Sítio do Piropo

B. Piropo

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29/09/2008

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meter a mão em cumbuca >


Quando eu era criança, talvez por não haver televisão, talvez porque os tempos eram outros, as crianças conversavam com os pais. E, naqueles dias, talvez porque a vida corresse mais tranqüila, talvez porque houvesse mais afeto entre as pessoas, os pais conversavam com as crianças.

E contavam histórias.

As que meu pai me contava não eram “histórias da carochinha”. Eram fatos que haviam realmente ocorrido em sua vida, a maioria deles no início do século passado quando ele, engenheiro, trabalhou por alguns anos nos sertões do Nordeste na construção de ferrovias.

Lembro de uma delas. Aliás, apesar de tê-las ouvida há mais de meio século, lembro de muitas. Mas esta, em particular, me ocorreu agora e eu gostaria de dividi-la com vocês. É sobre a forma pela qual os sertanejos caçavam macacos.

A armadilha era uma cumbuca. Para quem não sabe, cumbuca é uma cuia, ou cabaça, o fruto de uma árvore chamada “cuieira”. A cumbuca tem um formato esférico, casca fina porém dura e é pouco menor que uma bola de vôlei. Cortada ao meio funciona como uma vasilha muito usada para dar banho em crianças, o “banho de cuia”. Mas o interessante mesmo era a forma pela qual a usavam para caçar macacos, um jeito simples e criativo, admirado por sua simplicidade (menos, naturalmente, pelos macacos).

A coisa era singela: colhia-se uma cumbuca, fazia-se nela um pequeno orifício através do qual seu conteúdo original era removido, colocava-se em seu interior certa quantidade de grãos de milho e se a deixava amarrada a uma árvore. Na manhã seguinte era quase certo encontrar um macaco preso a ela, com a mão cheia de milho, punho fechado dentro da cumbuca. Pois ao encontrar a cumbuca com o milho, o bicho enfiava a mão pelo buraco e agarrava um punhado de grãos. Mas, com o punho fechado, a mão não saía da cumbuca e não ocorria ao animal desistir do butim, soltar o milho e abrir a mão para retirá-la pelo buraco.

As histórias de meu pai eram divertidas. Mas não eram gratuitas. Levei algum tempo para descobrir que havia sempre por trás de cada uma a intenção de repassar uma lição de vida. Por exemplo: sempre que terminava esta história (pois crianças gostam de ouvir repetidamente as mesmas histórias e nisso não mudaram em todos estes anos), meu pai comentava que por perto do pobre bicho aprisionado muitas vezes se via outro macaco, sempre mais velho, apreciando os esforços do primeiro para se libertar. E que estes, os mais velhos, dificilmente caíam na armadilha.

E ainda me lembro de meu pai, com um sorriso velhaco brilhando em seus olhos azuis, arrematando a história: “é por isso, meu filho, que se diz: macaco velho não mete a mão em cumbuca”.

Os tempos passaram, o pai já se foi deixando saudades e fazendo falta com suas histórias e sua mão amiga e, velho, fiquei eu. Não apenas velho: com as coisas que venho aprendendo pela vida, fiquei “macaco velho”. Mas aquela lição não aprendi. Pois não é que agora mesmo encontrei uma cumbuca cheia de milho e estou prestes a nela meter a mão?

A cumbuca chama-se Linux e lá vou eu, macaco velho, meter a mão onde não devo e dar uma opinião que não me foi pedida, contrariando meu velho pai que, seja lá onde estiver nesse momento, aposto, haverá de estar balançando a cabeça de um lado para outro e comentando: “esse menino não tem jeito mesmo”.

Pois então vamos nessa. E considere tudo o que leu até agora como simples intróito. Faça de conta que a coluna começa no próximo parágrafo.

Antes de participar do IDF, assunto das últimas três colunas, escrevi uma longa série sobre o Windows Vista e o sistema de arquivos que a MS havia cogitado em lançar com ele, o WinFS. E, neste Fórum (e nos outros também, diga-se de passagem), não há como se falar de Windows sem provocar uma longa discussão sobre as virtudes do... Linux.

