Sítio do Piropo

B. Piropo

< Coluna em Fórum PCs >
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05/05/2008

< Vista exige muita máquina. Será? >


Ao fechar a coluna anterior prometi escrever meus comentários sobre o SP1, o Vista, suas virtudes e seus defeitos. Então. vamos nessa.

Começando por uma constatação de ordem geral. Acabei de ler todos os comentários às colunas anteriores relativas ao Vista. E constatei que a maioria deles é movida mais pela emoção que pela razão.

Mas isto já era esperado. Curiosamente, no campo da informática, formam-se tribos aguerridas que “torcem” por seu programa predileto, seu dileto sistema operacional, seu hardware preferido, sua empresa querida ou seja lá o que for que, por uma razão ou outra, tenha conquistado seus corações e mentes. Eu mesmo, há alguns anos, fui severamente esculachado pela tribo dos usuários do MSX, micrinho pelo qual tenho a maior simpatia por ter sido minha primeira máquina, em virtude de um comentário que julguei ser elogioso mas que, ao contrário, por mal interpretado, feriu os brios dos membros da insuspeitadamente belicosa casta dos MSXzeiros (a quem, desde já, peço desculpas se porventura o comentário acima for considerado ofensivo).

Isto não é uma queixa, é uma constatação. A natureza humana é assim mesmo, gregária por excelência, e cada indivíduo se sente mais seguro e mais importante quando faz parte de um grupo, de uma tribo, de uma facção, de uma religião, de um partido, enfim, de um conjunto de pessoas que compartilham seus sentimentos. Alguns exageram, naturalmente. Eu mesmo jamais entendi o que leva um indivíduo a disparar uma arma de fogo contra alguém que ele não conhece e nunca viu apenas porque a vítima enverga uma camisa de um time de futebol “inimigo”. Dizem eles que é por “amor ao clube”, mas minha minguada inteligência não consegue descortinar as razões que fazem com que se mate um desconhecido, eventualmente pai de família que fará imensa falta aos seus, por amor a uma instituição cuja existência ou inexistência não faria a menor diferença na face da terra. Mas as pessoas são assim e não há de que reclamar, apenas aceitá-las como são e seguir adiante.

Pois bem: muitos dos comentários acima referidos foram movidos exatamente por sentimento semelhante: mero amor ou desamor. Não creio (se bem que, com mais de sessenta anos de experiência de vida, não descarte a possibilidade) que eu venha a ser emboscado e executado a tiros de escopeta por um ou mais dos detratores de Vista ou “inimigos” da Microsoft apenas porque, depois de usar o sistema operacional por algum tempo, me afeiçoei a ele e descobri que traz vantagens que me agradam (e desvantagens que não chegam a me incomodar muito). E haver cometido a temeridade de publicar que gostei dele (ou, segundo alguns, cometer o crime de “defendê-lo”). Mas tenho certeza que se vocês lerem alguns dos comentários a que me referi irão perceber que são movidos pelo mesmo tipo de sentimento (e mesma lógica) que leva o torcedor do Flamengo a garantir que ele é melhor que o Palmeiras ou que o Internacional ou que o Coritiba ou seja lá de que outro clube, nacional ou estrangeiro (ou vice-versa). São comentários do tipo “a MS vai se ferrar e não adianta querer forçar todo o mundo a usar o Vista que o público não irá aceitá-lo”. O fato de que, no mundo real, a porcentagem dos usuários de Vista estar aumentando lenta, porém continuamente, contrariando suas (dele) previsões ou desejos, para ele não tem a menor importância. Afinal, o que são meros fatos diante de suas convicções?

O interessante é que comentários deste tipo são maioria. E isto, evidentemente, não é fruto do acaso. Existe, entre o público em geral, entre os usuários de outros sistemas e até mesmo na imprensa especializada, uma inegável e difusa má-vontade em relação ao Vista e à Microsoft.

Não me cabe analisar as razões desta má-vontade. Pode ser que o produto seja mesmo antipático com suas transparências e coisas que tais, com sua insistência em pedir que confirme ações potencialmente prejudiciais, com suas mudanças de procedimentos que todos já conheciam, e eu apenas faça parte da minoria que não o achou antipático e que considera que tais alterações, embora incômodas, vieram para me beneficiar. Por outro lado, pode ser que a tal antipatia nada tenha a ver com o Vista em si e resulte das ações da própria Microsoft, de sua postura arrogante diante de certas situações, da forma como ela administra seu poder de líder de mercado para fazer pressão contra desenvolvedores com menor “poder de fogo” para forçá-los a desenvolver programas para seus sistemas operacionais (foi assim nos idos de 1993 quando o OS/2, já no mercado e em pleno desenvolvimento, padecia da falta de aplicativos porque os desenvolvedores estavam todos empenhados em adaptar seus programas para o Windows 95, que só seria lançado dois anos mais tarde). Em suma: pode ser que a “culpa” de tudo isto seja da própria MS. Ou pode ser ainda que a má-vontade seja uma reação natural contra quem ocupa a liderança inconteste em seu setor de atuação, qualquer que seja ele (mas que ocorre com maior freqüência no campo da informática e a IBM pode bem explicar como isto funciona, de tanta pancada que recebeu quando ocupava no mercado a posição ora ocupada pela MS, o que a levou a responder a um processo anti-monopólio que deixou fundas cicatrizes na empresa).

Mas, seja qual for a razão, o fato é que a má-vontade existe e não me cabe criticá-la, apenas constatá-la (e aceitá-la, naturalmente). Mesmo porque ninguém é obrigado a gostar ou não gostar de uma determinada coisa, pessoa ou animal. Então, vamos adiante, porém levando em conta que, neste tópico em especial, eu escrevo para um público em sua maioria contrário, descrente ou, no mínimo, pouco receptivo.

