Sítio do Piropo

B. Piropo

< Coluna em Fórum PCs >
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14/03/2011

< Vinte anos >


Semana passada, em uma de minhas visitas ao Twitter para informar que havia publicado mais uma coluna em algum lugar, dei uma olhada nos “tweets” de meus amigos e lá estava um da Cristina De Luca. Aqui está ele:

Como vocês podem ver, é datado de cinco de março. Fui fuçar minhas coisas e lá estava minha primeira coluna publicada: < http://www.bpiropo.com.br/tz910304.htm > “Tudo o que você queria saber sobre Micros e tinha medo de perguntar...”
Data: quatro de março de 1991.
Vinte anos...
Reli-a. Não estava tão má assim. Na verdade, pensando bem, estava até melhor que muitas das que venho escrevendo ultimamente. O que me fez concluir que não sou como o vinho: o tempo não me fez melhorar e, se duvidar, piorei um pouquinho – se bem que, relendo a coluna, dá para constatar que naqueles dias eu era bem mais “empolado” que atualmente. Mas será que hoje em dia eu teria inspiração para escrever uma frase como “Foi assim que aprendi que a memória RAM é mais efêmera que paixão de adolescente”? E, depois, arrematar com “acreditem, descobrir uma coisa me doeu tanto quanto descobrir a outra”, justamente agora quando a maior parte das lembranças da adolescência já se esvaíram de minha memória? Sei não. Mas sei, com certeza mais que certa, que a última sentença, aquela com que fechei a primeira coluna, continua valendo tanto (ou mais) hoje quanto na época em que foi escrita: “quanto mais aumenta o meu conhecimento, mais me assombra o tamanho de minha ignorância...”
Mas o fato é que se passaram vinte anos desde a publicação de minha primeira coluna.
Parei um pouco para pensar. Como foi mesmo que isto começou?
Bem, no final dos anos oitenta eu era um micreiro viciado e renitente. Alguns anos antes havia comprado meu primeiro computador, um velho MSX de oito bits, depois que descobri que se eu não aprendesse a usar um negócio daqueles – que, na época, era novidade – não daria para continuar a exercer minha profissão, a engenharia (mal sabia eu que em alguns anos, sem um micro, não se poderia exercer quase profissão alguma). E acabei me apaixonando pela coisa. O MSX foi logo trocado por um PC e o computador deixou de ser o meio, passando a ser a própria mensagem.
Cansado de receber avisos de erro e frustrado com as tentativas malsucedidas de fazer isto ou aquilo, decidi que uma simples máquina, por mais complicada que parecesse não iria me humilhar assim tão facilmente. E debrucei-me sobre ela.
Primeiro, dominei o sistema operacional, na época o limitado DOS. Depois, movido pelo puro prazer de aprender, comecei a estudar programação e tornei-me versado em BASIC e na linguagem C. Em dois anos já programava em Assembly. E meu conhecimento sobre a máquina evoluiu incomensuravelmente. Até um ponto em que eu continuava sendo humilhado por ela, como volta e meia ainda hoje sou. Mas, então, ao menos já sabia como e porque.
Aprender, porém, não era fácil. Micros pessoais (pessoais mesmo, ou seja, domésticos) quase não havia. A maioria dos que havia estavam nos escritórios. Literatura nacional, nem pensar. Os raros livros que se encontrava em português eram traduções, geralmente malfeitas, dos poucos originais em inglês – a começar pela série de livros de Peter Norton, o cara das “Norton Utilities” de saudosa memória. Por sorte minha noção do idioma inglês era suficiente para sorver algum conhecimento diretamente nos originais, desde que eu conseguisse pôr a mão em um deles, que por aqui não eram muito encontradiços. Mas por dever de ofício eu viajava com alguma frequência e me fartava nos Barnes & Noble da vida.
Acabei aprendendo coisa ou outra. Mas que falta eu sentia de algo ou alguém que explicasse o funcionamento e o manejo de computadores pessoais de um jeito mais simples, usando uma linguagem despida de tecnicismos e complicadores... Pois a mim parecia que naqueles tempos quem escrevia sobre informática estava mais interessado em exibir seu conhecimento do que em transferi-lo para o leitor...
Jornais? Difícil... Naqueles dias os jornais praticamente ignoravam os computadores. Aqui no Rio, a honrosa exceção era a coluna “Circuito Integrado”, de Cora Ronai, então no Jornal do Brasil que eu assinava justamente por causa dela.
Saía toda segunda-feira. E toda segunda-feira, ao acordar, eu ia até a cozinha, tomava meu café, pegava o JB na soleira da porta e voltava para a cama. Antes de ler as manchetes, abria o jornal na página da coluna e a devorava. E foi assim que, por todo o final dos anos oitenta, minhas semanas começavam infalivelmente com a leitura da única coluna sobre informática publicada nos jornais do Rio de Janeiro.