Eu não tenho por hábito participar delas. E não o faço por boas razões.

A primeira, e mais importante, é que não tenho conhecimento suficiente sobre o dito sistema operacional e não escondo esta ignorância. Pelo contrário, a tenho deixado clara sempre que o assunto vem à baila. E como não costumo me atrever a escrever sobre o que não conheço, evito participar das discussões que envolvem comparações entre aspectos técnicos do Linux e Windows.

Mas há uma segunda razão. Trata-se da natureza, digamos, demasiadamente aguerrida da chamada “comunidade Linux”. Nela, ou pelo menos no segmento dela que posta comentários aqui no Fórum, tenho percebido uma agressividade tão extremada que beira (quando não invade) o terreno da grosseria e má educação. Dizem alguns amigos que estes comentários provêm de membros da minoria radical e que a maioria da comunidade Linux, embora silenciosa, é gente fina, amena, bem educada, incapaz de agredir outrem apenas por não compartilhar de suas opiniões. E é provável que os amigos tenham razão. Pelo menos a julgar pelo caráter de meu amigo Fernando Ramos, da revista PC&Cia, talvez o último dos gentis-homens (sem quaisquer conotações indesejáveis: trata-se meramente do plural de gentil-homem, “gentlemen” em inglês, cujo significado, segundo Houaiss, é “indivíduo cujos atos e maneiras demonstram fidalguia e distinção de sentimentos”, rótulo que parece ter sido cunhado especialmente para o Fernando), um educadíssimo– porém intransigente – defensor do Linux. Mas, até recentemente, os que vinham se manifestando em comentários sobre minha coluna não se ajustavam muito bem à esta descrição, o que me fez, prudentemente, evitar retrucar seus comentários, o que certamente provocaria discussões que inevitavelmente descambariam para o terreno da passionalidade, fundamentalismo exacerbado e radicalismo extremo e que a nada levariam exceto ofender (pelo menos o bom gosto) dos leitores.

Pois bem: dia desses (mais especificamente 10/08/2008) encontrei na seção de comentários à minha coluna “Vista e WinFS: Mudança de paradigma” um comentário equilibrado, educado, civilizado e, para completar a surpresa, bem-humorado, de um leitor que ainda não tive o prazer de conhecer pessoalmente, o Joffely, tentando explicar algo que sempre me pareceu inexplicável: porque um sistema operacional que seus usuários consideram tão cheio de qualidades conquista uma fatia tão pequena do mercado mesmo sendo gratuito?

Como as razões listadas pelo me pareceram ponderáveis e o interlocutor as listou de forma bastante racional, achei que valeria a pena comentá-las. Mas não queria – na verdade não somente não queria como não quero e me recuso peremptoriamente a fazê-lo – iniciar uma discussão estéril com a, digamos, fração “pitibul” da referida comunidade. Então tomei a liberdade de me dirigir diretamente ao Joffely em mensagem privada propondo-lhe um diálogo. A coisa ocorreria da seguinte forma: eu responderia seu comentário em uma coluna e me comprometeria a deixar a próxima aberta à sua resposta. Ele rebateria meus argumentos nesta última, à qual eu poderia acrescentar meus próprios comentários. Como ambas as colunas estariam, como de hábito, abertas aos demais leitores, espero que eles as enriqueçam com suas próprias opiniões. No que me diz respeito, não pretendo interferir. Quanto ao Joffely, a decisão (de participar ou não das discussões mantidas nos comentários) pertence a ele.

Figura 1: As janelas e os pinguins.

Esta é a primeira das duas colunas – onde, como ficará claro, evitarei abordar aspectos técnicos do Linux, atendo-me exclusivamente aos pontos, digamos, sociológicos e comportamentais que o levam a ter tão pequena aceitação no mercado. A íntegra do comentário que a motivou foi postada às 02h26minh de 10 de agosto passado e consta na página 7 de comentários à coluna “Vista e WinFS: Mudança de paradigma”, onde permanece disponível para eventuais consultas.

