Sítio do Piropo

B. Piropo

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19/01/2009

< Nicola Tesla VII: Um Homem Adiante de seu Tempo >


O grande sonho de Tesla era desenvolver um meio de transmitir energia elétrica para qualquer ponto da Terra sem o uso de fios. Uma ideia que parece revolucionária mesmo hoje, quando vivemos em um mundo em que a palavra inglesa “wireless” está se incorporando praticamente a todos os idiomas. Mas que, pensando bem, deveria ser natural desde aqueles tempos, pois para não se espantar com o projeto de Tesla basta considerar o princípio da conservação da energia (que, trocado em miudos, afirma que não se “produz” energia, apenas transformamos uma forma em outra) e lembrar que a Terra é uma bola que gira no espaço sem estar diretamente conectada a qualquer fonte de energia. Portanto, toda a energia que nós tendemos a acreditar que foi “gerada” por aqui na verdade foi recebida do espaço sob a forma de radiação térmica, luminosa ou qualquer outra forma de energia radiante. E este era o plano de Tesla: transmitir energia (elétrica) usando radiação.

Esta ideia, “maluca” como todas as demais que costumava ter, vinha martelando sua cabeça desde meados da década de 1890. E, apesar de seu imenso conhecimento teórico, sendo ele um indivíduo eminentemente prático, não se contentava com a teoria. Precisava pôr o projeto em prática. Para este fim conseguiu um financiamento de trinta mil dólares, a doação de um terreno em uma área praticamente desabitada em Pikes Peak, próxima a Colorado Springs, e a garantia de fornecimento gratuito e ilimitado de energia elétrica da concessionária local, a El Paso Power Company. E, acompanhado de alguns assistentes, mudou-se para lá em 1899 anunciando à imprensa que pretendia em breve emitir de Pikes Peak um sinal de energia radiante (onda de rádio) a ser captado em Paris.

O laboratório de Tesla em Pikes Peak era estranho mesmo para os padrões atuais. Como seu objetivo era transmitir ondas de energia a longuíssimas distâncias, era equipado com uma torre de madeira de 25m de altura onde se fixava um mastro de mais 45m no topo do qual, a 70m do chão, brilhava uma enorme esfera metálica. Esta esfera era ligada a um dos muitos inventos de Nicola, uma “Bobina de Tesla” (já falaremos sobre ela).

Assim que toda a parafernália ficou pronta, Tesla decidiu fazer o primeiro teste. Eis como os acontecimentos que se seguiram foram descritos no artigo < http://www.pbs.org/tesla/ll/ll_colspr.html > “Colorado Springs” da PBS:

“Na noite do teste, depois de testar cuidadosamente cada peça do equipamento, Tesla solicitou que seu mecânico, Czito, ligasse o interruptor de alimentação por não mais que um segundo. A bobina secundária, então, começou a centelhar e uma assustadora coroa azulada formou-se no ar em torno dela. Satisfeito com o resultado preliminar, Tesla pediu então que Czito ligasse o interruptor e desta vez o mantivesse ligado até ordem em contrário. Imensos arcos elétricos azuis começaram a se formar em torno da bobina. Raios de mais de trinta metros de comprimentos saltaram da esfera. Um espetáculo que durou até “queimar” o gerador da usina de El Paso, deixando toda a cidade às escuras. O gerente da usina ficou furioso e exigiu que Tesla ressarcisse os danos”.

Feitas as devidas alterações, Tesla continuou suas experiências em Colorado Springs por nove meses. Seu artefato gerou centelhas elétricas de mais de 30 metros que podiam ser avistadas a vinte quilômetros de distância. Com ele, conseguiu transmitir eletricidade para acender lâmpadas fluorescentes a mais de 46 km sem o uso de fios. A bobina funcionava como um gigantesco aparato que “bombeava” eletricidade. A ideia era aumentar tremendamente a tensão (até 12 milhões de volts) enquanto a corrente era reduzida. Ainda usando a analogia hidráulica: o efeito é similar ao de uma bomba que bombeia água em altíssima pressão (análoga à tensão) através de uma mangueira que termina em um bocal estreito: o jato de água expelido pelo bocal tem vazão pequena (análoga à intensidade da corrente), mas vai longe devido a elevada energia cinética que recebe no bocal ao transformar pressão em velocidade.