A invenção do B.Piropo
Cora Ronai é brilhante, versátil, de uma cultura abrangente, dotada de um humor finíssimo e dona de um texto extraordinário. Comecei como seu fã e tive o privilégio de passar a desfrutar de sua amizade sem jamais deixar de ser fã. Agora a acompanho por seu blog e Facebook e, ao contrário do meu, seu texto vem melhorando ao longo dos anos, se é que melhorar ainda é possível.


Figura 1: Cristina de Luca, B. Piropo e Cora Ronai no início dos anos 90

Mas, como eu, Cora não era uma profissional da informática. Era apenas uma usuária de computadores apaixonada por tecnologia. E talvez por isto mesmo suas colunas sobre o assunto fossem tão agradáveis de ler.
Em razão disto volta e meia, além das (muitas) respostas às inquietações dos leitores sobre seus computadores, programas e afins, a coluna trazia (poucas) perguntas. O que seria tal coisa? Como funcionava isto ou aquilo? Por que tal programa era assim e não assado?
Abusado, comecei a respondê-las por carta. E ela não reclamou de meu atrevimento. Pelo contrário: de quando em vez me telefonava para agradecer.
E assim passaram-se alguns anos, volta e meia eu escrevendo (cartas, em papel, seladas e enviadas pelo correio, pois a Internet ainda não estava ao alcance) e Cora telefonando.
Até que um dia, no pé da saudosa “Circuito Integrado”, Cora se despediu sem mais aquela, desejando felicidades aos leitores e dando adeus.
Mas que despautério! E agora? Senti-me, literalmente, seduzido e abandonado...
Algumas semanas depois recebi um telefonema da Cora me comunicando que havia sido convidada a editar um suplemento de informática para o jornal O Globo, o primeiro a ser publicado no Rio (havia dois em São Paulo, o da Folha e do Estadão, mas ambos eram voltados principalmente para o público corporativo; o do Globo foi o primeiro dirigido principalmente para micreiros). E quando eu respondi “Que bom, assim posso continuar lendo suas colunas” ela retrucou que esperava um pouco mais que isto. Que, com base no texto das minhas cartas já quase habituais, decidira me convidar para assinar uma coluna no caderninho (durante todo o tempo em que existiu, foi sempre assim que a equipe se referia carinhosamente ao InformáticaEtc. – “o caderninho”).
Fiquei pasmo. Jamais poderia esperar uma coisa como aquela. Assinar uma coluna em um dos jornais mais lidos do país? E logo sobre informática, assunto que fugia à minha especialidade? Eu me sentia – e me sinto ainda – habilitado a escrever uma coluna sobre tratamento de esgotos, embora não acreditasse que viesse a atrair um número significativo de leitores. Mas sobre computadores?
Quando manifestei minhas dúvidas à Cora ela respondeu que eu não precisava me preocupar. A coluna seria dirigida a principiantes e bastaria que eu mantivesse o mesmo “estilo” – se é que estilo ali havia – das cartas que lhe enviava. E, afinal, se a coisa não desse certo, a qualquer tempo eu poderia parar.
Então me dei conta que naquele momento me era oferecida a oportunidade de preencher justamente a lacuna da qual tanto eu mesmo reclamava. Quem sabe meu conhecimento, embora longe daquele de um especialista, não seria suficiente para explicar a um leigo, evitando tanto quanto possível o jargão técnico, como as coisas funcionavam dentro de um computador?
Resolvi tentar.
O problema é que eu sou um engenheiro ambiental especializado em tratamento biológico de efluentes líquidos e, na época, já era razoavelmente conhecido nesta área, com diversos trabalhos publicados, consultor internacional, professor universitário e, digamos, com certo “nome na praça”. O que pensariam meus colegas – e, sobretudo, os clientes de consultoria – se eu começasse a assinar uma coluna sobre informática em um jornal de grande circulação? Melhor não usar meu próprio nome.
Por outro lado, já cinquentão, achei que estava meio fora de época para começar a adotar um pseudônimo.