Então vamos nessa. Os trechos de autoria do Joffely estão em itálico. Diz ele:

Porque uma parcela dos usuários não usa sistemas gratuitos? Os motivos são vários. Ninguém conseguirá enumerar todos. A maioria dos usuários do Windows são leigos. Habituaram-se a um SO que possui uma capa gráfica linda com uma série de facilidades que escondem o SO.

É verdade, meu amigo. Mas isso não é privilégio dos usuários do Windows. A enorme disseminação dos computadores nas últimas décadas, principalmente após a Internet ter se tornado pública em 1995, atraiu centenas de milhões de novos usuários. Todos eles, naturalmente, leigos. Portanto, a maioria dos usuários (e não apenas dos de Windows) são realmente leigos. E o fato do sistema oferecer uma interface gráfica “que esconde o SO” não é casual, é proposital. O ideal mesmo seria que o sistema operacional desaparecesse completamente por detrás de suas “facilidades de uso” e que nenhum usuário sequer tomasse conhecimento de sua existência. Da mesma forma que os usuários de telefones celulares não se interessam pelo sistema operacional de seus aparelhos. O SO é uma mera ferramenta para fazer “a coisa” funcionar, seja ela um telefone celular, um computador ou um Airbus 380. Habituar-se a isto é desejável, jamais condenável.

Prossegue o Joffely:

Com este perfil, dificilmente irão se aventurar a usar um sistema em modo texto, tendo de digitar uma série de comandos para administrar SO. Querem algo mais "fácil", algo "plug and play" (como se microcomputador fosse uma liquidificador ou uma geladeira, etc).

Neste ponto estamos de acordo, exceto com as aspas em torno da palavra “fácil”. Eles – os usuários, leigos ou não – querem de fato algo mais fácil. E é obrigação do produto – neste caso, do sistema operacional – satisfazer os usuários. Senão, eles simplesmente não o usam. E, da forma como eu vejo a evolução tecnológica, dentro de alguns anos – não muitos – os computadores serão eletrodomésticos como quaisquer outros, incluindo geladeiras, liquidificadores, televisões e reprodutores de CD. Que, incidentalmente (pelo menos os mais modernos), também dispõem de microprocessadores embutidos com seus respectivos sistemas operacionais. Alguém aqui já se interessou em saber qual o sistema operacional que comanda o funcionamento de sua TV de tela plana?

E continua o Joffely:

Mesmo os sistemas gratuitos, que não querem, podem usar uma capa gráfica que não deixa nada a dever ao Windows. Mas, por que ainda não o querem? Porque uns se acostumaram determinados softwares e preferem, a todo custo, usar o que já conhecem. Outros porque atuam profissionalmente em áreas onde é complicada a migração para outro SO.

Eu não conheço as interfaces gráficas usadas pelas diferentes distribuições do Linux. Já as vi, mas me falta experiência pessoal para julgar se deixam ou não a dever ao Windows. Mas, pelas opiniões que tenho colhido de seus usuários – alguns satisfeitos, outros nem tanto – não vejo razão para discordar. Aceito, portanto, como pressuposto, que sejam mesmo tão boas ou melhores que às das diversas versões de Windows. Mas as duas razões citadas para justificar a preferência dos usuários pelo Windows são inteiramente válidas: todos nós preferimos usar o que já conhecemos e quanto aos que atuam profissionalmente, talvez nem ao menos tenham escolha (nem sempre se pode escolher o SO a ser usado no trabalho).

Mas estes argumentos não se aplicam aos novos usuários, aqueles que nada conhecem sobre informática, sistemas operacionais e programas e compram seu primeiro micro. Aí, a coisa é diferente. Que sistema operacional eles haverão de escolher?

Reparem que, se o computador não é da Apple que vem com um sistema operacional proprietário, a escolha há de recair entre Windows e Linux. Para usar Windows, há que pagar (e, há quem diga, muito caro) ou cometer a ilegalidade de instalar uma cópia pirata e submeter-se ao incômodo de burlar os mecanismos de proteção e verificação de autenticidade para instalar atualizações. Um negócio ilegal e trabalhoso. Para usar Linux, basta instalar: o sistema é gratuito e nada há de ilegal em instalar uma cópia, seja qual for sua origem. Então por que a maioria prefere Windows?

