompt” de comando) e o usuário digitava, um a um, os comandos que pretendia que a máquina executasse. Para “rodar” um programa, digitava-se o nome de seu arquivo executável. Um errinho de digitação e surgia uma assustadora mensagem mencionando um certo “erro fatal” que, em suas primeiras aparições, me fez sentir terrivelmente culpado sem saber quem ou o que eu teria matado. Afinal, o erro havia sido “fatal”...

Figura 1: Tela de caracteres, interface tipo linha de comando.

O aspecto da tela era o mostrado na Figura 1 mas se você quiser ter o gostinho de como era a computação naqueles tempos heróicos, clique no menu Iniciar, “Todos os programas”, “Acessórios” e acione a entrada “Prompt de comando”. Passe para a tela cheia e tente executar uma tarefa simples, como copiar um arquivo de uma pasta em outra. E, se você começou a usar computadores nos tempos de Windows, renda graças ao Senhor, seja qual for sua religião (ou ao destino, se for agnóstico) por ter sido poupado da frustrante tarefa de ser obrigado a memorizar tantos comandos e parâmetros, muitos deles de sintaxe complicada e nome enganoso (como o malfadado RECOVER, de triste memória, que deitou a perder o conteúdo de tantos discos rígidos; mas isso é outra história...)

Em suma: no princípio, era o caos. Então Bill Gates disse: “faça-se a interface gráfica”. E a interface gráfica foi feita (como já mencionei em outra coluna, não foi exatamente assim que aconteceu mas é assim que o pessoal da MS gosta de pensar que foi). E os comandos desapareceram, sendo substituídos por graciosas figurinhas chamadas “ícones” espalhadas por toda a superfície da tela (ou arrumadinhas conforme o gosto de cada um) onde vaga um cursor mágico, que acompanha os movimentos de uma espécie de varinha de condão chamada mause na qual, com um simples premir de botão, ou “clique”, o feliz usuário dispara ações como invocar programas, imprimir documentos, exibir figuras e filmes. Isso tudo em um ambiente do qual os caracteres foram banidos (na verdade os que aparecem são “desenhados” na tela gráfica, o que tecnicamente é bastante diferente de exibi-los em uma tela de texto) e que, por isso mesmo, recebeu a designação de “interface gráfica”. Talvez a explicação não tenha sido lá muito técnica, mas dá uma boa idéia do que vem a ser uma “interface gráfica com o usuário” (em inglês, GUI, de “Graphic User Interface”).

Interfaces gráficas exigem muita capacidade de processamento, principalmente dos componentes responsáveis pelo “desenho” dos objetos na tela (aquilo que tecnicamente se denomina “renderização”). Por isso, a despeito de algumas tentativas canhestras feitas ao longo dos anos 80 do século passado, como GEM e outras, incluindo as versões de Windows anteriores à 3.0, foi somente a partir desta última que o uso da interface gráfica se firmou na linha PC (micros como Amiga e MacIntosh usaram interfaces gráficas antes do PC).

Para rodar Windows 3.0 era necessário pelo menos um 386, mas ficava miseravelmente lento. O microprocessador 486, com seu co-processador matemático integrado e um cache interno de 8 KB (imaginem...) era o mínimo necessário para uma operação decente. Se nada disso aí em cima fez muito sentido para você, não se incomode. Apenas tenha em mente que a interface gráfica exigia uma máquina razoavelmente poderosa. E as máquinas razoavelmente poderosas da época (nos albores dos anos 90, há quase duas décadas, portanto) eram capazes de uma segunda façanha muito, mas muito interessante mesmo: a multitarefa, ou seja, a capacidade de rodar (ou simular que rodava) mais de um programa simultaneamente.

Até hoje tem gente que associa “multitarefa” a “interface gráfica”, como se uma dependesse da outra. Não depende. Há (ou melhor, houve) sistemas multitarefa com interface de caracteres. O melhor exemplo foi a versão 1.0 do OS/2, um sistema operacional verdadeiramente multitarefa (ele mesmo administrava a alternância entre programas, uma técnica denominada “multitarefa preemptiva). Porém o mais popular não foi propriamente um sistema operacional, mas um programa gerenciador de multitarefa que era executado sobre o DOS. Seu nome era “Deskview”, foi desenvolvido pela Quarterdeck e, na minha opinião, foi uma das peças de software mais magníficas jamais desenvolvidas. Mas foi com Windows 3.0 (que, na verdade, não era um sistema operacional mas sim uma interface para o DOS e cuja multitarefa dependia da cooperação entre programas, e por isso mesmo era chamada de “multitarefa cooperativa”) que a multitarefa tornou-se conhecida. Por isso a confusão. É que tanto a execução da multitarefa quando o uso da interface gráfica dependiam decisivamente da ação do microprocessador. E foi com a dupla 386/486 que elas se popularizaram. Ou seja: o fato da multitarefa e da interface gráfica terem surgido praticamente juntas é uma mera conseqüência de ambas dependerem de características avançadas dos mesmos processadores.

Destrinchados os conceitos de “interface gráfica” e “multitarefa”, falta apenas explicar o de “Área de Trabalho”. Este foi o nome dado pela Microsoft a uma região bidimensional onde se localizam os ícones que representam os diversos “objetos” (programas, documentos e dispositivos, como impressoras, redes e coisas que tais) que utilizamos em nossa faina de operar um computador. A “Área de Trabalho” é aquilo que Windows exibe na tela. Nas próprias palavras da MS, obtidas da “Ajuda” de Windows, ela é definida como “uma tela do computador que simula o tampo de uma escrivaninha real. Você pode organizar ícones na área de trabalho, como Lixeira e atalhos para programas, arquivos, pastas e vários tipos de documento, como faria com objetos reais sobre uma escrivaninha”. Trata-se, portanto, de uma das muitas “metáforas” de Windows. De acordo com ela, a tela de seu computador simula a superfície de sua escrivaninha, onde se acomodam os objetos com os quais você trabalha (desde que você observe o hábito pouco higiênico de manter uma lixeira sobre o tampo de sua mesa de trabalho; mas afinal trata-se de uma metáfora, e às metáforas tudo se permite).