Seja como for, o que está em jogo aqui não é a boa ou má vontade dos usuários, a simpatia ou antipatia da MS ou a “torcida” contra ou a favor do Vista. O que pretendo discutir é o produto em si mesmo, suas qualidades e defeitos, seus avanços (ou recuos) em relação às versões anteriores. Ressaltando que, embora provindas de um usuário calejado e, por dever de ofício, conhecedor dos meandros internos de um sistema operacional, não passam de opiniões pessoais e definitivamente não são constatações sobre a verdade absoluta.

Então vamos nessa.

Começando pelos que reclamam que “Vista exige muita máquina e muita memória” e acrescentam que “com o XP não foi assim”.

Esta é uma verdade apenas parcial. Vista, efetivamente, exige grande poder de processamento e grande capacidade de memória instalada. E como minha opinião sobre o assunto já foi expressa na coluna “Vista, Balanço anual e SP1 – II: Minha experiência”, para não me tornar repetitivo vou apenas resumi-la com uma citação: “ninguém desenvolve software para plataformas antigas. Quem o fizer estará fadado a ver seu produto se tornar obsoleto em questão de meses... Desenvolve-se software para um desempenho ótimo em uma plataforma de última geração, o topo de linha, contando com o fato de que a rápida evolução tecnológica, a produção em massa e a demanda do mercado forçarão os preços do hardware a cair e que aquilo que no momento do lançamento do software era inalcançável para grande parte dos usuários, dentro de algum tempo estará ao alcance dos bolsos da maioria”.

Com Vista não poderia ser diferente. Portanto, se você quer rodar Vista agora, prepare-se para atualizar seu hardware. Se acha que não vale a pena, espere um pouco até o sistema tornar-se mais maduro e os preços do hardware mínimo exigido caírem até um patamar aceitável. Esta é a atitude sensata a tomar e não vejo razões para reclamar disso. O mercado é assim e é ele quem dita as normas.

Incidentalmente: em uma das colunas anteriores comentei que cheguei a usar 4 GB de memória RAM em um micro com Windows Vista 32 e um dos leitores perguntou se a versão de 32 bits conseguia efetivamente reconhecer todos os 4 GB. Infelizmente, na ocasião, eu já havia retirado parte da memória daquela máquina para uso emergencial em uma segunda que havia apresentado problemas em alguns de seus módulos e não pude confirmar. Agora, que reinstalei os módulos, posso assegurar que, sim, a versão de Vista 32 bits reconhece integralmente os 4 GB de memória como se pode ver na Figura 1. E considerando-se que hoje compra-se um módulo de 1 GB de RAM DDR2 667 por menos de cinqüenta reais, não conheço melhor investimento em termos de custo/benefício.

Figura 1: Vista 32 bits e seus 4 MB de memória RAM.

Mas acontece que, ao contrário do que muitos afirmam, com o XP não foi diferente. Na verdade, ocorreu exatamente a mesma coisa, com respeitáveis membros da imprensa exprimindo rigorosamente o mesmo tipo de reclamação. O colega de Fórum sliJorge dá uma preciosa contribuição neste sentido oferecendo um comentário (na minha máquina aparece na página 4 dos comentários à coluna “Vista SP1 instalado. E nada mudou...”; vale a pena consultar) no qual oferece um conjunto de atalhos (“links”) para artigos antigos, do tempo do lançamento do Windows XP, com queixas e reclamações notavelmente parecidas com as que se lê atualmente sobre o Vista. O mais notável é o artigo de Joe Wilcox “New Windows demands PC Power”, que merece ter um de seus parágrafos citados na íntegra:

“O sítio da Microsoft recomenda pelo menos um Pentium II de 300 MHz com 128 MB de memória RAM para rodar o XP beta, muito mais que o processador de 133 MHz e os 64 MB de memória necessários para Windows 2000. Embora hoje muitos PCs sejam fornecidos com 128 MB, máquinas vendidas há um ano, especialmente PCs de baixo custo, tipicamente são fornecidos com muito menos memória” (no original: “Microsoft's Web site recommends a minimum 300MHz Pentium II processor and 128MB of RAM to run the Windows XP beta, up from a 133MHz processor and 64MB of memory for Windows 2000. Although many PCs come with 128MB now, machines sold a year ago, especially budget PCs, typically came with much less memory”). Leia com atenção e diga-me lá com franqueza: não dá vontade de rir? A “máquina poderosa” exigida na ocasião para rodar o XP tem uma capacidade de processamento muito menor e muito menos memória RAM que a máquina que montei para meu neto de sete anos usando apenas peças de sucata que se acumulavam na minha pequena oficina.

Portanto: não, Vista não exige demasiado hardware, exige apenas o hardware que estará ao alcance de todos os bolsos dentro de um ano ou menos. E, não, o lançamento do hoje tão elogiado XP não foi diferente: as queixas eram as mesmas e causaram a mesma revolta.

Isto, naturalmente, não é argumento para que ninguém passe a usar Vista ou deixe de usá-lo. É apenas o espelho da realidade. Quem quer usar Vista, que se prepare para isto e use. Quem não quiser, não use. Ou espere um pouco até o sistema amadurecer mais, os preços do hardware caírem ou, simplesmente, que surja um sistema operacional que atraia sua simpatia (Windows Seven vem aí, quem sabe...). Todas estas atitudes são válidas e nenhuma delas merece críticas.

Na próxima coluna continuaremos a discutir os prós e contras de Vista e seu SP1 baseado nas queixas dos usuários e da imprensa especializada.

Até lá.

 

B. Piropo