Sítio do Piropo

B. Piropo

< O Globo >
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28/08/2000

< Entrevista/Jean Paul Jacob >


< "Os computadores não têm importância" >

Jean Paul Jacob é uma legenda. Em um campo onde o Brasil tradicionalmente anda à reboque dos EUA, a informática, ele inverteu os termos da equação e se projetou mundialmente como cientista, pesquisador e, mais recentemente, gerente de projetos em um dos mais importantes centros de pesquisa da IBM, o de Almaden, no coração do vale do silício. Semana passada ele esteve no Brasil para a COMDEX SP e me coube a tarefa de entrevistá-lo. Seu bom humor e brilho intelectual, aliados a um entusiasmo juvenil por seu trabalho e a uma informalidade impensável em um cientista de sua categoria, subverteram totalmente a entrevista, da qual participaram também André Machado André Gurgel, transformando-a primeiro em uma conversa entre amigos que logo evoluiu para uma acalorada discussão sobre tecnologia e, com a chegada de Cora Rónai,  transformou-se, enfim, na mais completa anarquia. Com algum esforço para pôr ordem no caos, consegui resumir alguns trechos da entrevista e aqui vai o resumo da minha missão. Eu disse missão? Disse-o mal: entrevistar Jean Paul não é uma missão, é um privilégio.

B.Piropo

O Globo: Jean, como foi que você, um cientista brasileiro, se envolveu com pesquisas avançadas na IBM?

J.P. Jacob: Eu me formei em 1959 no ITA, em S. José dos Campos, onde aprendi a ter um grande respeito por ciência e tecnologia. Naquela época o ITA reunia uma equipe formidável de cientistas que nos ensinou que tecnologia é uma ferramenta excepcional para o bem e que nós deveríamos nos dedicar à pesquisa e desenvolvimento de tecnologias para beneficiar a humanidade. Mas logo que me formei percebi que, no Brasil, ser cientista era uma profissão muito mal remunerada. Por isso fui para o exterior, onde esperava que a situação fosse melhor. Trabalhei durante algum tempo como pesquisador, primeiro na França, depois na Holanda, até receber um convite para me juntar a uma equipe da IBM que pesquisava métodos de automação de aciaria na Suécia, um projeto que requeria conhecimentos avançados de matemática para gerar um modelo matemático do processo. Isso foi em 1961.

O Globo: Foi então que você se envolveu com informática ou sua especialidade já era esta?

JP Jacob: Bem, naquele tempo ainda não existia essa palavra e os computadores eram todos analógicos. Eu fui para a Suécia onde todas as simulações eram feitas com computadores analógicos que resolviam dez equações diferenciais simultâneas. Para fazer o mesmo os computadores digitais daquela época levariam 163 anos e eu não tinha tempo para esperar tanto. Então eu diria que a minha especialidade era eletrônica e eu a usava para fazer cálculos. Mas era a eletrônica analógica. Aliás, muita gente prevê o retorno à computação analógica. Na verdade, a aplicação da lei de Moore indica que a possibilidade de aumentar o poder de processamento dos computadores digitais deverá se esgotar por volta de 2020, quando as necessidades computacionais da humanidade de longe não estarão satisfeitas (N.R.: JPJ refere-se à lei estabelecido por Gordon Moore que afirma que o poder computacional dos microprocessadores dobra a cada dezoito meses). Nós teremos então que entrar na área de computadores biológicos ou computadores quânticos, e no fundo todas estas tecnologias são muito semelhantes às analógicas do passado. Mas voltando ao assunto: enquanto eu trabalhava na Suécia, já com a IBM, a NASA anunciou um projeto para o primeiro estudo de uma estação espacial. Isso porque os médicos de então diziam que o ser humano não poderia sobreviver fora da atração da gravidade e se tentasse, os órgãos vitais seriam expelidos pelos diversos orifícios do corpo. O objetivo do projeto era a simulação de uma estação espacial que gerasse gravidade usando a força centrífuga, e a equipe da IBM que trabalhava no projeto da aciaria era de longe a mais experiente em simulações. Eu aceitei o convite para participar do projeto e cheguei à Califórnia no começo de 1962.

