Sítio do Piropo

B. Piropo

< Coluna em Fórum PCs >
Volte
14/01/2008

< Dois Monitores II: Como >


Semana passada discutimos algumas das razões que podem levar um usuário a utilizar dois monitores em uma mesma máquina. Hoje veremos como fazer isso.

Como mencionado na coluna anterior, usar dois monitores não é novidade. Mas a forma de fazê-lo evoluiu tão rapidamente nos últimos tempos que, se você tem o equipamento adequado (e há uma boa chance que você o tenha mesmo sem se ter dado conta disso), pouco terá que fazer além de conectar um cabo e efetuar alguns ajustes na configuração da máquina. Vejamos como isso pode ser feito.

A “saída de vídeo” para um monitor é gerada por uma controladora ou “placa” de vídeo, um dispositivo que recebe instruções da UCP e as interpreta de modo a transformá-las em uma matriz de pontos luminosos de diferentes cores a serem exibidos em locais específicos da tela para formar uma imagem (lembre que, quando se usa uma interface gráfica como Windows, mesmo uma tela de texto pode ser considerada como uma imagem gráfica na qual as letras foram “desenhadas”). Tudo isto é codificado pela controladora em sinais elétricos que, através do cabo, são enviados ao monitor que os interpreta e exibe na tela para formar a imagem.

O número de pontos em que uma imagem pode ser subdividida denomina-se “resolução”. Estes pontos chamam-se “pixels”, uma palavra inglesa já absorvida pelo idioma português que deriva da aglutinação de “Picture Element” ou “elemento de imagem”. Quanto maior a resolução, mais pixels representarão a mesma área da imagem e mais nítida ela será. Já a riqueza cromática, ou seja, o número de tons da mesma cor que podem ser representados, depende da forma como foi codificada a cor de um determinado pixel (mais especificamente, de quantos “bits” são usados para representá-la) e denomina-se, naturalmente, “número de cores”. Tanto a resolução da imagem quanto seu número de cores são ajustados através das configurações de vídeo do sistema operacional.

Quanto maior a resolução e o número de cores, melhor será a qualidade da imagem exibida, porém maiores serão as exigências sobre o hardware da controladora de vídeo e do monitor. Portanto, se você deseja uma imagem de alta resolução (digamos, superior a 1024 x 768 pontos; resoluções são expressas pelo número de pixels das colunas e linhas que formam a imagem) e mais de 65.536 cores (ou “64 K” cores), tanto sua placa de vídeo quanto seu monitor devem ser capazes de suportar a combinação desejada de resolução e número de cores. Por outro lado, se a placa de vídeo ou o monitor não suportarem altas resoluções e grande número de cores, você terá que se contentar com o maior valor que ambos possam suportar. Mas, mesmo com limitações, se você usa uma versão de Windows posterior a Windows 2000, qualquer placa de vídeo pode ser usada para suportar um segundo monitor e estender para ele a Área de Trabalho – dentro, naturalmente, dos limites de resolução e número de cores suportadas por ela e pelo monitor. Complicou? Então esqueça. Lembre-se apenas que se você tem uma placa de vídeo capaz de gerar uma imagem que será exibida em um monitor, ambos poderão ser usados para exibir uma tela adicional.

Incidentalmente: os sistemas operacionais que suportam nativamente a extensão da área de trabalho para um segundo monitor são Windows a partir da versão 2000 (a versão 98 oferece um suporte limitado, porém satisfatório), Mac OS a partir da versão X e as versões mais modernas do X Windows System (usado para desenvolver as interfaces gráficas da maioria dos sistemas operacionais derivados do Unix). Antes disso a maioria dos computadores poderia usar dois monitores, desde que dispusessem de duas controladoras de vídeo, porém não era possível estender a Área de Trabalho para ambos. O que ocorria então é que a mesma imagem aparecia nas duas telas. Isto se chama “modo clone” ou “espelhamento” e pode ser útil em certas situações (por exemplo, apresentações onde um dos monitores fica de frente para o palestrante e o outro, de maiores dimensões, fica voltado para a platéia). Por isso, mesmo as placas modernas, com duas saídas, podem ser ajustadas para operar em modo clone.

