Sítio do Piropo

B. Piropo

< Coluna em IT Web >
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29/01/2013

< O futuro dos PCs >


Semana passada a Intel anunciou que a partir de 2014 não mais comercializará placas-mãe para micros de mesa ("desktops"), ou PCs. Manterá ainda por algum tempo (cerca de três anos) a fabricação destas placas e circuitos auxiliares ("chipsets") para honrar seus compromissos com terceiros, como Asus e ASRock que, no entanto, as comercializarão sob suas próprias marcas. Porém as derradeiras placas-mãe nos formatos ATX, mini ATX e micro ATX desenvolvidas para micros de mesa com a marca Intel e estampando seu logotipo, serão fabricadas apenas este ano. E gradualmente desaparecerão do mercado.

Figura 1: Placa Mãe Intel

As últimas placas-mãe Intel (algumas, ainda estão na prancheta para lançamento este ano) serão as desenvolvidas para a quarta geração de processadores da família Core. Esta geração será formada pelos Haswell, a serem lançados este ano (segundo boatos durante a COMPUTEX 2013), fabricados com tecnologia de 22 nm, e pelos Broadwell, com camada de silício de 14 nm (espera-se seu lançamento ainda para 2013), ambos utilizando os transistores tridimensionais "trigate". Destas unidades, poucas serão destinadas a computadores de mesa, pois a arquitetura Haswell é incrivelmente flexível e permite a fabricação de processadores capazes de atender uma enorme gama de demandas. É certo que haverá Haswells para PCs, mas a grande maioria deles será destinada a portáteis tipo "notebooks", Ultrabook e tabletes.

Por esta razão as placas-mãe destinadas a uso nos computadores portáteis tipo "notebook" e, principalmente, "Ultrabook", sejam aquelas desenvolvidas para a arquitetura Haswell, sejam as desenvolvidas para suas antecessoras, continuarão a ser fabricadas. O que a Intel anunciou foi apenas a interrupção da fabricação de placas-mãe para PCs.

Isto porque a partir de 2013 os esforços da Intel serão voltados predominantemente para dispositivos móveis, especialmente seu novo carro chefe, a plataforma Ultrabook, assim como tabletes e "notebooks" de maior poder de processamento.  O que é uma mudança e tanto, posto que a empresa vem fornecendo placas-mãe para micros de mesa há mais de vinte anos – e vinte anos nesse mercado é uma eternidade.

Segundo a Intel, mesmo considerando o grande número de placas-mãe fabricadas anualmente, esta decisão não exercerá impacto significativo sobre a força de trabalho da empresa. Embora tenha se recusado a declarar quantos empregados serão afetados pela decisão, informou que o número será pequeno porque a grande maioria dos envolvidos diretamente com a linha de produção serão remanejados para outras divisões. Presumivelmente muitos deles serão deslocados para a linha de produção do < http://www.intel.com/content/www/us/en/motherboards/desktop-motherboards/next-unit-computing-introduction.html > NUC, ou "Next Unit of Computing", um curioso e pequeníssimo PC sem teclado, sem vídeo, com custo da ordem de US$ 400, que parece ser, juntamente com os Ultrabook, o novo xodó da empresa.

Pois muito bem, a Intel vai deixar de fabricar placas-mãe para micros de mesa. E dai?

Bem, assim considerado como fato isolado, não significa muito. Porém...

O NUC, acoplado a uma televisão (provavelmente através de sua porta HDMI) e a um conjunto de teclado e mause sem fio via porta USB, bem pode substituir um micro de mesa como centro de entretenimento doméstico e cobrir um enorme número de lacunas que exigem baixo poder de processamento nas corporações.

Já os Ultrabook são um caso a parte.

Por exemplo: em janeiro passado, Kirk Skaugen, chefe da divisão PC da Intel, em < http://www.engadget.com/2013/01/08/kirk-skaugen-interview/ > entrevista a Daniel Cooper publicada na Engadget, anunciou que para aderir ao padrão Ultrabook os novos modelos terão obrigatoriamente de usar telas sensíveis ao toque. Segundo ele a razão disto foi o resultado de testes realizados com usuários a quem foram dadas tarefas para serem cumpridas usando Ultrabook com Windows 8 instalado e tela sensível ao toque. O resultado foi que 80% do tempo os usuários recorreram à tela em vez de ao teclado e mause. E mais: Skaugen acrescentou que não é propósito da Intel fazer com que os Ultrabook substituam os "notebooks". Segundo ele "Nós não estamos tentando criar um mundo Ultrabook".

Portanto, haverá espaço para NUCs, tabletes, Ultrabook e "notebooks" (provavelmente os de maior poder de processamento).

E os micros de mesa, nossos velhos "desktops"?

Bem, estes não andam lá muito bem das pernas...

Segundo < http://www.gartner.com/newsroom/id/2301715 > artigo do Gartner Group, as vendas mundiais de micros de mesa em 2012 totalizaram cerca de 90,4 milhões de unidades, enquanto em 2011 elas chegaram a 95 milhões. O que representa uma queda de quase 5%.

Ainda no mesmo artigo se percebe que das cinco grandes fabricantes, HP, Dell, Acer, Lenovo e ASUS, as únicas que apresentaram crescimento foram as duas últimas. As demais tiveram quedas acentuadas, a da Dell chegando a quase 21%.

Mil razões podem ser cogitadas para justificar esta tendência, inclusive o lançamento de Windows 8 que praticamente exige uma tela sensível ao toque como bem percebeu a Intel que passou a solicitá-la nos seus Ultrabooks. Mas sejam lá quais forem as justificativas, o fato é que as vendas dos micros de mesa estão caindo.

Agora, vamos juntar os fatos. A Intel decide descontinuar a fabricação de placas-mãe para micros de mesa; as vendas destas unidades caíram 5% ano passado; a Intel (e outras; este é apenas um exemplo; a COMPUTEX 2012 estava cheia de outros) cria o NUC, um computador simplificado que substitui o PC como centro de entretenimento doméstico; e os Ultrabooks, "notebooks" e tabletes estão aí para satisfazer as necessidades computacionais tanto do usuário doméstico quanto dos corporativos.

Diante disto, como lhe parece que se apresenta o futuro dos micros de mesa?

Eu, particularmente, gosto muito deles e dificilmente os abandonarei.

Mas estou ciente que corro o risco de me tornar dono de uma raridade, como aqueles velhos escrevinhadores que não se acostumaram com o computador e até hoje batucam no teclado de suas "máquinas de escrever". As dos mais moderninhos, elétricas...



B. Piropo