O Globo: Então você viveu os anos sessenta na Califórnia?

J.P.Jacob: Vivi. E foi melhor do que você pensa: não apenas na Califórnia, mas em Berkeley, o berço do movimento “free speech”. Do qual eu participei, fui preso e tudo o mais. O fato é que esse convite atrapalhou meu plano de vida, que era aprender vinte línguas em vinte anos, vivendo um ano em cada país: comecei na França, passei para a Holanda, fui para a Suécia e pretendia prosseguir na Califórnia porque o projeto da NASA tinha a duração prevista de um ano. Meu plano era seguir de lá para o Japão. Me preparei para isso escrevendo,  à convite do governo japonês, um livro sobre minha especialidade de então, controle. O livro chamava-se “Curriculum And Methods In Control And System Engineering”. As iniciais formam a palavra CAMICASE. Ou seja: eu escrevi o primeiro livro sobre camicase. O que me fez desistir de ir para o Japão foi um complexo que eu desenvolvi. Porque descobri que todo o mundo que me cercava era muito melhor que eu. Mesmo sendo formado pelo ITA e tendo feito um mestrado em engenharia aeronáutica na época em que vivi na França, aqueles pesquisadores conheciam ciência, tecnologia e matemática muito mais que eu. E senti uma vontade extremamente forte de aprender essas matérias até um nível que se aproximasse do deles. E descobri que o que me faltava era um doutorado. Como fui indicado por eles, todos cientistas e de muito prestígio, Berkeley me aceitou sem restrições. Então, fiz um doutorado duplo, em ciências e em matemática. E fiz em um tempo recorde: dois anos e meio, um dos mais rápidos de Berkeley. Isso porque aqueles caras que me cercavam e orientavam tinham padrões muito mais altos que o dos demais professores de Berkeley.

Esse doutorado foi desenvolvido nos anos do “free speech movement”, uma época em que eu comecei a me apaixonar por outras coisas, inclusive jogo de bridge. Muitos dos protestos que eram organizados pelos participantes do movimento consistiam em sentar na porta de prédios públicos para impedir a entrada. E, enquanto lá sentávamos, jogávamos bridge. Eu participava nem tanto por convicção. Era mais porque gostava de jogar bridge. Em uma dessas ocasiões, chegou a polícia e nos deu cinco minutos para nos dispersar ou seríamos presos. Como eu estava em um contrato de bridge muito sério, um contrato de “três sem trunfo” que eu queria terminar, acabei demorando mais que cinco minutos e fomos todos presos.

O fato é que, quando eu saí de Berkeley com meu doutorado, acabei desistindo de ir para o Japão e aceitei o convite para trabalhar na IBM, onde estou até hoje, com uma única interrupção mais longa. Que foi em 1969, quando o governo decidiu trazer de volta para o Brasil cientistas brasileiros que trabalhavam no exterior, prometendo estimular seu trabalho. Eu voltei com um escritório na Escola Politécnica de São Paulo, fui professor do ITA e criei na UFRJ um Departamento de Sistemas, já que na época ainda não se usava a palavra “informática”.. Embora tenha valido a pena porque eu conheci muita gente interessante e muitos de meus alunos de então agora são professores, a coisa não deu certo e eu acabei voltando para a Califórnia em 1971. Na IBM, portanto, estou há 38 anos.

O Globo: E hoje, qual é sua função na empresa?

J.P. Jacob: A resposta é complexa... O campo ao qual eu me dedico é um campo para jovens. Da mesma maneira que durante meu doutorado eu dei crédito às pessoas que me cercavam e que sabiam muito mais do que eu, acho que as pessoas cada vez aprendem mais em menos tempo, aprendem coisas diferentes, que são úteis. Então, hoje, eu não faço mais pesquisas. Eu não tenho mais cabeça para fazer pesquisas. O que tenho é experiência para aglutinar, extrapolar o que outras pessoas fazem. Minha função hoje na IBM é gerenciar projetos de pesquisas conjuntas com universidades, principalmente com a Universidade da Califórnia em Berkeley, onde eu tenho o título de professor, embora já não lecione desde 1995. Em suma: eu gerencio projetos de pesquisas. E é a visão que eu tenho do que será o futuro e em que campos de deve fazer pesquisas, visão respeitada tanto pela IBM quanto pela Universidade, que me permite garantir o emprego.

