Sítio do Piropo

B. Piropo

< Coluna em Fórum PCs >
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01/06/2009

< A Computex 2009 começa com estilo >


Taipei, Taiwan - Em dezembro passado estive aqui para participar do anúncio para a imprensa internacional da Computex 2009 e relatei as expectativas dos organizadores na coluna Computex Taipei 2009. Elas refletiam uma postura extremamente otimista para a ocasião, pouco mais de um trimestre da eclosão da crise econômica que ainda afeta – e muito – a economia mundial. Mas como o otimismo parecia apoiado em bases sólidas e em decidido suporte do governo local, não havia razão para duvidar dele. Havia apenas que esperar para ver.

O problema é que no caminho a gripe suína se somou à crise. E, em tempos de pânico internacional onde as autoridades sanitárias dos aeroportos de todo o mundo estão em polvorosa em busca de passageiros febris (em Tóquio, um dos que desembarcaram do mesmo avião que eu foi retido para quarentena...), reunir 35 mil visitantes internacionais oriundos de todo o planeta em quatro pavilhões apinhados de gente (o total de visitantes esperado até o final da feira chega à casa dos cem mil), aí sim, me pareceu uma façanha quase inexequível. E confesso que desta vez enfrentei com certo desânimo as quarenta e três horas de viagem que me trouxeram até aqui (27 dentro de diferentes aviões, dezesseis esperando para neles embarcar em chatíssimas salas de embarque de quatro diferentes aeroportos).

Pois bem: hoje, depois de assistir a cerimônia de abertura, dois fóruns técnicos e de perambular ainda meio sem rumo naqueles pavilhões apinhados, só me resta repetir uma frase que de quando em vez ouvia da sábia boca de D. Eulina: chinês é um povo danado...

Pois não é que os caras acertaram com uma margem de erro de apenas um por cento?

Figura 1: Pavilhão de Nangang

A exposição se distribui por quatro pavilhões. Três deles em torno do Taipei 101, um prédio de 101 pavimentos que há alguns anos detinha a marca de ser o mais alto do mundo e que se constitui no marco da cidade de Taipei. O quarto, o maior deles e com estandes distribuídos em dois imensos andares, a alguns quilômetros de distância, em Nangang. O que não faz muita diferença já que a organização do evento providenciou transporte permanente e gratuito para os participantes da feira não apenas entre os pavilhões como também entre estes e os hotéis e aeroportos. E – para nós, brasileiros, surpreendentemente – tudo funciona a tempo e a hora. A organização trabalhou com uma meticulosidade, ahn, como dizer? Ah, sim: chinesa.

Os estandes foram distribuídos em doze grupos temáticos, cada grupo ocupando uma área delimitada de seu pavilhão, o que facilita encontrar o que se deseja mesmo em uma feira tão dispersa como esta. Resultado: acha-se com facilidade qualquer um dos 4.498 (repare a precisão; dá até vontade de conferir...) estandes de 1.712 expositores provenientes de dezenas de países, inclusive uma solitária empresa brasileira, a paraense Bematech. Mesmo porque, quem não achar, sempre contará com a ajuda de centenas de atentos jovens angloparlantes (ou quase) contratados especialmente para prestar assistência aos estrangeiros.

Figura 2: Pavilhão TWTC Hall 1, vista parcial

Paralelamente à exposição, ocorrem os eventos. E há evento para todo o gosto, desde que tenha alguma coisa a ver com informática e tecnologia de comunicações. O que faz pensar que os cinco dias pelos quais a feira se estende são um tempo demasiadamente curto para quem quer ver tudo. A solução é, portanto, não ver tudo: seleciona-se aquilo que mais interessa e fixa-se a atenção ali. Mesmo porque quem se dispuser a ver tudo corre o risco de intoxicação por overdose de informação. Afinal, esta é a segunda maior feira de informática e telecomunicações do mundo e pela disposição do pessoal daqui de Taiwan, caminha bravamente para ser a primeira – que, por enquanto, é a CeBIT de Hannover.

Nestes dois dias iniciais, além da cerimônia de abertura, dediquei minha atenção aos prêmios anuais que a feira oferece, a dois seminários técnicos e a uma incursão exploratória sem compromisso pelos pavilhões. E olhe lá...

A cerimônia de abertura foi breve. Yuen Chuan Chao, presidente do Conselho para Desenvolvimento do Comércio Internacional de Taiwan, TAITRA, um dos organizadores do evento, fez uma breve saudação aos participantes, depois falou o prefeito de Taipei e demais autoridades. O que impressionou foi o tom sempre otimista de todos. Com crise ou sem crise – e não há dúvida que a crise existe – parece que eles estão dispostos a tocar adiante com muita disposição.

Chao lembrou que no próximo ano a Computex chegará à sua trigésima edição cada vez mais saudável e reiterou que, apesar da crise, foi a única feira internacional que não teve sua edição de 2009 reduzida (as edições deste ano das duas maiores concorrentes, a Consumer Electronics dos EUA e CeBIT da Alemanha, sofreram uma redução de cerca de 20%). Ele atribui isso à criação de uma robusta infraestrutura industrial e a maciços investimentos em pesquisa e desenvolvimento que permitiram o crescimento de empresas locais como Acer, ASUS, Gigabyte, MSI, Transcend e Zyxel. Com eles, e com a ajuda de grandes nomes internacionais da indústria de informática e telecomunicações, como AMD, Hitachi, Intel Microsoft, NVidia, SanDisk e muitos outros, a idéia é ultrapassar a CeBIT em tamanho e importância, fazendo da Computex o evento mundial mais proeminente na área de TI.

