Sítio do Piropo

B. Piropo

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26/01/2009

< Windows 7 Beta I: Primeiras impressões >


Esta coluna está sendo digitada em um micro rodando Windows 7 Ultimate, versão beta 7.000, original, “build”  x86_x15_29063, em inglês (o único idioma disponível quando foi obtida), instalada e ativada em minha máquina reserva. A máquina está equipada com um processador Intel Core 2 Duo 6320, 4 GB de memória RAM e controladora de vídeo NVIDIA GeForce 7100 GS. O “Windows Experience Index” (índice que mede a aptidão do conjunto para rodar o SO) alcançou o valor relativamente baixo de 3,1 (o máximo, agora, é 7,9) devido ao desempenho sofrível da controladora de vídeo (que, não obstante, é suficiente para aceitar todas as gracinhas da interface Aero). Os demais componentes receberam índices individuais superiores a cinco.

Figura 1: o Logo do Windows 7.

Tentei instalar originalmente o “build” x64_x15_29064 desenvolvido para máquinas equipadas com processadores “de 64 bits” como esta que vos escreve, mas por alguma razão a instalação refugou. Tive que me contentar então com a versão para processadores “de 32 bits”. Li em algumas resenhas que a instalação demora quinze minutos. Aqui, por razões que só quem pode explicar são Deus ou Bill Gates (como costumo comentar, há quem ache que são a mesma pessoa), demorou quase 24 horas. Mas, como a instalação praticamente não exige intervenção do usuário, por paradoxal que possa parecer (exceto pela demora inusitada) transcorreu sem maiores percalços e terminou com o sistema instalado “nos trinques”.

Feita a instalação e após fornecer o nome da máquina, minha identidade de usuário, senha e número de série para ativar o SO, eu estava diante de um sistema que, sem qualquer ajuste adicional de minha parte, reconheceu minha rede doméstica e a ela se conectou, percebeu que havia dois monitores ligados à placa de vídeo e estendeu a Área de Trabalho para ambos, reconheceu a conexão via cabo à Internet e se pôs prontamente à disposição para ser usado imediatamente. O único dado adicional que precisei fornecer foi o nome do “Grupo de Trabalho” para que ela se conectasse e reconhecesse o compartilhamento de recursos com as demais máquinas da rede (são três ao todo, incluindo um micro portátil com conexão WiFi). Em se tratando de uma versão beta, não há muito a reclamar (a demora, desconfio, foi devida a um ajuste indevido no “setup” da máquina; quando eu instalar a próxima versão beta após fazer a devida alteração, poderei – ou não – confirmar esta desconfiança e relatarei os resultados). A Figura 2 mostra o aspecto do monitor principal após instalar o sistema e o Office 2007 e fazer algumas alterações de fundo e coisas que tais.

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Figura 2: sistema instalado.

Então vamos adiante. Antes, porém, há que esclarecer que esta coluna não se destina a fornecer informações técnicas detalhadas sobre o novo (novo?) SO da MS, mesmo porque ainda não as conheço. Destina-se apenas a fornecer minhas primeiras impressões – se é que elas a alguém interessam – sobre o Windows 7 e comentar as alterações mais evidentes quando comparado ao Vista.

Mas, antes de abordar diretamente o assunto, acho que cabe mencionar um fato curioso que constatei ao rever resenhas de terceiros sobre o Windows 7: a manifestação, aguda como nunca vi antes, da “síndrome da torcida de futebol”.

