Sítio do Piropo

B. Piropo

< Coluna em Fórum PCs >
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16/05/2011

< Uma nuvem só minha >


Nuvens são um negócio danado. Elas aparecem e desaparecem ao sabor da natureza, se movem para onde o vento sopra, mudam de forma e tamanho o tempo todo e são caprichosas, volúveis e inconstantes como certas pessoas (eu ia escrever “mulheres”, mas se o fizesse mereceria – com justa razão – a pecha de chauvinista).  Mas, sobretudo (e, agora sim, sem machismo), como as mulheres, as nuvens são livres. Não pertencem a ninguém.

Pois não é que consegui uma só minha? (nuvem, naturalmente). E fi-lo graças à EMC. Mais especificamente, graças à Iomega, uma divisão da EMC, aquela mesma que há alguns anos, quando não havia “pen-drives” e o máximo que se podia carregar no bolso eram 1,4 MB de dados em um disquete flexível, inventou o “Zip Disk” que quebrou o galho de muita gente com sua então notavelmente grande capacidade de 120 MB e que agora lança o conceito de “nuvem pessoal”.
A Iomega foi comprada pela EMC e continua fazendo suas estripulias. Sobre uma delas, justamente a que permite criar a nuvem pessoal, já falei aqui mesmo: < http://blogs.forumpcs.com.br/bpiropo/2010/05/24/iomega-ix2-200-excelente-solucao-para-armazenamento-em-rede/ > o excelente iX2-200, um dispositivo de armazenamento em rede tipo NAS que, depois que conheci, não consigo mais viver sem. É um treco mais ou menos do tamanho de uma caixa de sapatos infantis com dois discos rígidos de 1 TB (TeraByte) cada, que permanece conectado ao roteador de minha rede doméstica e armazena com segurança todos os meus dados, distribuindo-os pelos computadores ligados à rede quando solicitados (nenhuma surpresa: afinal, este é justamente o conceito de NAS, “Networked Attached Storage” ou armazenamento conectado à rede).
Com ele consegui resolver um velho problema que me apoquentava um bocado. Aliás, dois. O primeiro era centralizar em um só lugar os arquivos com que trabalho rotineiramente, muitas vezes editando-os em máquinas diferentes, sem ter que me preocupar com sincronizações. O segundo era o da segurança: os discos do iX2 estão ligados em uma configuração RAID espelhada de modo que, se um deles falhar, o sistema informa a ocorrência do problema e o outro “aguenta o tranco” sozinho até que seu companheiro defeituoso seja substituído. E não pense que isto é refrescância de minha parte: já aconteceu uma vez e não fora o espelhamento eu teria perdido pelo menos uma semana de dados, já que minhas cópias de segurança são semanais (para os que não sabem: uso o vocábulo “refrescância” no mesmo contexto do empregado pelas agências de publicidade, sobretudo as responsáveis pelas contas de dentifrícios e afins, que o empregam para evitar o tradicional “frescura”, do qual é sinônimo exato).
Mas o iX2 tinha um único inconveniente: o acesso remoto. Não é que não o permitisse. Até que permitia. Mas configurá-lo estava mais para a categoria dos quebra-cabeças que da tecnologia, ainda mais para um sujeito como eu que sempre considerou o tema “redes” pertinente ao domínio da magia negra.
Agora, com minha própria nuvem, a coisa é diferente...