Foi então que me lembrei de meu nome do meio, este “Piropo” um tanto esquisito, herdado da família de minha mãe e sempre meio rejeitado, do qual eu costumava grafar apenas a inicial nos meus cartões de visita e na autoria de trabalhos e publicações. Tanto era assim que, no meio técnico onde eu militava profissionalmente, pouca gente sabia o que aquele “P” significava.
Então, pseudônimo para que, se mesmo sem querer eu já dispunha de um nome, meu mesmo, que se não era novo em folha tinha pouquíssimo uso? Por que não adotá-lo, juntamente com a inicial de meu primeiro nome, para assinar as colunas?
Assim nasceu (melhor: foi inventado) o B. Piropo. Que semana passada completou vinte anos. Um jovem na flor da idade apesar dos cabelos brancos.
O resto a maioria de vocês já sabe.
Publiquei colunas no InformáticaEtc. do primeiro ao último número. No começo eram intituladas “Trilha Zero” e durante algum tempo foram publicadas simultaneamente com outra, a “MicroCosmo”. Mais tarde uma reforma editorial fez com que as colunas do caderninho passassem a adotar apenas o nome do titular, e a minha passou a se chamar “Coluna do Piropo”, já então publicada simultaneamente com uma seção de Dicas, também de minha autoria (todas elas, dicas e colunas, sem exceção, podem ser encontradas nas seções “Dicas” e “Escritos” do < http://www.bpiropo.com.br/ > Sítio do Piropo).
O InformáticaEtc. durou quase exatos quinze anos. Guardo comigo todas as edições, da primeira à última. O último número do suplemento de informática do Globo com este título foi publicado em 17 de abril de 2006. E, nele, a derradeira “Coluna do Piropo”.
Já na semana seguinte o suplemento mudou de nome e de orientação editorial, passou a chamar-se InfoEtc, não mais publicou colunas e eu deixei de fazer parte da equipe. Algum tempo depois o suplemento foi substituído por uma revista distribuída com o jornal, cuja publicação também cessou já há algum tempo. Hoje, O Globo não tem mais suplemento de informática.
Por isto a menção a “teria” e “saudoso” no “tweet” da Cris De Luca, desde os primeiros tempos uma das mais brilhantes participantes da equipe – que, quem se der ao trabalho de ler novamente seu “tweet”, perceberá que ela chama de “família” porque realmente era assim que nos sentíamos. Hoje, Cris não é só minha amiga: mais que isto, é quase uma filha. E como eu a acho a mais competente jornalista especializada que conheço – na verdade é talvez a profissional mais competente que jamais conheci em qualquer ramo de trabalho – além do afeto, desenvolvi por ela uma profunda admiração.
Neste meio tempo, a partir de janeiro de 2005, passei a escrever colunas semanais, primeiro no Estado de Minas (colunas “Técnicas & Truques” e “Pergunte ao Piropo”, publicadas às quintas-feiras; as mesmas colunas são republicadas cada segunda-feira subsequente no suplemento de informática do Correio Brasiliense), depois aqui neste ForumPCs. As primeiras podem ser encontradas na íntegra nas seções “Escritos/Coluna Técnicas & Truques” e “Pergunte” do < http://www.bpiropo.com.br/ > Sítio do Piropo. As últimas na seção “Escritos/Coluna em ForumPCs”. Mais recentemente, a partir de dezembro de 2010, passei a colaborar também com colunas semanais para a seção < http://www.techtudo.com.br/platb/hardware/ > Hardware/TechTudo do Globo.Com, cujos atalhos (mas não o texto, por questões contratuais) também estão disponíveis na seção “Escritos/Globo.com-TechTudo” do mesmo Sítio do Piropo.
Pois é isto. Vinte anos escrevendo sobre computadores, suas manhas e artimanhas.
Um quinto de século, mais de um quarto da minha vida...
E como escrever me proporciona um intenso prazer, pretendo continuar.
Quem não gostar, tem todo o direito de reclamar.
Mas, por favor, reclamem diretamente com a Cora Ronai que hoje, além da admiração e amizade, mui merecidamente desfruta de minha gratidão.
Afinal, foi ela que inventou o B.Piropo...

B. Piropo