Explico: torcidas de futebol são naturalmente agueridas. Nos tempos em que havia futebol no Brasil e se podia ir aos estádios para ver jogar Pelé, Zizinho, Gérson, Rubens, Ademir (não o da Guia, o outro, melhor, que lhe emprestou o nome), Domingos (o pai do da Guia, que homenageou o colega dando seu nome ao filho), Heleno de Freitas (uma espécie de Edmundo, porém civilizado), Didi, Garrincha, Nilton Santos e companhia, os torcedores eram adversários ferrenhos. Depois, passou o tempo, o futebol acabou (pelo menos por aqui; agora os que, quem sabe, serão bons jogadores, vão procurar outros ares ainda meninos) e os um dia adversários passaram a inimigos. E volta e meia se lê que um pobre coitado foi baleado ou espancado até a morte apenas porque ousou envergar a camisa deste ou daquele clube em local público, um ponto de ônibus ou estação de metrô. As razões que fazem com que um indivíduo seja capaz de odiar outro até a morte apenas porque ele não compartilha suas preferências por este ou aquele clube, definitivamente, me escapam. Por mais que pense sobre elas, por mais que procure entendê-las (já que, justificá-las, não há como), não consigo. Elas estão muito além e acima da humilde compreensão deste velho colunista. Mas existem. São um fato. O número de mortes, agressões e batalhas (sem licença poética; são efetivamente batalhas travadas por os dois bandos armados e visando eliminar os inimigos do rol dos vivos) entre torcidas aumenta a cada dia, tanto nas grandes cidades brasileiras como em algumas europeias.

Pois bem: como esta coluna visa apenas exprimir minha opinião, e opinião não se copia, antes de pô-la no ar (pô-la! Que língua...) decidi consultar a Internet para ver que tipo de impressão a nova versão do sistema operacional havia causado nos confrades, já que a mim ela pareceu um tanto xoxa, se é que me explico. E, mesmo estando farto de saber que quando se trata de produtos da Microsoft os comentários dos usuários parecem muito com os comentários dos torcedores sobre seus clubes preferidos (ou odiados), confesso que desta feita me surpreendi com a intensidade das manifestações do fenômeno – que batizei de “síndrome da torcida de futebol”. Porque agora, tanto os excessos de elogios dos que “torcem” a favor da MS quando as diatribes dos que “torcem” contra atingiram tal paroxismo que não mais se limitaram aos usuários, mas partiram dos próprios analistas. Foi como se, nesses programas de TV de alto nível cultural onde intelectuais teoricamente imparciais se reunem para elaborar teorias filosóficas sofisticadas e debater cor ar de extrema seriedade as razões transcendentais que levaram tal ou qual clube ganhar, perder ou empatar determinada partida, de repente, sem mais aquela, os partipantes perdessem completamente o pudor e a imparcialidade e começassem a “torcer” abertamente para tal ou qual clube (é claro que eles costumam fazer isso, porém em geral mantêm uma postura hipocritamente isenta). Em suma: os comentaristas viraram torcedores. E, confesso, foi difícil encontrar resenhas imparciais que analisassem o produto propriamente dito sem levar em conta as preferências dos analistas.

Exemplos há aos montes, mas vou citar apenas dois: o artigo de Preston Galla no Computerworld ...
< http://www.computerworld.com/action/article.do?command=viewArticleBasic&articleId=9119378 >
...“Windows 7 in-depth review and video: This time Microsoft gets it right” que, entre outras asserções, afirma que com Windows 7 “aqueles que querem um Vista que funcione melhor, com as imperfeições corrigidas e alguns elegantes complementos introduzidos ficarão muito satisfeitos” ( those who want a better-working Vista with the kinks ironed out and some nifty new features introduced will be very pleased) e, em contraponto, o de Randall Kennedy no InfoWorld,...
< http://weblog.infoworld.com/enterprisedesktop/archives/2008/10/windows_7_oops.html?source=NLC-DAILY&cgd=2008-10-29 >
...“Windows 7: Oops! Microsoft did it again!”, que afirma “Eu vi o futuro e ele é desanimador. Windows 7, a nova grande versão, aquela que supostamente iria consertar tudo que havia de errado em Vista está aqui e... posso dizer ... que mais uma vez a Microsoft ‘pisou na bola’” (I have seen the future, and it is bleak. Windows 7, the next big version, the one that was supposed to fix everything that was wrong with Vista, is here and I can now say that Microsoft has once again dropped the ball). Porém o mais curioso não são os comentários em si mesmo, mas o ar de orgulho com que Galla cita em seu artigo as eventuais melhorias do sistema e o de evidente regozijo com que Kennedy comemora as falhas. E o mais extraordinário é que, se alguém conseguir extrair o mel do artigo de Galla e o veneno do de Kennedy, verá que eles dizem praticamente a mesma coisa. Que pode ser resumida em uma frase: Windows 7 nada mais é que Vista com pequenas alterações que visam atender as reclamações dos usuários. E ambos estão certos.