As nuvens públicas e privadas
Para entendermos o que a Iomega chama de “nuvem pessoal” devemos primeiro chegar a um consenso sobre o conceito de nuvem no que toca a armazenamento de arquivos. E, segundo a definição corrente, “computação em nuvem” se refere à provisão de recursos computacionais solicitados através de uma rede de computadores, mais especificamente através da Internet.
Eu poderia dizer que tal definição de nuvem é um tanto nebulosa, mas esta afirmação corre o sério risco de ser classificada como truísmo. Então, vamos apelar para exemplos.
Os que conhecem os serviços prestados pela Google através de seus Google Docs, ou pela MS via Share Point, estão familiarizados com o conceito de nuvem: em um conjunto de servidores localizados em um ponto qualquer do planeta (ou dispersos em muitos pontos, tanto faz) conectados pela Internet e administrados por uma instituição, um conjunto de usuários (que, este sim, se espalha por todo o planeta) armazena arquivos. Como o acesso é sempre feito via Internet, os usuários jamais saberão onde, efetivamente, seus arquivos se abrigarão. Qualquer pessoa, desde que cumpra alguns requisitos mínimos de ordem administrativa e, eventualmente, pague uma taxa módica (embora muitos destes serviços sejam gratuitos), pode se tornar membro do conjunto (ou da nuvem) de usuários. Seus arquivos armazenados nos servidores (ou na nuvem de servidores) somente poderão ser acessados por ele ou por alguém por ele autorizado depois de fornecidas as necessárias identidade e senha. Este é o conceito de nuvem publica.

Há ainda o conceito de “nuvem privada”, ou “nuvem corporativa”. Trata-se de um serviço suprido por corporações como a Amazon e a Sales Force (que oferece um mui interessante < http://www.youtube.com/v/jBkA6FIjoSg&hl > vídeo explicando o conceito em português, de onde foi capturada a Figura acima) que fornece a seus clientes, geralmente empresas de médio porte, não somente um meio de armazenar arquivos em servidores acessados via Internet como também, para os clientes que assim o desejarem, um conjunto de aplicativos corporativos que permanecem instalados, mantidos e atualizados nestes mesmos servidores – ou seja, “na nuvem”. Os clientes pagam uma taxa que pode ser um valor fixo mensal ou proporcional aos serviços usados no período e se livram da obrigação de manter profissionais especializados em tecnologia da informação em seus quadros. Fica tudo a cargo do prestador do serviço.
Pois bem: com o recente lançamento de sua nova linha de produtos, a Iomega inaugurou o conceito de “nuvem pessoal”.

A nuvem pessoal da Iomega
Segundo a definição da própria Iomega em seu material de divulgação, a nuvem pessoal “é uma revolucionária arquitetura de computação baseada na web que conecta seu dispositivo de armazenamento em rede Iomega a outros indivíduos e/ou dispositivos via Internet”.
Destrinchemos.

Todo o conceito de nuvem pessoal se baseia em um dispositivo que atende pelo pomposo nome de “Iomega Home Media Network Hard Drive Cloud Edition” que, na intimidade, trataremos apenas por “Home Media” e que aparece na figura acima, obtida do material de divulgação da Iomega. Trata-se de um dispositivo tipo NAS bastante semelhante ao meu bom iX2, porém com algumas diferenças notáveis.
Foram lançados no início deste mês (maio de 2011, para os leitores futuros) dois modelos que diferem apenas pela capacidade: um e dois TeraBytes (mas a Iomega acena com a possibilidade do lançamento de um modelo adicional com capacidade de seis TB talvez ainda este ano). Como qualquer outro dispositivo tipo NAS, ele se conecta a um roteador e põe seus arquivos à disposição de todos os usuários da rede que tenham privilégios para acessar os arquivos nele armazenados.
Note que o Home Media não é apenas um disco rígido de grande capacidade. Ele é um servidor de arquivos completo, com seu próprio sistema operacional baseado no Linux, seu sistema de arquivos e seu programa gerenciador, o conhecido LifeLine da Iomega que já conta com mais de meio milhão de usuários. Além de um pacote de aplicativos que permite compartilhar dados e informações, arquivos de mídia, jogos e mais um monte de gracinhas.
O alvo do produto foram os usuários domésticos que desejam acesso remoto descomplicado a seus arquivos e as empresas de pequeno porte, de não mais que cem funcionários, que podem estar concentrados em um único escritório ou, preferencialmente, espalhados por diversos locais, seja em suas casas ou em filiais, na mesma cidade ou em qualquer ponto do planeta. Na página da < http://iomegacloud.com/landing_page.php > Iomega Personal Cloud há mais um filmete, de menos de três minutos e também em português, que ilustra o conceito melhor do que eu poderia fazê-lo em um par de páginas escritas, de modo que sugiro enfaticamente uma visita.
Portanto, vou me prender à minha própria experiência de instalação e uso do dispositivo.