Mas o que nos interessa mesmo é o “modo estendido”, no qual se pode estender a Área de Trabalho para o segundo monitor como se uma superfície adicional fosse agregada à Área de Trabalho original.

Se você usar dois monitores de igual tamanho, ajustados para operar na mesma freqüência vertical, mesma resolução e mesmo número de cores, obterá um efeito similar ao oferecido por um único monitor com área correspondente à das duas telas justapostas colocando um ao lado do outro, como na Figura 2 da coluna anterior. Naturalmente será preciso se abstrair da faixa vertical correspondente à moldura lateral dos monitores, que se situará justamente no meio da imagem. Portanto, se você pretende comprar novos monitores para usá-los nesta configuração, escolha monitores com as bordas laterais tão finas quanto possível e evite os que trazem alto-falantes embutidos nestas bordas.

Mas para usar dois monitores não é preciso que eles sejam iguais, tenham as mesmas dimensões, operem na mesma freqüência nem que estejam ajustados para a mesma resolução e mesmo número de cores. Nem é necessário que a imagem “lógica” seja contínua, estendendo-se para a lateral (na verdade, como veremos mais tarde, ela pode estender-se para cima, para baixo ou na diagonal, se bem que neste caso é necessário alguma perícia para fazer o ponteiro do mause passar de uma tela para outra). E, como também veremos mais tarde, dependendo do software que acompanha a controladora de vídeo pode-se mesmo fazer com que um monitor seja visto no usual formato “paisagem” e o outro no formato “retrato” (com a maior dimensão na vertical).

Em suma: de acordo com sua vontade e necessidades (ou das restrições e facilidades do hardware disponível), você terá uma enorme gama de opções de configuração. E, naturalmente, não precisará se limitar a dois monitores. Windows Vista, por exemplo, aceita até um total de 64 monitores. Quer dizer: dá para estender a área de trabalho para uma matriz de 8 x 8 monitores. Usando monitores de tela larga (“wide screen”) e 22” o resultado seria uma tela virtualmente contínua de 2,40 m de altura por 4,00 m de largura (lembre que o suporte do sistema operacional não basta; as placas de vídeo comuns aceitam no máximo dois monitores, de modo que para ultrapassar este número você precisará de mais de uma placa de vídeo e de uma placa-mãe que as aceite). Dá para revestir uma parede inteira... Para quem gosta de jogos e tem muita, mas muita grana sobrando, há de ser uma beleza...

Mas ponhamos novamente os pés no chão e vamos ver como instalar e configurar um sistema para dois monitores da forma mais simples: quando se dispõe de uma controladora de vídeo do tipo “dual”, ou seja, na qual podem ser conectados os dois monitores.

Antes disso, porém, vale mencionar que esta não é a única forma de fazer isso. Há outras. Se sua controladora de vídeo aceita apenas um monitor (inclusive se for uma controladora incorporada à própria placa-mãe ou “on board”) é possível acrescentar uma segunda placa no conector (“slot”) AGP, PCI-Express ou até mesmo PCI (se você ainda encontrar, no mercado ou na sucata, uma controladora que use este padrão de vídeo). E isto pode ser feito mesmo que você ainda use, quem sabe, o velho Windows 98. Nesse caso, sugiro que consulte as quatro colunas sobre o assunto publicadas por mim no Globo e ainda disponíveis na seção < http://www.bpiropo.com.br/escritos.htm > “Escritos”, “Coluna do Piropo/TrilhaZero - 1999”. Elas foram publicadas de 22/11 a 13/12/1999 e descrevem passo a passo o longo e por vezes sofrido procedimento para instalar e configurar tudo isso. Porém, considerando-se que ultimamente as placas duais tornaram-se tão fáceis de encontrar e seu preço caiu tanto, vamos nos restringir aqui apenas a elas.

Como saber se a sua placa de vídeo suporta dois monitores? Bem, não é necessário ser um perito em hardware para descobrir. Basta olhar para a parte traseira da placa, onde se encaixa o cabo do monitor. Se, na barra metálica, você encontrar dois conectores (ou, caso a placa já esteja instalada no micro, se houver um conector “sobrando”), a placa é do tipo dual e pode receber dois monitores. Veja duas delas na Figura 1 (já falaremos sobre as diferenças entre elas no que diz respeito a seus conectores).