Mas, brincando, costumo dizer que no ano de 2003 voltarei a ensinar e o título do curso será “Computer Higiene”, ou higiene de computadores. E ensinará os hábitos que se deve manter para garantir que o computador não adquira vírus, doenças, etc. Eu acho que, apesar do título jocoso, sempre haverá algo de sério nisso, porque hoje as pessoas deixam seus computadores serem invadidos por vírus, deixam sua privacidade ser invadida, quando bastariam pequenos cuidados para evitar isso – da mesma forma que os hábitos de higiene bucal evitam que se tenha cáries.

O Globo: Mas, voltando ao assunto: você então é o elo entre a IBM e as universidades?

J.P. Jacob: Sou um dos elos. Eu represento o laboratório de Almaden, da IBM, um dos três laboratórios de pesquisas nos Estados Unidos e um dos oito no mundo. Porque pouca gente sabe, mas hoje a IBM faz mais pesquisas fora dos EUA que nos EUA.

O Globo: No início dos anos 80 falava-se muito em inteligência artificial e muita coisa foi feita nessa área. Hoje, não se ouve mais falar dela. Sobrou alguma coisa de útil daquelas pesquisas?

J.P. Jacob: O problema foi cultural. Havia uma onda, alimentada por certas pessoas, que os computadores de quinta geração – era esse o termo que usavam – dominariam o mundo graças à inteligência artificial. Eu me lembro de haver lido uma entrevista em 1985 onde uma especialista no assunto dizia que em cinco anos 90 porcento do processamento de dados seria feito por inteligência artificial. Isso foi um exagero que criou grandes expectativas, e quando se cria expectativas exageradas e elas não são satisfeitas há o efeito inverso: a queda. Por isso o campo da inteligência artificial entrou em declínio muito rapidamente e nos anos 90 a expressão era quase um palavrão. Mas muitas das técnicas de inteligência artificial são utilizadas até hoje. Um bom exemplo é o campo de “data mining”. Como se diz isso em português?

O Globo: Dizem “data mining”, mesmo. Estão liquidando o idioma. Mas isso é outro problema.

J.P. Jacob: É verdade. Isso é fruto dessa nossa mania de copiar todo mundo.

O Globo: Eu continuo chamando “sítio” na Internet de “sítio” na Internet, mas não tenho tido grande sucesso. Se você também passar a chamar, pode ser que respeitem...

J.P. Jacob: Pois farei isso com muito prazer, porque eu acho horrível isso de usar palavras em inglês para tudo. E o conceito de “sítio” é muito bom. Sítio, local onde estão as informações. Mas voltando ao assunto: as técnicas de inteligência artificial são usadas em “data mining” e  em uma outra área que chamamos de “agentes inteligentes”, que é uma coisa importante. No meu modelo do mundo os computadores de escritório ou laptop que temos hoje desaparecerão e algo chamado “pervasive computing” surgirá explosivamente nos próximos três anos. Nós vamos acessar computadores em relógios, em “palm pilots”, em telefones celulares, em óculos, no carro, na geladeira, e eu poderia listar mais trezentas coisas como essas. Nesse conceito do mundo, o que é preciso são agentes que peguem informações que estão no sítio do provedor e adaptem seu conteúdo ao objeto que você está usando para acessar esse sítio. E esses agentes usarão muitas das técnicas da inteligência artificial. Ou seja: o campo foi condenado porque usamos muito o nome, prometemos muito e não cumprimos. Mas muitas das técnicas estão em uso.

O Globo: Há algumas semanas tomei conhecimento de um projeto desenvolvido em parceria com a IBM chamado “Pervasive Digital Employee”. Seria algo nesse campo?