Como eu vou aqui fazer uma resenha do sistema e, querendo ou não, terei que externar minhas preferências, fica esclarecido desde agora que gosto do Vista, tenho trabalhado com ele há mais de ano e não tenho muito do que me queixar. Vou tentar ser tão imparcial quanto possível, mas convém levar este fato em consideração ao ler esta coluna e as que se seguirem sobre o mesmo tema.

Então, vamos em frente.

O que é Windows 7?

Em princípio, deveria ser uma evolução de Windows Vista. Mas não é. Na verdade Windows 7 é o próprio Windows Vista, revisto, melhorado em alguns pontos, piorado em outros (mas também isto é questão de opinião) e com novo nome.

Se mudou tão pouco, então por que o lançamento?

Bem, gostando ou não gostando de Vista, há que se admitir que ele foi algo muito próximo a um tiro n’água. Embore as vendas continuem crescendo, e crescendo mais rapidamente que qualquer outra versão ou sistema operacional (segundo minha fonte predileta – e confiável – de estatísticas da Internet, o < http://www.w3schools.com/browsers/browsers_os.asp > W3Schools, um ano após seu lançamento Vista ocupa a segunda colocação no mercado de sistemas operacionais com 15,6% do mercado, três vezes mais que o Mac OS que está em terceiro lugar), este crescimento pode ser considerado muito baixo em se tratando da nova versão do sistema operacional da Microsoft para micros da linha PC. Particularmente se considerarmos que a liderança continua indiscutívelmente nas mãos da versão “velha” do SO da mesma MS para a linha PC, Windows XP, com mais de 70% do mercado. Portanto não é preciso ser um gênio mercadológico para constatar que desta vez algo deu errado com a estratégia de marquetingue da turma de Seattle. Ou seja: bom ou ruim, seguro ou inseguro, bonito ou feito, não importa: Vista não “caiu no gosto” dos usuários. E por mais que a MS tentasse aumentar sua fatia de mercado (em alguns casos, como reportam os compradores de micros portáteis que vêm com o sistema instalado e não permitem a troca pelo velho XP, “empurrando-o goela abaixo” dos usuários), o bicho não foi para a frente.

Note que não se trata de discutir as qualidades ou defeitos do sistema. Trata-se apenas de constatar o inevitável: passado um ano do lançamento, Vista não “vingou”.

Então fazer o que?

Bem, havia duas alternativas radicalmente distintas. A primeira, a ser adotada caso a MS considerasse o sistema tecnicamente ruim, seria simplesmente jogá-lo fora e partir para o desenvolvimento de algo melhor e bastante diferente, como foi feito no caso do malfadado Windows ME. A segunda, a ser adotada caso a MS considerasse o sistema eficiente do ponto de vista técnico e operacional, consistiria em descobrir por que diabos ele encalhou nas prateleiras pesquisando entre os usuários e não usuários, particularmente entre aqueles que reclamam do sistema, que pontos, na opinião de fulano ou beltrano, impediram o sistema de ser bem sucedido do ponto de vista mercadológico. E procurar alterá-lo eliminando aqueles pontos rejeitados pela maioria dos usuários, mantendo o “miolo” (“kernel”, para os mais exigentes) do sistema praticamente intato.

Este último foi o caminho escolhido pela MS. E se você está interessado nos detalhes, consulte o artigo do PC World < http://www.pcworld.com/article/153624/under_the_hood_windows_7_is_vistas_twin.html >  “Under the Hood, Windows 7 Is Vista's Twin” do próprio Randall Kennedy que, como sabemos, não é propriamente um grande fã da MS.

Em suma: no que toca à operacionalidade propriamente dita (afinal, trata-se de um sistema operacional...) Vista e Windows 7 são essencialmente iguais. Portanto, o “kernel” manteve-se inalterado (segundo Kennedy, foram acrescidas apenas três “threads” às 97 que Vista carrega em sua configuração padrão).

Então, o que mudou?