A minha nuvem
Minha nuvem pessoal consiste em um Home Media de 1 TB recém-instalado. Foi conectado ao roteador de minha rede doméstica, que por sua vez está conectado à Internet, por onde a nuvem se espalhará.
Segundo a Iomega, usando o próprio software que acompanha o dispositivo, é possível administrar um conjunto de até 250 usuários com acesso através de “login” seguro e transmissão de dados com criptografia AES de 128 bits ativada, se necessário. No meu caso, o interesse maior é que um único usuário, este que digita estas mal traçadas, tenha acesso irrestrito a todos os seus (meus...) arquivos tanto das demais máquinas ligadas à rede doméstica ou conectadas com seu ponto de acesso wi-fi como, principalmente, de meus computadores do escritório, no Centro, e de meus micros móveis, tanto o notebook quanto o netbook, quando eu estiver em viagem ou simplesmente em outro ponto da cidade com acesso à Internet.
Note que citei apenas meus computadores. Isto porque, embora o trânsito dos arquivos seja feita via Internet, o acesso não é feito usando o programa navegador ou qualquer meio semelhante. É preciso instalar um programa (o “Iomega Store Manager” sobre o qual fararemos adiante) especialmente para tal fim. O que eu, particularmente, achei muito bom por questões de segurança.
Primeiro, instala-se o dispositivo. Fisicamente, quase nada há a fazer senão conectá-lo a uma porta livre do roteador com o cabo fornecido juntamente com ele e liga-lo na alimentação elétrica. Depois, é inserir o CD no acionador de um dos computadores ligados à rede (preferencialmente no usado pelo responsável pera administração do sistema), esperar o lançamento do programa de instalação e seguir as instruções da tela. O resultado é a instalação do Iomega Store Manager no micro. Daí para frente é clicar no ícone “Configuração”, criar identidades e senhas para os usuários autorizados, criar pastas de compartilhamento e coisas que tais. Tudo como qualquer outra unidade NAS. Veja, na figura, o resultado destas ações no Iomega Storage Manager.
Até este ponto, ainda não se cogitou da criação da nuvem. Apenas se instalou uma unidade de armazenamento conectado à rede (NAS) com suas pastas compartilhadas, usuários credenciados e suas listas de privilégios concedidos pelo administrador.
Os demais computadores conectados à rede (ou seja, aqueles ligados às demais portas do roteador ou conectados a seu ponto de acesso via wi-fi, devidamente identificados e credenciados por senha) não precisarão de qualquer software adicional para ter acesso aos arquivos. Estejam eles rodando Windows, Linux ou MacOS, bastarão as ferramentas usuais de seus respectivos sistemas operacionais para estabelecer a conexão, identificar-se e mapear as pastas à que têm acesso, como fariam com qualquer outro servidor de arquivos da rede.
Isto porque a nuvem ainda não foi criada.
Então, vamos a ela.
Para transformar o Home Media em um servidor de nuvem é preciso criar a nuvem pessoal, que passará então a se comportar como uma rede virtual à qual se pode ter acesso através de qualquer conexão da Internet. Ela transforma o Home Media em uma central de compartilhamento de dados, jogos, arquivos de mídia entre computadores situados em qualquer pondo do planeta, desde que conectados à Internet. Na página de < http://iomegacloud.com/support_page.php?cloud_name=&access_code=&user_lang=pt > “Suporte” o dispositivo no sítio da Iomega há uma lista de perguntas e respostas que discute de forma bastante completa todas as funcionalidades do dispositivo e quem estiver interessado em detalhes pode consultar.
Para criar a nuvem basta acessar as configurações do programa gerenciador e habilitar o “Iomega Personal Cloud” (veja na figura a primeira janela do procedimento), especificando o nome que deseja atribuir à nuvem e fornecendo um endereço de correio eletrônico (que não serve apenas para fins de identificação: se algo estranho ocorrer em sua nuvem, uma mensagem de alerta será enviada automaticamente para este endereço, de modo que convém fornecer um endereço ativo). O sistema atribuirá um endereço IP à nuvem que, a partir de então, poderá ser acessada através do nome a ela atribuído ou deste endereço.
Criada e configurada a nuvem, é preciso compartilhá-la. Seja com terceiros, seja com o próprio administrador, quando usar máquinas remotas (pois o compartilhamento é feito primeiramente com a máquina, depois com o usuário que se identificará).
O primeiro passo é dado pelo administrador, ao expedir convites para que computadores sejam adicionados à nuvem. O convite é feito através de uma mensagem de correio eletrônico contendo o próprio convite e um código de acesso exclusivo.