Uma das razões é a citada pelo Joffely:

A maioria não sabe instalar o SO, não sabe nem o que é um SO, que dirá administrá-lo. Não estou dizendo que são "burros", apenas, desconhecem o assunto. As distribuições Linux, de uma forma geral, da mais amigável à mais hardcore, não são padronizadas. Existem diferentes ferramentas de configuração, instalação etc. Para um usuário leigo ou medianamente informado, é uma dor de cabeça.  

Como disse, meu parco conhecimento sobre Linux não permite avalizar ou não as afirmações que dão conta de ser a instalação de Linux um tanto trabalhosa e exigir algum conhecimento especializado. Mas elas estão de acordo com o que tenho ouvido sobre o assunto – se bem que não deva ser muito mais complicado que a instalação inicial, por exemplo, do velho DOS, que exigia que o usuário interviesse (e soubesse como intervir) para criar partições, formatá-las e saber onde e como instalar o sistema. Mas ainda assim é inegável que uma instalação de uma versão moderna de Windows é bastante simples. E tenho ouvido dizer que as de Linux têm caminhado na mesma direção. Mas, seja lá como for, é natural que usuários principiantes prefiram o que é mais simples e, se precisam instalar um sistema, optem pelo Windows.

O problema é que nada disso justifica um tipo de procedimento que, talvez, seja o que mais incomoda – para não dizer “revolta” – a comunidade Linux: é o comportamento do usuário que compra um computador novo, na loja, destes que vêm com Linux instalado, e se dão ao trabalho de substituir sua cópia legal de um sistema operacional perfeitamente funcional por uma cópia – geralmente pirata – de uma versão de Windows. Este procedimento, que eu reputo injustificável, tem se tornado tão comum quanto o da substituição de uma cópia da intragável “Starter Edition” de Windows por uma cópia pirata do mesmo Windows – algo também lamentável, diga-se de passagem, se bem que o uso produtivo da “Starter Edition” de Windows seja uma proeza ao alcance de poucos.

Mas é justamente a substituição de uma cópia legal e gratuita de Linux por uma cópia pirata de Windows que tem justificado a afirmativa que mais aborrece a comunidade Linux: “o sistema é tão ruim que os usuários não o querem nem de graça”. O que, tendo em vista o comportamento de grande parte daqueles que compram micros novos com Linux instalado e o substituem por Windows, não deixa de ser verdade. Mas que, em minha opinião, nada tem a ver com as qualidades ou defeitos tanto de Linux quanto de Windows. Penso eu que se trata de uma questão comportamental e não tecnológica.

É claro que, no caso do primeiro micro a cair nas mãos de um usuário inexperiente, não há razão para que ele mude o sistema operacional. E, em geral – pelo menos no primeiro momento – ele não muda. Tenta usar o que veio instalado no micro.

Mas, como disse o poeta John Donne com grande propriedade, “nenhum homem é uma ilha”. E, naturalmente, o novo usuário busca contato com seus amigos para que o ajudem a atravessar a difícil fase inicial do aprendizado.

E o que usam seus amigos?

De acordo com as estatísticas (logo voltaremos a falar sobre elas), de cada dez deles, nove usam Windows e seus programas.

Por que esta maioria tão esmagadora?

Bem, aí a discussão pode seguir por anos a fio sem que se chegue a qualquer conclusão. Hão de dizer que Windows é mais usado devido às práticas comerciais e mercadológicas da MS e não por suas qualidades, que Linux padece de um boicote, que a culpa é da ignorância das massas que não percebe a diferença de qualidade, que se trata da luta entre o Bem e o Mal (no caso, geralmente o Mal usa óculos, cabelos louros um tanto desgrenhados e atende pelo nome de Bill) e que o Mal está vencendo mas falta pouco para que o Bem se imponha e mais um monte de argumentos, alguns ponderáveis, outros meras sandices, caindo-se em uma discussão estéril que a nada leva exceto a insultos, ofensas e egos feridos. Uma discussão da qual eu me recuso a participar por saber que a nada leva exceto exacerbar cada vez mais as posições de cada um. Porque, neste caso, muito destas discussões nada têm a ver com a qualidade técnica deste ou daquele produto. O que no fundo se discute é uma questão ideológica cujo pano de fundo é o software livre. Uma questão respeitável, digna da maior atenção, mas que deve ser tratada no contexto apropriado. O que se discute aqui é a razão da baixa aceitação de Linux entre os usuários, não o fato de filosoficamente eles deverem ou não usar Linux (e, a quem minha opinião interessar possa: filosoficamente, acho que devem, sim; mas, repito, esta é apenas minha opinião e não a expressão da verdade absoluta).