Mas, voltando à Bobina de Tesla, que diabólico aparelho teria sido este capaz de gerar raios tão potentes?

A Bobina de Tesla, em tese, é um artefato muito simples: dois indutores coaxiais ligados a um capacitor. Para descrever nesta série de colunas seus princípios de funcionamento eu teria que recorrer a conhecimentos de fenômenos eletromagnéticos que nem todos os leitores dispõem e explicá-los aqui tornaria a coisa desnecessariamente complicada. Mas, para que se tenha pelo menos uma ideia preliminar, vale mencionar que a Bobina de Tesla é capaz de elevar significativamente (em alguns casos, brutalmente) a tensão de uma corrente alternada. As velhas “bobinas” usadas há alguns anos nos automóveis para elevar até milhares de volts a corrente que fazia saltar uma centelha na vela do interior do cilindro funcionava baseada nos mesmos princípios.

Porém, para aqueles que estiverem interessados em uma explicação mais detalhada a encontrará no artigo < http://users.tm.net/lapointe/HowItWorks.htm > “How Tesla Coils Work” da “Bob’s High Voltage Home Page”, que contém ainda < http://users.tm.net/lapointe/Mini_Tesla_Coil.html > desenhos, especificações e uma foto de uma miniatura da Bobina de Tesla. Ou pode ainda visitar a página < http://bogard.110mb.com/TC2.htm > “Second Generation Tesla Coil” do sítio de Scott Bogard. E, apenas para que se possa ter uma pálida ideia do que ocorria nas vizinhanças do laboratório de Tesla em Pikes Peak, a Figura 1, obtida no sítio de Terry Blake III, mostra o que acontece quando entra em ação uma Bobina de Tesla, muito menor do que a usada pelo próprio, (a figura é uma captura de tela; no < http://www.tb3.com/tesla/ > sítio do autor há diversas delas, animadas, que mostram como os raios efetivamente saltam da bobina; vale a pena conferir).

Figura 1: Bobina de Tesla.

Em menos de um ano Tesla retornou à Nova Iorque convencido que poderia, sim, transmitir energia sem fio a longas distâncias (aos que se interessam pelo assunto e leem inglês, sugiro a consulta ao artigo < http://www.pbs.org/tesla/ll/ll_colspr.html > acima citado que inclui pontos curiosos como, por exemplo, a menção de que, um dia, Tesla notou que um sinal de rádio regular era captado por seu equipamento, achou que estava recebendo mensagens do espaço sideral e anunciou o fato à imprensa; o anúncio, como seria de esperar na época, o levou ao ridículo, ajudando a consolidar a fama de “cientista maluco”; mas, se algum cientista “sério” resolvesse investigar a coisa mais a fundo, descobriria que Tesla na verdade deveria ter sido homenageado como o primeiro ser humano a captar ondas de rádio provindas do espaço exterior, as mesmas que hoje são a razão da existência dos radiotelescópios).

Quem conseguisse transmitir energia a longas distâncias por meio de radiações conseguiria fazer o que melhor entendesse com esta energia no ponto de recepção. Inclusive, evidentemente, decodificar sinais que contivessem informações. E a transmissão sem fio de sinais de rádio já era sobejamente conhecida de Tesla que, como comentado na coluna anterior, em 1898 já havia patenteado, fabricado e demonstrado publicamente um meio de usar ondas eletromagnéticas para transmitir sinais, ou seja, comunicação por rádio, fazendo uma demonstração do primeiro controle remoto via rádio para dirigir um modelo de barco (ver artigo da PBS < http://www.pbs.org/tesla/ll/ll_robots.html > “Race of Robots”).

Em seu retorno a Nova Iorque Tesla publicou um artigo sobre o assunto no Century Magazine que causou sensação. Nele, entre outras façanhas como capturar diretamente a energia solar com uma antena (com antenas, que eu saiba, ainda não dá, mas com células fotoelétricas...), controlar o clima com o uso de eletricidade e fabricar máquinas que acabassem com todas as guerras, mencionava a possibilidade de criar um sistema global de comunicações sem fio.