J.P.Jacob: A palavra “pervasive” resume uma das três estratégias básicas da IBM, possivelmente a mais importante. É uma coisa que as pessoas geralmente não entendem. As outras duas são mais fáceis de entender. Mas eu acredito que nosso futuro está baseado em “pervasive computing”. As três linhas básicas de pesquisa da IBM são “pervasive computing”, “e-business” e algo chamado “deep computing”. Reparem que duas delas contêm a palavra “computing”. E se você for à minha home-page (N.R.: em <www.almaden.ibm.com/cs/informatics>) e consultar um resumo de minhas idéias para o futuro que lá está, encontrará logo na primeira linha uma frase, a mesma que escrevo nas lousas quando dou conferências – e em geral é a única coisa que eu escrevo – que é: “forget computers, remember computing”, esqueça-se dos computadores, lembre-se de computação. Ou seja: a era do PC já era. O dispositivo com o qual nós vamos acessar a informação não é importante, o importante é o que nós vamos fazer com ela. Todos esses dispositivos farão computação em um nível bastante elementar, computação rasa, sem grande profundidade. No outro extremo da escala está a “deep computing”, uma estratégia da IBM que já anunciou dois projetos de cem milhões de dólares nessa área. Há cerca de um mês e meio anunciou o projeto de um supercomputador chamado Blue Gene, com o objetivo de fazer a “dobragem” de proteínas e previsão meteorológica, entre outras coisas. E na semana passada anunciou a criação de uma nova divisão chamada Life Sciences, ainda nesse espírito de “dobragem” de proteínas e criação da bancos de dados para armazenar informações sobre as ciências da vida, na qual já investiu cem milhões de dólares e pretende arrecadar bilhões de dólares trabalhando com indústria farmacêutica, etc.

Por que o problema é tão complexo? Uma proteína é uma estrutura linear formada pelo encadeamento de aminoácidos. Existem vinte aminoácidos possíveis para formar proteínas. Uma molécula de proteína pode ser formada por uma seqüência de até mil desses aminoácidos. O que o projeto Genoma nos promete – ainda não entregou, mas está perto – é simplesmente a determinação da ordem do encadeamento dos aminoácidos que formam certas proteínas, como por exemplo as responsáveis por algumas doenças. Porém apenas saber essa ordem raramente nos diz o que faz essa proteína ou como interferir no organismo de um ser vivo que necessita de reconstituir essa proteína. Pois acontece que imediatamente depois de formada no interior de um organismo, a cadeia de aminoácidos que forma a proteína se dobra em forma de um novelo e alguns aminoácidos da cadeia se ligam a outros no interior do emaranhado. São essas ligações que é preciso conhecer para gerar uma proteína que seja capaz de curar o câncer ou aumentar a longevidade das pessoas, fazendo um ser humano viver trezentos anos, 150 ou o que seja. O problema da “dobragem de proteínas” consiste em Determinar essas ligações. Ele é tão complexo, exigindo cálculos em nível atômico, que apesar da IBM ter anunciado que o computador Blue Gene será mil vezes mais poderoso que qualquer coisa que temos hoje, levaria um ano para dobrar uma proteína. E o corpo humano tem pelo menos 50 mil proteínas, talvez cem mil. Então surge a questão importante: quando poderemos dobrar todas essas proteínas e resolver outros problemas que requerem tremendo poder computacional, como “data mining” e previsão do tempo? Se nós estudarmos a lei de Moore e todas as pesquisas sobre microprocessadores que estão sendo feitas nos laboratórios hoje em dia, vamos concluir que ela pode ser estendida até 2020. Alguns dizem 2005, 2010, mas eu acredito que vá até 2020.

O Globo: Sim, porque o que limita é o tamanho de uma molécula. Não se pode criar um microprocessador em uma camada de espessura menor que o tamanho das moléculas que a formam.