Figura 1: placas do tipo dual
(ATI Radeon X1950 Pro e NVIDIA GeForce 7300).

Os três maiores fabricantes de placas gráficas Matrox, ATI e NVidia (agora AMD) usam designações proprietárias para indicar o suporte a dois monitores. A primeira chama de “DualHead”, a segunda de “Hydravision” e a última de “nView”. Não há diferenças essenciais entre elas, trata-se apenas dos nomes comerciais escolhidos para se referir à mesma função e ao programa fornecido juntamente com a placa para configurá-la. Portanto, se a placa dispõe dos dois conectores do tipo certo, e imensa a probabilidade de que ela suporte dois monitores.

Mas quais são os conectores do tipo certo? Repare, nas placas da Figura 1. Em ambas aparece, no centro da barra metálica traseira, um conector de formato circular. Este não é o “do tipo certo”. É um conector S-Video (“Separate Video”). No que diz respeito ao assunto desta coluna, esqueça-se dele. Trata-se de um tipo de conexão que, em princípio, não foi concebida para monitores de vídeo mas sim para televisões ou dispositivos similares (inclusive monitores de vídeo usados como TV). Nós usaremos apenas os outros dois, estes sim “do tipo certo”. Ou melhor: dos tipos certos. Já que os da placa NVidia são claramente diferentes entre si.

Examine novamente a Figura 1 e note que os dois conectores de formato não circular são iguais entre si na placa ATI e bastante diferentes na placa NVidia.

Clique e amplie...

Figura 2: em cima, conectores D-Sub
(ou DB-15 ou ainda VGA); em baixo, conectores DVI.
(clique para ampliar).

Na parte superior da Figura 2 vê-se dois conectores, fêmea à esquerda e macho à direita, do tipo conhecido popularmente por VGA (sigla de “Video Graphics Array”). Também é conhecido por D-Sub devido a seu fator de forma ou ainda por DB-15 (que pode ser interpretado como: conector D com três linhas de contato e 15 contatos). Ele é usado principalmente para monitores analógicos do tipo CRT (“Cathode Ray Tube”, monitores convencionais que usam tubo de imagem). Um dos conectores da controladora NVidia mostrada á direita da Figura 1 é deste tipo. Ele é o conector clássico para ligar ao monitor uma controladora de vídeo que obedeça ao padrão < http://pt.wikipedia.org/wiki/Vga > VGA. Como não cabe aqui descer a detalhes sobre padrões de vídeo sugiro a quem interessar uma consulta á Wikipedia aonde leva o atalho (“link”) acima e onde foram obtidas as imagens que compõem a Figura 2.

O segundo conector da placa NVidia é diferente do primeiro. É um conector do tipo DVI. Veja, na parte inferior da Figura 2, à direita, um conector macho e à esquerda um conjunto das cinco possibilidades de distribuição de pinos (ou cinco sub-tipos) do conector fêmea correspondente. DVI, sigla de “Digital Visual Interface” (ou interface visual digital), é um padrão de vídeo concebido para a conexão de monitores digitais do tipo LCD. Também não cabe aqui uma discussão em detalhes do padrão mas quem estiver interessado pode consultar a < http://en.wikipedia.org/wiki/DVI > Wikipedia (desta vez em inglês já que o verbete DVI na edição em português ainda não estava completo quando estas mal traçadas foram digitadas). Ambos os conectores da controladora de vídeo ATI, à esquerda da Figura 1, são DVI.

Então isto significa que, se você tiver uma placa semelhante à da esquerda, deverá obrigatoriamente conectar a ela dois monitores digitais LCD mas se sua placa for similar à da direita terá que conectar um monitor digital LCD e um analógico CRT? Definitivamente não. Pois para isso existem os adaptadores ou “conversores”, sobre os quais logo falaremos. E só não falamos agora porque antes temos que falar dos cabos.

Figura 3: cabo VGA (acima) e DVI (abaixo).