Mas o fato é que, querendo a comunidade Linux ou não, a maioria usa Windows. Inclusive, naturalmente, os amigos de nosso novo usuário hipotético. Que não demorará muito a se sentir solitário, abandonado à própria sorte, usando um sistema operacional que, independentemente de suas qualidades, ninguém – ou pelo menos ninguém que ele conheça –usa e sem ter a quem recorrer quando se encontra diante de um dos (muitos) becos aparentemente sem saída que tão freqüentemente se abrem à frente dos novos usuários. E dos quais seus amigos desconhecem a forma de escapar porque só “entendem” de Windows.

É claro que não demorará muito para que um desses mequetrefes apareça com um CD gerado, provavelmente, pelas Organizações Tabajara de meu amigo Marcelo Madureira ou uma de suas concorrentes e bradando o conhecido jargão: “Seus problemas acabaram”. E instale uma cópia pirata de Windows em cima do Linux legal.

Ou seja: uma das causas do predomínio de Windows é à influência maligna das más companhias. E nem sequer dá para discutir se o procedimento é certo ou errado: é claramente errado por ser ilegal e antiético (e eu não estou aqui defendendo sua prática, estou apenas constatando sua existência e tentando entender as razões que levam a ele). Pode-se até deflagrar uma campanha para evitar este tipo de comportamento. O que não se pode é desconhecer que ele existe e que é uma das fortes razões da pequena aceitação do Linux.

Note que em nenhum momento eu discuti o fato de haver mais (ou menos) programas de boa qualidade que rodam em Linux (ou Windows). Nem o fato de um ser mais (ou menos) intuitivo do que o outro, mais (ou menos) fácil de instalar e administrar. Não discuti qualquer aspecto mais técnico envolvendo os dois sistemas. E não o faço porque só conheço um deles. Abordei apenas os aspectos factuais e comportamentais.

Mas voltando ao comentário do Joffely:

Agora, vamos aos 3% do "mercado":

(e aqui cabe um parêntese: por “3% do mercado” o Joffely se refere aos usuários Linux; isto porque quando escrevi a coluna que ele comenta, a última estatística disponível sobre porcentagem de usuários de SO era de junho de 2008 e indicava que 3,7% dos que acessam o sítio gerador das estatísticas usavam Linux, enquanto a de usuários Vista era de exatos 10%; hoje, a < http://www.w3schools.com/browsers/browsers_os.asp > estatística mais recente é de agosto de 2008 e ambos os porcentuais subiram; o de usuários Linux teve um crescimento absoluto de 5%, subindo de 3,7% para 3,9%, enquanto o de usuários Vista foi de 25%, crescendo de 10% para 12,5%; mas deixemos o Joffely se manifestar).

O perfil deste público é exigente, é da área a informática ou afim. Formam uma "elite" que possui conhecimento. Muitos torcem o nariz para distribuições amigáveis e usuários leigos. Para todos eles, instalar e administrar o SO em modo texto ou gráfico é bem mais fácil. Boa parte dos 3% são empresas que recusam-se a pagar licenças caras. Não querem, nem incentivam a pirataria. Portanto, trocam o SO em seus servidores. A empresa que se adapte a nova realidade. A outra parcela são usuários e desenvolvedores voluntários. Muitos de nós usamos programas gratuitos feitos pelos "chatos". São voluntários, não recebem um centavo pelos programas baixados e usados pelos usuários. Sejam eles iniciantes ou avançados.