J.P. Jacob: Exatamente. Mas há quatro meses dois pesquisadores da IBM mostraram o que eles chamaram de “miragem atômica”. Usando um microscópio de alta precisão capaz de “enxergar” átomos por sensoriamento e tecnologias modernas, é possível construir “currais” atômicos. Em um curral atômico de forma elíptica, foi observado que se você colocar um átomo de boro em um dos focos da elipse e medir os efeitos quânticos, os campos magnéticos, etc., por ele criado, verá que o outro foco se comporta como se lá também houvesse um átomo. Com o microscópio os pesquisadores conseguiram uma imagem belíssima onde se vê o átomo em um dos focos e, no outro, um pouco menor, os efeitos da presença de outro átomo. Uma verdadeira “miragem” de um átomo. Isso prova que você não mais precisa transportar um elétron para que seus efeitos se manifestem em outro ponto. Pode transportar uma onda eletromagnética de um ponto a outro, que é o que esse “curral” permite, sem usar um fio. Isso nos leva a crer que algum dia, a nível atômico, existirá um computador que não precisará de fios e que terá um tamanho tão pequeno que você não o enxergará. Essa é uma das tecnologias. A IBM também se dedica, e muito, a computadores quânticos, que farão muito mais rapidamente coisas que os computadores atuais nem podem fazer. Qualquer que seja a tecnologia, computadores biológicos, quânticos ou atômicos, nós voltaremos à era dos computadores analógicos. Serão esses computadores que terão potência suficiente para resolver o problema da dobragem de proteínas.

O Globo: Mudando de assunto: soube que você participará na próxima semana de um evento que discute a tecnologia do futuro. Pode falar alguma coisa sobre ele?

 J.P. Jacob: O evento chama-se “The Next 20 years”. É tão importante que o moderador é um cientista de primeira linha, Dan Farber e o organizador é Paul Saffo, diretor do Institute for the Future, na Califórnia. Você encontrará mais informações no sítio <www.next20years.com>. O objetivo é reunir chief scientists de grandes institutos de pesquisa para tentar discutir o que serão os próximos 20 anos e como estará o mundo no ano de 2020, não necessariamente na área de informática. O evento acontece em quatro cidades, San Francisco, Los Angeles, New York e Londres. Dois deles já aconteceram, os de New York e San Francisco. Eu vou participar do de Los Angeles, que será realizado na próxima Quarta-feira. O de Londres será em 3 de outubro. Em cada cidade o evento aborda um tema. O de Los Angeles é entretenimento, mas a agenda não é fechada e pode-se falar de outras coisas. Durante cada evento, três pessoas apresentam suas previsões para o futuro – muito rápidas: são dez minutos para cada um – e depois as discutem com o público. E é um público de três mil pessoas, quase todas muito bem informadas, que pagam para ir a esse evento, além de quarenta jornalistas convidados. E fazem perguntas muito difíceis. O curioso é que uma das perguntas mais freqüentes é quando nós poderemos ter esperança de viver 120 a 150 anos. Essa é talvez a pergunta que mais interessa às pessoas.

O Globo: E como será sua participação?

J.P. Jacob: Eu serei o único dos apresentadores que tomará uma abordagem diferente. O mestre de cerimônia dirá que eu participei do evento do ano 2000. E quando eu subir ao palco, direi: “Bem-vindos ao evento de 30 de agosto de 2021. E hoje eu gostaria de fazer duas coisas: a primeira é resumir o que aconteceu no evento do ano passado, 2020, que foi realizado no Hotel Espacial. E a segunda é ler o que eu escrevi nesse livro – e para os jovens que não sabem: livro é uma coisa que existia no ano 2000 e que consistia de tinta sobre uma árvore morta – que relata o que eu previ no evento do ano 2000”. Eu farei de conta que estarei no ano 2021 olhando para o passado, alegando que é muito mais fácil olhar o passado que prever o futuro. E direi que, já em 2020, se poderá acessar um sítio de leilões da Internet e comprar o gene que fará um filho viver 120 a 150 anos. Mas recomendarei cuidado para não tomar o gene por engano, senão corre-se o risco de manter um filho em casa por sessenta anos. Porque a obsessão das pessoas com a longevidade é tamanha que, quando nós conseguirmos dobrar as proteínas, a que regula a longevidade das pessoas será de altíssima prioridade porque haverá um enorme mercado para ela. Os laboratórios farmacêuticos que irão pagar bilhões de dólares à IBM para estudar esse problema em seu Departamento de Life Sciences cuja criação foi anunciada semana passada, estão preocupados com uma série de doenças mas também estão preocupados em prolongar a vida das pessoas. O interessante nesses eventos é ver como os milhares de participantes e a imprensa compartilham as mesmas preocupações. Uma delas é essa, a longevidade. Eu particularmente acho que melhor que prolongar a vida seria melhorar a qualidade de vida.