O destinatário da mensagem, ao recebê-la, deve instalar o software “Iomega Store Manager” em sua máquina. O que é feito sem qualquer complicação, uma vez que na mensagem-convite, juntamente com o código de acesso, vem um atalho (“link”) para a página da Iomega de onde o programa é baixado. E, caso o programa seja obtido usando este atalho, ao ser instalado ele já exibe o código de acesso correspondente. Portanto, ao convidado, nada mais é necessário exceto um par de cliques para ter o programa de gerenciamento instalado e seu micro conectado à nuvem pessoal da qual foi convidado a participar. Veja, na figura, a janela usada para habilitar acesso à nuvem depois de recebido o convite.
Como já comentei, acho positivo, por questões de segurança, o fato de que o acesso à nuvem pessoal seja necessariamente feito através de um programa de gerenciamento (em vez de simplesmente via programa navegador). Mas isto tem o inconveniente de limitar os dispositivos que podem acessar a nuvem àqueles onde o programa gerenciador pode ser instalado. Que, no momento, se restringem aos dispositivos que rodam Windows, Linux ou MacOS. Mas a Iomega promete para breve estender o suporte ao iPhone e iPad e aos telefones espertos e tabletes que rodam o Android.
Recebido o convite, baixado o código e instalado o programa, a máquina pode ter acesso à nuvem pessoal através de qualquer conexão Internet. Evidentemente, salvo em casos extremamente excepcionais, a coisa somente funcionará a contento em uma conexão de alta taxa (“banda larga”). Mas, nestas condições, funciona que é uma beleza.
Estabelecida a conexão, as pastas do Home Media podem ser mapeadas no computador remoto como se fizessem parte de uma rede local. Para acessá-las, o procedimento é análogo ao que dá acesso a qualquer rede segura: fornece-se a identidade de usuário e a senha. Isto feito, o acesso aos arquivos remotos é facultado seja diretamente aos programas, que podem “abrir” um arquivo de dados da nuvem como se estivesse em uma unidade local, seja ao gerenciador de arquivos (no caso do Windows, o Windows Explorer), que pode movê-los, editá-los ou exclui-los, desde que o usuário possua os necessários privilégios.
Exceto no que toca ao tempo que se leva para abrir os arquivos (que, naturalmente, depende de seu tamanho e da rapidez da conexão), tudo se passa como se o usuário estivesse conectado a uma rede local.
No que me diz respeito, tenho o maior apreço pela minha nuvenzinha. O que ela vai facilitar minha vida não está no gibi.
E o preço, tendo em vista o fato de que o Home Media se comporta tanto como gerador da nuvem pessoal quanto como dispositivo de armazenamento NAS, é surpreendentemente acessível: os valores sugeridos pela Iomega são de R$ 599 para a unidade de um TB e de R$ 899 para a de dois TB.
Para ter sua própria nuvem, é ou não uma pechincha?


B. Piropo