E, novamente, concordamos. De fato, os usuários Linux que conheço e a maioria daqueles que postam comentários “defendendo” seu sistema (e o “defendendo” vai entre aspas porque, pelo menos no que me diz respeito, não costumo “atacá-lo”, pois mesmo que o quisesse – e não quero, já que respeito o direito de cada um escolher o SO que melhor atende suas necessidades – me falta conhecimento para tanto) têm demonstrado um conhecimento técnico respeitável. Não sei se, como pensa o Joffely, chegam a formar uma “elite”, mas sei que seus conhecimentos sobre sistemas operacionais e computadores situam-se acima da média.

Se tanto conhecimento técnico é indispensável para o uso do sistema, esta seria mais uma razão para justificar a predominância de Windows (isto não é uma afirmação, é uma mera especulação, portanto poupem-me da argumentação contrária). Afinal, ao mero mortal que usa um computador para cumprir suas tarefas domésticas ou profissionais, interessa apenas dispor de conhecimento técnico sobre sua atividade fim, ou seja, aquilo que ele faz com o computador. Sobre o computador propriamente dito, seu sistema operacional e sua arquitetura, ele está tão interessado quanto o motorista que usa seu carro diariamente para ir e voltar do trabalho se interessa pelos detalhes mecânicos do veículo. Para ele o carro é uma ferramenta e basta que saiba manejá-lo, pouco lhe interessa como funciona (quantos motoristas sabem a diferença entre um motor “dois tempos” e um motor “quatro tempos”? Quantos sabem no que consiste o “ciclo Diesel”?). Para o usuário típico de Windows, o mesmo ocorre no que toca ao computador e seu sistema operacional.

Mesmo porque, tanto quanto eu saiba, ninguém escolhe um sistema operacional para usar um sistema operacional. As pessoas escolhem um sistema operacional para usar os programas que nele rodam. O resto é detalhe que só interessa a uma minoria.

Pois é isso. O restante do comentário do Joffely se refere a práticas éticas e comerciais da MS e expõe suas opiniões pessoais sobre o assunto, às quais nada tenho a retrucar. No que me diz respeito, quero enfatizar que esta coluna não se propôs discutir se e porque Linux ou Windows é “melhor” (seja lá o que isso venha a significar) que o outro. Propôs-se apenas a tentar analisar as razões pelas quais um deles é comprovadamente mais popular que o outro. E procurou fazê-lo alinhando argumentos de um usuário Windows contra um usuário Linux.

Mais ainda: se o Joffely se dispuser a fazê-lo, minha próxima coluna estará inteiramente à sua disposição para contra-argumentar no que julgar pertinente.

Pois é isto.

Para fechar: talvez interesse a alguns de meus leitores saber o porquê de eu ter me decidido a escrever sobre este assunto depois de tê-lo evitado cuidadosamente por tanto tempo.

Bem, presumo que o fiz por achar que devo uma posição clara sobre o assunto àqueles que perdem seu tempo lendo as bobagens que escrevo. Percebi, pelo tom de alguns comentários às colunas anteriores (principalmente à série de colunas sobre o WinFS), que alguns leitores acham que eu “defendo” o Vista e, por via de conseqüência, “ataco” o Linux. Se deixei esta impressão, peço desculpas, não foi esta minha intenção. Tenho destacado as características de Vista por duas razões: a primeira é que ele é o sistema operacional que eu uso e, portanto, conheço razoavelmente bem. A segunda é que é o sistema que tem mostrado maior e mais consistente crescimento absoluto do número de usuários, o que indica que dentro de algum tempo, a manter-se esta tendência, estará entre os mais usados do mercado, portanto aqueles escritos hão de interessar aos novos usuários. E não escrevo sobre Linux porque não o uso e, por conseguinte, não o conheço suficientemente bem para escrever sobre seus aspectos técnicos. O que não quer dizer que ele não tenha qualidades e muito menos que eu tenha algo contra sua “filosofia” de desenvolvimento e a ideologia do software livre – muito pelo contrário.

Ou então vai ver eu simplesmente o tenha feito por não fazer caso de mais um dos ensinamentos contidos nas histórias de meu pai. Mais especificamente de uma que, quem sabe, talvez um dia eu venha a contá-la aqui e que aborda a difícil arte de cutucar onça com vara curta...

 

B. Piropo