Pois muito bem. Olhe para o tampo sua mesa de trabalho. Não a de Windows, a real. Veja quanta coisa se acumula sobre ela. Pense que quanto mais “apertada”, ou seja, quanto menor sua área, maior a dificuldade de arrumá-la e mais “bagunçada” ela fica. Você não gostaria de aumentá-la para ganhar mais espaço e poder “se espalhar” com mais conforto?

Pois é aí que entram os dois monitores.

Ainda não me fiz entender? Pois então dê uma olhada na Figura 2.

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Figura 2: Dois monitores.

Ela mostra parte de minha mesa de trabalho (a real) sobre a qual podem ser vistos, além de algumas bugigangas, os alto-falantes, o teclado, o mause e os dois monitores. Que, por sua vez, mostram minha “Área de trabalho” (a de Windows), que se estende de um a outro.

Qual a vantagem disso? Por que usar um monitor adicional?

Bem, para entender é preciso saber como a coisa funciona na prática.

As duas telas se comportam como se uma fosse a extensão da outra. O mause se movimenta livremente de uma para a outra como se não houvesse qualquer descontinuidade entre elas (na verdade, do ponto de vista lógico, não há; a descontinuidade é apenas física e deve-se à presença das bordas plásticas dos monitores). O efeito prático é que ambos os monitores formam uma única tela. Não obstante, as janelas ajustadas para “tela cheia” enchem apenas a tela de um deles.

Portanto é possível executar dois programas ao mesmo tempo, ambos em tela cheia, cada uma delas exibida em um dos monitores. Configuração à qual eu recorro bastante quando edito textos que exigem freqüentes consultas à Internet: abro em um dos monitores o Word em tela cheia e no outro o Internet Explorer também em tela cheia. E sigo efetuando as pesquisas nas diversas abas do IE7 enquanto edito o texto no Word.

Outra possibilidade interessante é usar um programa qualquer em tela cheia em um dos monitores e, ao consultar sua “Ajuda”, arrastar a janela correspondente para o segundo monitor – o que permite executar procedimentos passo-a-passo descritos na janela da ajuda observando ao mesmo tempo as janelas do programa e da ajuda sem a necessidade de “saltar” de uma para outra.

Como, do ponto de vista lógico, ambos os monitores são parte de um mesmo plano contínuo, qualquer objeto exibido em um deles pode ser movido para o outro simplesmente arrastando-o com o mause. Isso vale tanto para ícones como para janelas. É mesmo possível exibir parte de uma janela em um dos monitores e parte no outro. E há situações em que isto é conveniente (por exemplo uma planilha que contém dados em dezenas de colunas e se deseja vê-las todas ao mesmo tempo).

Mas as facilidades trazidas com o uso de dois monitores vão além de simplesmente aumentar a superfície útil da “Área de Trabalho” para fornecer mais espaço. Um exemplo típico são os programas que exigem o uso freqüente de barras de ferramentas ou janelas auxiliares como os programas de edição gráfica ou de animação.

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Figura 3: Movendo janelas auxiliares para o segundo monitor.

Veja o efeito na Figura 3. Em sua parte superior, no monitor da esquerda, vê-se o programa gráfico Expression Design na sua configuração padrão, com duas janelas auxiliares ocupando a faixa vertical direita da janela do programa, aberta em tela cheia no monitor da esquerda. E repare, na parte inferior da figura, o que ocorre ao se tornar flutuantes as janelas auxiliares e arrastá-las para o monitor da direita. Veja como se ganha área útil no painel de edição da figura. Para quem usa programas de animação, como o “Flash” da Adobe, o ganho é espantoso já que se pode mover praticamente tudo, inclusive a “linha do tempo”, para o segundo monitor. O ganho de espaço na área de edição (“palco”, para os desenvolvedores Flash) é brutal.

As vantagens são tantas que não dá para enumerá-las todas. Mas garanto que depois que você se acostumar com elas, dificilmente se habituará a trabalhar com um único monitor. Coisa que me vem à mente sempre que, durante uma viagem, preciso usar meu computador portátil (“notebook”).

Como eu mencionei no início da coluna, para desfrutar deste conforto há alguns anos era preciso gastar um bocado de dinheiro comprando não apenas um segundo monitor como também uma placa de vídeo onde conectá-lo. Além do trabalho danado que se tinha para configurar o sistema e resolver os problemas que quase inevitavelmente surgiriam.

Hoje, as coisas são diferentes. Se você dispõe da placa de vídeo adequada, tudo o que precisa é comprar um segundo monitor, ligá-lo e configurar o sistema operacional para usá-lo. Dificilmente ocorrerá algum problema e você estará imediatamente apto a desfrutar de todas as vantagens de usar dois monitores.

E tem mais: os monitores não precisam ser idênticos. Na verdade nem mesmo precisam ser do mesmo tamanho. E podem ser de tipos distintos. Portanto, se neste Natal você resolveu dar-se de presente um novo monitor LCD e ainda não se desfez do antigo, de tubo de raios catódicos (CRT, do inglês “Cathode Ray Tube”), nada o impede de experimentar a configuração apenas com o que já tem em casa (dependendo, é claro, de sua controladora de vídeo). É só conectar, configurar e testar.

Como fazê-lo?

Bem, este é justamente o assunto da próxima coluna.

 

B. Piropo