A Figura 3 mostra dois cabos usados para ligar controladoras de vídeo a monitores. Na parte superior vê-se um cabo VGA e seus conectores, na parte inferior um cabo DVI e os detalhes de seus conectores. Como se vê, nos cabos, ambos os conectores são do tipo macho (se você não sabe a diferença entre conectores machos e fêmeas sugiro... sei lá! O que eu poderia sugerir para quem não sabe um negócio desses?). Já as placas de vídeo mostradas na Figura 1 dispõem de conectores do tipo fêmea. O que significa que necessariamente o monitor deverá usar um conector também fêmea para receber o conector macho da extremidade oposta do cabo.

Em princípio, monitores analógicos mais antigos, do tipo CRT, dispõem apenas de um conector VGA fêmea. Já monitores modernos, do tipo LCD, podem dispor de um conector VGA, de um conector DVI ou, nos modelos mais sofisticados, de diversos conectores, dentre os quais um DVI e um VGA.

Figura 4: Conectores de um monitor Samsung 225 MX.

A Figura 4 mostra os conectores de um monitor Samsung 225MX, um dos dois usados nesta máquina que vos fala e que aparecem de frente na Figura 2 da coluna anterior. Note, particularmente, os conectores DVI (na figura, rotulado de DVI-D, no canto inferior esquerdo) e VGA (na figura rotulado como “PC”, no centro da fileira superior). Qualquer um dos dois (e, de resto, dos demais) pode ser usado para receber a imagem.

Você pode combinar qualquer tipo de placa com qualquer tipo de monitor. Basta examinar os tipos de conectores fêmea que existem na placa e nos dois monitores (que até podem ser diferentes caso você deseje aproveitar o monitor CRT que acabou de trocar por um reluzente LCD e do qual ainda não se desfez para experimentar trabalhar com dois monitores) e conseguir um cabo que possa ligar um ao outro.

Digamos que você tenha dois monitores idênticos apenas com conectores DVI e uma placa como a NVidia da Figura 1 na qual convivem ambos os tipos de conectores (este é exatamente o caso de uma de minhas máquinas). Como fazer?

Bem, você vai precisar de um cabo como o da parte inferior da Figura 3 para ligar o conector DVI da controladora ao do monitor, também DVI. Já para o outro monitor...

Bem, para o segundo monitor você precisará de um cabo que tenha, em uma extremidade (a que será ligada ao monitor), um conector DVI e na outra (a da controladora) um conector VGA, ambos machos. E este cabo, tanto quanto eu saiba, não existe.

E é aí que entram os adaptadores ou conversores.

Figura 5: conversores VGA/DVI e DVI/VGA.

A Figura 4 mostra dois deles. O da esquerda, em uma das extremidades tem um conector fêmea DVI e na outra um conector VGA, também fêmea. O da direita mostra um arranjo semelhante, porém com dois conectores machos. Para resolver o problema acima descrito você irá precisar de um adaptador como o mostrado do lado esquerdo da Figura 4 conectado a uma das extremidades de um cabo VGA ou de um como o mostrado do lado direito ligado a um cabo DVI. Em ambas as situações você terá uma montagem de cabo + adaptador em que em uma das extremidades haverá um conector DVI e na outra um VGA, ambos machos. Bastará conectar um deles a seu monitor e o outro à placa de vídeo que o problema estará resolvido.

Mas isto significa que pelo menos um dos cabos transporta um sinal digital para um conector analógico ou vice-versa. Isto não representaria um problema?

Claro que sim. Mas não é você que tem que se preocupar com ele. Os circuitos eletrônicos do monitor e da placa controladora se porão de acordo e resolverão a questão para você. Não se preocupe, que eu garanto que funciona.

Portanto, conectando-se adequadamente cabos e adaptadores como os mostrados nas figuras 3 e 4, pode-se oferecer solução para qualquer combinação de placa dual e dois monitores, quaisquer que sejam seus conectores.

Pronto. Já sabemos tudo que precisamos sobre as placas, os monitores e seus conectores.

Agora é meter mãos à obra.

O que faremos na próxima (e última, prometo) coluna da série.

 

B. Piropo