Este último ponto era crucial. Tão importante que atraiu a atenção, vejam vocês, logo de quem: J. P. Morgan, cujo amor ao dinheiro pairava acima de quaisquer outras considerações morais, éticas e de amizade. O até então fiel parceiro de Edison não se furtou a oferecer a Tesla um montante de US$ 150 mil dólares para financiar pesquisas visando estabelecer “um sistema mundial de comunicações sem fio para transmitir mensagens telefônicas através do oceano, para irradiar notícias, música, relatórios das bolsas de valores, mensagens privadas, comunicações militares seguras, e até mesmo imagens para qualquer parte do mundo. ‘Quando as comunicações sem fio forem totalmente desenvolvidas, a terra se converterá em um imenso cérebro, capaz de reagir em cada uma de suas partes’”. Soa familiar? (“a ‘world system’ of wireless communications to relay telephone messages across the ocean; to broadcast news, music, stock market reports, private messages, secure military communications, and even pictures to any part of the world. ‘When wireless is fully applied the earth will be converted into a huge brain, capable of response in every one of its parts’").

Com o apoio de Morgan, em 1901 Tesla iniciou a construção do laboratório de Wardenclyffe em Shoreham, Long Island, uma gigantesca torre de transmissão de quase sessenta metros de altura coroada por um domo de 20m de diâmetro contendo uma esfera de aço de 55 toneladas (veja Figura 2, obtida no sítio da PBS) e iniciou suas pesquisas com o “Magnifying Transmitter”, um transmissor amplificador capaz de transmitir sem fios tanto sinais de rádio quanto energia elétrica para qualquer ponto do planeta.

Figura 2: o “Magnifying Transmitter” em Long Island.

Note que, enquanto o grande interesse de Morgan era patentear um sistema sem fios para telecomunicações, esta seria apenas uma das funções do dispositivo que Tesla montou em Wardenclyffe. A outra, que de fato era o grande objetivo de Tesla, era transformar a Terra em um gigantesco dínamo capaz de projetar energia elétrica em quantidades ilimitadas para todo o mundo. Ou seja: fornecer eletricidade em quantidades ilimitadas, sem fio, para qualquer ponto do planeta. Algo que ele considerava essencial para melhorar as condições de vida da humanidade, especialmente nos países menos desenvolvidos e mais carentes de tecnologia.

Neste ponto, uma pequena interrupção para testar nossa cultura geral.

Responda depressa: quem inventou o rádio?

A depender daquilo que se aprendeu na escola (e, naturalmente, a depender da escola...) o primeiro nome que nos vem à mente (pelo menos à minha) é o do inventor italiano Guglielmo Marconi.

Mas faça uma experiência. Abra o Google e digite na caixa de entrada o texto “quem inventou o rádio”. Para sua surpresa (eu, pelo menos, me surpreendi) você obterá mais de um milhão de retornos e descobrirá que o assunto ainda está em disputa aberta, com diferentes países reivindicando para um de seus cidadãos a primazia da transmissão radiofônica inclusive, ora vejam só, o nosso amado patropi, já que diversos destes retornos afirmam que a primeira transmissão de “som a distância sem a necessidade de fios” foi feita em 3 de junho de 1900, em São Paulo, pelo padre gaucho Landell de Moura.

Portanto, em face de tanta controvérsia, melhor deixar de lado a confusão e refazer a pergunta: quem é o detentor da patente do rádio?

Bem, aí fica mais fácil, já que basta consultar o Registro de Patentes. No caso, o Registro de Patentes americano, onde se deu a contenda. A consulta nos levará a descobrir que entre 1896 e 1904 Tesla e Marconi iniciaram uma disputa requerendo, cada qual, a patente para si. O assunto esteve pendente e em discussão até 1904, quando finalmente o U.S. Patent Office, que havia previamente garantido a patente a Tesla, revogou sua decisão e declarou que Marconi detinha a patente da invenção do rádio.

Portanto, assunto encerrado.

Ou não?

Não. Houve desdobramentos.