Bem, as mudanças mais óbvias visaram, naturalmente, satisfazer às reclamações mais frequentes. Por exemplo: uma reclamação recorrente entre os novos usuários de Vista tem a ver com as numerosas interrupções causadas pelas notificações solicitando autorização para isto ou aquilo emitidas pelo controle das contas de usuário (UAC, ou User’s Account Control). Pois bem: para atender a este tipo de reclamo a MS incluiu no Painel de Controle a janela de ajustes do UAC (Control Panel >> System and Security >> Action Center >> User Account Control settings) que permite selecionar os eventos que podem ou não disparar notificações, desde o nível correspondente ao controle restrito imposto por Vista a contas de usuários que não detêm privilégios de administrador até um nível de proteção tão baixo que a emissão de notificações é inteiramente inibida, o que corresponde a desativar totalmente a proteção oferecida pelo UAC. Eu não consigo entender que motivos poderiam levar um usuário sensato a desativar completamente um sistema de proteção de seu micro contra malwares nos dias de hoje, mas como havia tanta gente boa reclamando, a opção agora existe. Ficam aqui expressos meus votos de que aqueles que adotarem esta prática tenham a proteção do UAC substituida pela proteção divina. Eles vão precisar.

Figura 3: User Account Control settings.

Outra alteração que também veio atender aos anseios do que parece ser a maioria dos usuários foi a eliminação da “Barra Lateral”. Parece que muita gente achava que ela tomava demasiado espaço na tela e que os benefícios que trazia eram poucos para justificar sua existência. Mas aqui, ao contrário do que fez com o UAC onde apenas foram acrescentadas opções, a MS foi radical e simplesmente exterminou a pobre coitada. É verdade que os pequenos aplicativos (“gadgets”) que nela repousavam ainda podem ser instalados e mantidos na Área de Trabalho. Mas a barra propriamente dita, esta foi-se, e ao que parece para sempre. Mas deixou alguns usuários saudosos. Afinal, para quem estende a Área de Trabalho para dois monitores colaterais com formato de tela larga (“wide screen”) como este pobre colunista que vos escreve, a área ocupada pela Barra Lateral era absolutamente irrisória e não fazia a menor falta. E era justamente nela que eu costumava acomodar calendário, relógio, indicador de consumo de memória RAM, UCP e até mesmo um pequeno retângulo com a previsão do tempo, além de uma miniatura de “show de slides” que exibia aleatoriamente fotos contidas em minha pasta de imagens. A Barra de Tarefas vai me fazer falta, mas o que fazer? Se era desejo da maioria exterminá-la, lixo com ela. E para o lixo ela foi.

Outra vítima da sanha dos usuários insatisfeitos foi a barra “Iniciar rapidamente”, que era opcional e agora desapareceu para todo o sempre. Para quem não lembra: trata-se daquele pequeno trecho da esquerda da Barra de Tarefas, junto ao menu Iniciar, onde podia-se manter pequenos ícones dos programas mais usados para que pudessem ser invocados rapidamente. Havia quem gostasse dela, havia quem a detestasse. É fato que quem a detestava sempre tinha a possibilidade de clicar com o botão direito sobre a Barra de Tarefas para abrir seu menu de contexto e desmarcar a entrada correspondente à barra “Iniciar Rapidamente”, fazendo-a desaparecer. Mas também é fato de que pouca gente sabia disso. Por outro lado, nada impedia que, se um ou outro ícone de programa ali contido estivesse incomodando, fosse eliminado clicando sobre ele com o botão direito e escolhendo a opção “Excluir”. Assim como novos ícones poderiam ser acrescentados simplesmente arrastando seus atalhos para lá. Mas, disso, menos gente ainda sabia. E, pior: alguns programetos safados costumavam criar novos ícones ali, com ou sem autorização do usuário, que se não soubesse como se livrar deles acabaria com uma barra de tarefas congestionada. Tendo em vista tudo isto, a MS acabou por adotar uma atitude radical: matou a barra “Iniciar Rapidamente”. Em Windows 7 a barra já era.

Mas isto, pelo menos, foi compensado. Pois Windows 7 conseguiu um jeito de melhorar tanto a própria Barra de Tarefas que ela, agora, além das suas e mais algumas que lhe foram incorporadas, pode cumprir as funções da barra “Iniciar Rapidamente”. O que pode ou não ser considerado uma vantagem.

Mas esta coluna já está grande demais. Vamos deixar para comentar este e alguns outros detalhes mais adiante.

Até lá.

 

B. Piropo