Figura 3: Ike Harris – HP

A abertura foi seguida pelo primeiro seminário, o “CEO Summit Forum”, um conjunto de palestras de dirigentes de grandes empresas com foco naquilo que, mal traduzindo (mas não há como traduzir melhor...) chamam de “computação verde” e que engloba os esforços da comunidade da tecnologia de informação para reduzir as agressões ao meio ambiente. Na palestra de abertura Ike Harris, da HP, detalhou os esforços de sua empresa não apenas na economia de energia – principal preocupação da indústria no que toca ao meio ambiente – mas também em toda a sua cadeia produtiva, que se preocupa não apenas em evitar danos ambientais durante a fabricação e uso dos produtos como também depois que eles tiverem se tornado inservíveis, fabricando-os de forma a facilitar a reciclagem. O que fez com que o uso de metais fosse reduzido em mais de 50% nos produtos de última geração da HP e o de plástico em cerca de 25%. Com estas providências a HP conseguirá recuperar 900 mil toneladas de produtos eletrônicos até 2010 e eliminar totalmente o uso de mercúrio neles até 2012 (mercúrio, ainda usado em pequenas quantidades nos monitores de telas planas, é um metal pesado altamente agressivo).

Figura 4: Warren East – ARM

A palestra de Harris foi seguida pela de Warren East, presidente da ARM, conhecida fabricante de microprocessadores de pequena capacidade de processamento e mínimo consumo de energia para dispositivos móveis e de eletrônica embarcada. Ele ressaltou a importância de seus produtos no que toca à conservação de energia lembrando que a grande maioria dos processadores de grande capacidade de processamento raramente usa mais de dez por cento desta capacidade, mas o consumo de energia não se reduz proporcionalmente, enquanto os microprocessadores concebidos especificamente para equipamentos e missões de baixa necessidade de processamento permitem uma redução significativa deste desperdício.

Figura 5: Daniel Alegre – Google

O terceiro e último palestrante foi Daniel Alegre, vice-presidente do Google, que focou sua apresentação no Android, um pacote de software que inclui um sistema operacional, utilitários e aplicativos básicos para dispositivos móveis, e na economia de energia que ele proporciona pelo fato de ser um produto “leve”, especialmente concebido para sistemas de baixa capacidade de processamento.

O segundo seminário foi o e21 Forum 2009, um “evento dentro do evento” já em sua décima edição, que reúne as empresas que ocupam a liderança mundial na área de TI para discutir suas principais realizações.

Figura 6: Sean Maloney - Intel

O fórum foi aberto pela Intel. Sean Maloney, vice-presidente executivo da empresa, falando para um auditório lotado por duas mil pessoas, iniciou sua palestra comemorando a fabricação da bilionésima placa-mãe para processadores Intel pelas indústrias de Taiwan. E, além de mostrar um impressionante conjunto de dezenas de modelos, exortou os fabricantes presentes para atingirem mais depressa o segundo bilhão. Em seguida apresentou a nova família de processadores móveis de voltagem ultrabaixa que ensejarão a criação de micros portáteis (“notebooks”) com menos de uma polegada de espessura e baixíssimo consumo de energia. E exibiu pela primeira vez a Pine-Trail, próxima geração da plataforma para o processador Atom que reduz para dois o conjunto de CIs do chamado “chipset” (um deles é o próprio processador, que incorpora o controle da memória e outras tarefas antes desempenhadas pela chamada “south bridge”) o que não apenas melhora o desempenho como reduz a temperatura de operação e o consumo de energia. Em seguida Maloney anunciou o lançamento dos processadores Lynnfield e Clarksfield para o segundo semestre deste ano e o do Westmere (o primeiro da geração de 32 nm) para o início do próximo.

Maloney ressaltou a importância dos novos “netbooks” no processo da inclusão digital pela redução de custos que oferecem e facilidade de uso, inclusive por crianças. E, para demonstrar os efeitos da tecnologia na educação, convocou um grupo de seis crianças, de idade entre sete e dez anos, para uma competição no palco. A competição consistia em encontrar, na internet, informações sobre um dado tema – no caso, um cantor local que, pelo visto, goza de imensa popularidade entre as crianças e que se apresentou no final da competição. Eu não sei não, mas ou aquelas crianças são pequenos gênios ou eu tenho muito que aprender no que toca à metodologia de efetuar buscas pela rede...

Depois, a cerimônia de entrega dos prêmios. Que vocês logo vão poder conferir < http://www.computextaipei.com.tw/awards/select.shtml > na página correspondente do sítio da Computex. O grande vencedor foi o Acer Aspire 3935, uma máquina realmente soberba: com menos de 2,5 cm de espessura, bateria cuja carga dura dez horas, tela de alta definição de 13,3” e um belíssimo gabinete de aço escovado, ele é realmente um objeto de desejo.

Mas não posso deixar de chamar a atenção de vocês para um produto surpreendente.

Figura 7: ventoinha para UCP SpinQ, da Thermaltake

Pois o prêmio foi de “Design & Innovation” (D&I Award) e o vocábulo “design” não significa “desenho”, como tantas vezes se vê por aí. Significa “projeto”, “concepção”, e o que se considera um bom “design” tem muito a ver com a forma e o aspecto do produto. Ou seja: reduzido à sua expressão mais simples, “design” é quase um sinônimo de “beleza”.

Pois bem, um dos cinco vencedores do “Golden Award”, a categoria mais importante dentre os prêmios D&I, foi a ventoinha para UCP SpinQ, da Thermaltake, um exemplo extraordinário e inesperado de como se pode integrar beleza a algo de qual se espera sobretudo eficiência. Pois não deixa de ser surpreendente que um dos mais importantes prêmios da Computex 2009 tenha sido – muito merecidamente, diga-se de passagem – outorgado à beleza de um produto destinado a permanecer oculto nas entranhas de um PC...

 

B. Piropo