Porque, pela patente em si, Tesla não se incomodou muito (como sabemos, seu apego ao dinheiro era nenhum e quando indagado sobre o assunto, respondia: “Marconi é um bom sujeito. Deixe-o em paz. Mas ele está usando 17 de minhas patentes...”). Mas quando, em 1911, o “invento” levou Marconi a receber o Premio Nobel, o velho Nicola subiu nas tamancas. Aí também era demais, pensou ele. E em 1915 processou a Marcony Company por quebra de patente. A pendenga durou até meados de 1943, infelizmente alguns meses depois da morte de Tesla, quando a Suprema Corte Americana fez com que a decisão fosse novamente revertida e concedida a Tesla a patente 645.576 pela invenção do rádio.

Portanto, hoje, o detentor da patente do rádio é Tesla (mais detalhes no artigo < http://www.pbs.org/tesla/ll/ll_whoradio.html > “Who Invented Radio”, da PBS).

Mas, em 1904, era Marconi. O que fez com que J. P. Morgan voltasse a discutir o problema com Tesla. Porque, mesmo que ele viesse a aperfeiçoar sua técnica de transmissão por ondas de rádio, grana, que era bom (para Morgan, naturalmente) não haveria de pingar, já que a coisa já estava patenteada. Então, para o que mais serviria o “Magnifying Transmitter”?

Ora, para transmitir energia elétrica para todo o globo terrestre, afirmou Tesla, orgulhoso. O que fez Morgan se interessar pelo assunto. Afinal, geração e distribuição de eletricidade sempre foi – e sempre será, ao que parece – um negócio rentável. E pediu detalhes.

A conversa prosseguiu, despertando um interesse cada vez maior em Morgan. Até o ponto em que ele se deu conta que, da forma como concebido, a energia gerada e distribuída pelo “Magnifying Transmitter” não poderia ser controlada e medida, portanto estaria ao alcance de qualquer um e teria que ser gratuita.

Assim que percebeu que estava, de fato, financiando um projeto que, embora trouxesse imensos benefícios para a humanidade, não poderia reverter em lucros, Morgan encerrou a conversa (e o financiamento) com uma frase lapidar: “Se qualquer um pode receber a energia, onde nos vamos instalar o medidor?” (If anyone can draw on the power, where do we put the meter?). E abandonou Tesla à sua própria sorte.

Tesla ainda tentou continuar as pesquisas com seus parcos meios, mas acabou tendo que interromper o projeto em 1905. Há quem diga que o fez por falta de recursos (nesta altura dos acontecimentos sua reputação de “cientista maluco” já estava solidamente estabelecida o que naturalmente fez escassearem as fontes de financiamento). Mas há também quem diga que a verdadeira razão foi o receio que sua invenção fosse cooptada e adaptada para uso como arma de guerra.

O fato é que o laboratório de Wardenclyffe foi abandonado. Partes do prédio ainda existem hoje, na Alameda Tesla (pelo menos isso...), em Long Island, usadas por uma indústria que o adquiriu. Mas, da torre monumental, só restaram vestígios das fundações, já que o governo americano a dinamitou em 1917, no transcurso da primeira guerra mundial, por razões de segurança.

Daí para frente Tesla caiu em descrédito e passou a ser tratado quase que como uma figura folclórica. Passou os últimos anos de sua vida quase pobre, praticamente isolado, até morrer sozinho em seu quarto de hotel. Sua solidão era tão intensa que não se sabe a data exata de sua morte. Sabe-se que em sete de janeiro de 1943, após alguns dias sem que ninguém o visse, uma camareira entrou em seu apartamento e encontrou seu corpo sem vida em uma poltrona.

Ao morrer aos 87 anos Tesla detinha mais de 700 patentes (veja a lista parcial no sítio da < http://www.bgdelektro.co.yu/english/nikola%20tesla%20eng.htm > “Beogradelektro”). Algumas, absolutamente inesperadas: quando certo fabricante de computador tentou patentear as portas lógicas digitais depois da Segunda Guerra Mundial, o Escritório de registro de patentes dos EUA afirmou que Tesla detinha patentes que, desde a virada do século, lhe garantiam prioridade na implementação elétrica de portas lógicas para comunicações seguras, sistemas de controle e robótica. Com isto ele, sem o saber, impediu que se formasse um certamente desastroso monopólio privado em lógica eletrônica nos anos 1950.

