Sítio do Piropo

B. Piropo

< O Globo >
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02/01/2006

< O final da era Pentium >


O microprocessador, ou UCP (unidade central de processamento) é um componente tão importante que geralmente identifica o micro. Por exemplo: quando digo que “meu primeiro micro da linha PC foi um 8086” na verdade estou informando que se tratava de um computador cujo microprocessador era um 8086 da Intel. E quando precisei de uma máquina mais “parruda” montei um “286” (dizia-se “dois-oito-meia” no jargão da época). Como eu sempre busquei me manter na vanguarda, cada vez que a Intel lançava um modelo mais novo e mais poderoso eu migrava para ele. Por isso passei para um “386” e depois para um “486”. E assim foi até o início dos anos noventa, uma época em que tudo era mais simples e não ocorreria a ninguém perguntar qual microprocessador era mais poderoso, um “dois-oito-meia” ou um “quatro-oito-meia”. Afinal, aqueles números não estavam ali por acaso. E ninguém duvidava que a geração seguinte dos processadores da Intel seria batizada de “cinco-oito-meia”. Provavelmente, naquela ocasião, nem mesmo a Intel.
Mas acontece que o mercado tem lá suas sutilezas. E a Intel, que no início reinava solitária no campo dos processadores para a linha PC, passou a sentir o peso da concorrência de duas rivais: a Cyrix e a AMD. Quando a Intel lançou seu i386, a AMD não perdeu tempo e lançou um processador compatível que batizou “AMD 386”, sendo logo seguida pela Cyrix com seu “Cyrix 386”. A Intel, naturalmente, subiu nas tamancas e partiu para a disputa judicial: “três-oito-meia” era uma designação dela, Intel, e ninguém poderia usá-la sem licença. E enquanto rolava a disputa, foram lançados os 486. Da Intel, da AMD e da Cyrix, ça va sans dire. E, justamente quando se esperava avidamente o lançamento do mais-que-provável “cinco-oito-meia” da Intel, o juiz bateu o martelo: “386” (o objeto da disputa) era um número, não uma marca. Mais especificamente era um “part number” (número de identificação de peça) e como tal ninguém poderia deter direitos sobre ele. Nem mesmo a poderosa Intel.
Ora, se era assim com o 386 não poderia ser diferente com o 486 e muito menos com o ainda não nascido 586. Resultado: cansada de botar azeitona na empada alheia, a Intel jamais fabricou o 586 (houve um Cyrix 586 mas, francamente, melhor esquecê-lo). E escolheu uma nova designação, de preferência um nome que pudesse ser registrado, para batizar sua quinta geração de processadores. E assim, há doze anos, nasceu o Pentium.
Doze anos nesta indústria é uma eternidade. Não obstante, a designação foi tão bem sucedida que se manteve impávida por todo o duodecênio. Por mais que se esperasse um “Hexium” (ou seria um “Sexium”?) o Pentium permaneceu na liça firme e forte. No máximo admitiram agregados: Pentium Pro, Pentium II, Pentium III, Pentium 4, Pentium M para os dispositivos móveis e até um certo Pentium Xeon para servidores. E mesmo quando a Intel lançou seu primeiro chip usando a revolucionária tecnologia multinuclear, seu nome ainda for Pentium: o Pentium D (de Dual Core). É verdade que nesse meio tempo apareceu o Itanium, mas esse corria em outra faixa e não disputava mercado com o Pentium.
Os primeiros sinais de mudanças surgiram quando o Xeon perdeu o Pentium. Ou seja: quando os Pentium Xeon passaram a ser chamados oficialmente apenas de Xeon. Talvez você nem tenha se dado conta, mas isso ocorreu há um par de anos. Maus presságios.
Tão maus que hoje me cabe cumprir o doloroso dever de comunicar o passamento do nome Pentium. Os novos processadores da Intel, até recentemente conhecidos pelo codinome Yonah, serão lançados nos próximos dias (talvez na Consumer Electronics Show em Las Vegas ainda esta semana) com os nomes “Intel Core Solo” e “Intel Core Dual” em suas versões de núcleo simples e duplo, respectivamente, operando em freqüências de 1,06 GHz a 2,16 GHz e, seguindo a estratégia da Intel “desempenho por watt”, incorporando as técnicas mais modernas de redução de consumo de energia, decretando o fim da linha “M”.
Consta ainda que os primeiros chips a adotar a tecnologia de fabricação em camada de silício de 65 nm de espessura, cujo lançamento é esperado para o segundo semestre deste ano, atualmente conhecidos pelos codinomes Merom e Conroe (ambos de núcleo duplo), também não ostentarão o nome Pentium.
E esta não será a única mudança. Corre nos meandros da Internet o boato que o tradicionalíssimo logotipo da Intel também mudará. O novo, ainda em azul, exibirá o nome “Intel” (sem o “e” rebaixado como o atual) no interior de uma oval muito parecida com a que envolve o mote “Intel inside”.
O nome Pentium continuará sendo usado, mas apenas enquanto os chips atualmente fabricados não saírem de linha. Depois, entraremos em uma nova era.
Uma era na qual os chips Intel se chamarão simplesmente... Intel.


B. Piropo