Sua morte ocorreu em pleno decurso da segunda guerra mundial. Havia grande preocupação do Governo Americano quanto ao eventual conteúdo de suas anotações, já que muitas delas poderiam servir de base para o desenvolvimento de artefatos bélicos. Por isso, todo o material encontrado em seus aposentos foi sequestrado pelo Governo Americano. Segundo relatórios oficiais, a documentação foi microfilmada, mas nenhum órgão confirma a existência de qualquer microfilme. O governo dos EUA alega oficialmente que em 1952 os documentos foram liberados e enviados para Belgrado, atual capital da Sérvia (mas que na época pertencia à extinta Iugoslávia, que englobava ainda a Croácia), onde foi erigido um pequeno museu em sua homenagem. Mas lá, também, ninguém sabe deles. Seu paradeiro até hoje é um mistério.

O que é certo é que as ideias de Tesla eram demasiadamente avançadas para seu tempo.

Com a extraordinária visão que lhe era característica, Tesla foi um pioneiro em questões ambientais. Ele foi o primeiro cientista a externar suas preocupações em relação às fontes de energia fósseis, esgotáveis, e propor o uso de energia renovável. Em 1901, há mais de um século, quando o consumo de gasolina e derivados de petróleo para fins energéticos ainda era quase desprezível (o automóvel já existia, mas era fabricado artesanalmente), Tesla escreveu: “Se nós continuarmos a usar gasolina para produzir eletricidade estaremos vivendo de nossas reservas que serão exauridas rapidamente. Este método é bárbaro e imoralmente esbanjador e terá que ser interrompido no interesse das futuras gerações” (If we use fuel to get our Power, we are living on our capital and exhausting it rapidly. This method is barbarous and wantonly wasteful and will have to be stopped in the interest of coming generations).

Saber que isto foi dito há mais de um século é quase tão espantoso quanto constatar que, em todo este tempo, pouco ou nada se fez para impedir o desperdício. O petróleo, cuja maior parte é alegre e irresponsavelmente queimada para mover automóveis de algumas toneladas que transportam, na maioria dos casos, um ou dois indivíduos, é a única matéria prima da indústria petroquímica, indispensável para a fabricação de quase tudo o que nos cerca, de computadores a embalagens. Para mim, sendo ele um recurso não renovável, é incompreensível que a humanidade não tenha se dado conta disso e continue queimando estupidamente as últimas reservas de matéria prima. Afinal, nós somos as “gerações futuras” a que Tesla se referia e, apesar de hoje alguns indivíduos compartilharem de suas preocupações, continuamos usando rigorosamente o mesmo método “imoralmente esbanjador” para produzir energia automotriz.

Tesla foi uma figura extraordinária. Embora aparentemente arrogante, foi sempre consciente de sua falibilidade e sabia que somos todos a soma de nossos erros e acertos. É dele a frase: “Nossas virtudes e nossas falhas são inseparáveis, como a energia e a matéria. Quando elas se separam, não mais existe o homem” (Our virtues and our failings are inseparable, like force and matter. When they separate, man is no more).

Suas afirmações e teorias, mesmo aquelas responsáveis por sua reputação de “cientista louco”, revelaram-se impressionantemente verazes – embora, isto só fosse compreendido décadas depois de sua morte.

Acertou quase todas.

Só errou quando disse: “Deixemos o futuro dizer a verdade e avaliar cada um de acordo com seu trabalho e realizações. O presente é deles. O futuro, pelo qual eu realmente trabalhei, é meu” (Let the future tell the truth and evaluate each one according to their work and accomplishments. The present is theirs. The future, for which I really worked, is mine).

Infelizmente não foi assim. As poucas homenagens que a humanidade prestou a Tesla resumiram-se a dar seu nome à unidade de indução magnética do sistema MKS (1 tesla = 1 weber/m2) e estampar sua efígie em algumas das notas de dinar, moeda da extinta Iugoslávia. Além disso e da Alameda Tesla, uma viela deserta em Long Island, há o pequeno museu erigido em sua homenagem em Belgrado e a estátua em Niágara.

Que eu saiba, mais nada.

Mas, levando em conta o velho aforismo afirmando que “a humanidade não deu certo”, não creio que a culpa seja do bom Tesla.

A culpa é da humanidade...

 

B. Piropo