Sítio do Piropo

B. Piropo

< O Globo >
Volte
02/09/2002

< Entrevista com Mike Fister >


Itanium, Pentium e XScale: as três linhas da Intel

Do ponto de vista da eletrônica, um microprocessador nada mais é que um circuito integrado “inteligente”. O primeiro deles, o 4004, fabricado em 1971 pela Intel, reconhecia um conjunto de dezesseis instruções. De lá para cá a evolução foi abissal e praticamente tudo mudou no mundo dos microprocessadores, menos uma regra básica: o lançamento de cada modelo novo decretava o final da carreira do anterior. Tem sido assim há três décadas. Por isso, quando a Intel lançou a nova jóia de sua coroa, o Itanium, era crença geral que a sobrevida da linha Pentium haveria de ser curta e que toda a evolução estaria reservada à linha Itanium e sua nova e revolucionária Arquitetura Intel de 64 bits. Mas a Intel acaba de lançar o Itanium 2, segundo membro da geração IA64, e não somente o Pentium não parou de evoluir (o Pentium 4 de 2,80 GHz acaba de ser lançado) como a Intel passou a despender um montante significativo de recursos na pesquisa e desenvolvimento de sua linha PCA (Personal Client Architecture), baseada na tecnologia XScale para dispositivos móveis. Teria mudado a filosofia da Intel? Mike Fister, Vice-presidente sênior e Gerente Geral do Grupo de Plataformas Empresariais da Intel veio ao Brasil para proferir uma das palestras de abertura do Congresso da COMDEX/SP. Na empresa desde 1987 como gerente de um grupo de operações, Mike ocupou posições chave na área técnica (incluindo a de gerente geral do grupo de engenharia de microinformática e o gerenciamento do desenvolvimento dos processadores IA32). Ninguém melhor do que ele para esclarecer a questão. Eis aqui um resumo de sua posição.

O GLOBO: A Intel lançou o Itanium 2 e a linha Pentium continua evoluindo. Até quando?

Mike Fister: O mercado de fato estranhou, porque até então os processadores mais poderosos vinham ocupando em cascata o lugar de seus antecessores. O Pentium substituiu  o 486 que substituiu o 386 e assim por diante. E, quem sabe, o Itanium talvez venha a substituir o Pentium dentro de alguns anos. Mas hoje a Intel pretende manter a linha Itanium para servidores, em paralelo com as linhas Pentium, para desktops e notebooks, e XScale, para dispositivos portáteis. Quanto ao mal entendido, acho que a culpa foi mesmo nossa. Há alguns anos demos uma impressão errada da posição do Itanium no mercado e as pessoas equivocadamente presumiram que ele se propagaria rapidamente para os desktops, depois para os notebooks. Mas veja: hoje, por pouco mais de setecentos dólares pode-se comprar um desktop de razoável desempenho, por quinhentos um menos poderoso. E um servidor multiprocessado, com ferramentas robustas de gerenciamento, memória “interleaved” e enormes inovações tecnológicas em sua arquitetura interna não foi concebido para competir nesse mercado. É nele que a linha Pentium continuará a existir e seu progresso se dará principalmente em termos de maiores freqüências de operação. E ainda por muito tempo haverá mercado para ele e para o Itanium.

O GLOBO: Quem precisa hoje de um  Itanium?

Fister: Hoje não são pessoas, usuários. São corporações. Imagine um servidor multiprocessado, com dezenas, ou mesmo centenas de microprocessadores na mesma placa. Ele está destinado a substituir os “mainframes” nas grandes corporações e usará Itanium. Essa substituição se fará lentamente no início. A imprensa está sempre perguntando “Quantos Itanium vocês venderam este ano? Quantos pretendem vender no próximo?” O Itanium é o pioneiro de uma arquitetura concebida para durar mais de vinte anos. Não importa quantos vendemos essa semana, mas quantos serão vendidos ao longo dessas duas décadas. Mesmo porque ele è único, não há com que compará-lo hoje. Eu penso que ao final desse período talvez tenhamos Itanium até mesmo nos desktops. Mas não é o caso de nos preocuparmos com isso agora.

O GLOBO: O que virá depois do Itanium? Ainda há espaço para grandes desenvolvimentos?

Fister: Os progressos na arquitetura interna dos microprocessadores têm sido extraordinários. Desde o Pentium 4, usamos técnicas sofisticadas, como “pipelining” ou “hiperpipelining”, onde diversas instruções são executadas ao mesmo tempo em um “duto” no interior do microprocessador, “processamento fora de ordem”, onde se faz uma especulação sobre o resultado de uma operação pendente, “hipertreading”, quando se “quebra” uma operação complexa em partes mais simples que são executadas concomitantemente. E a evolução continuará. As pessoas cultivam uma falsa crença que há um limite para o progresso tecnológico, uma barreira, como se fosse um paredão que não pode ser transposto. Mas eu penso que sempre há uma forma de contornar, ou saltar por cima dele. Ou, quando nada disso der certo, sempre se pode derrubá-lo, aplicando o esforço certo.

O GLOBO: E a linha XScale de processadores de baixo desempenho para dispositivos portáteis, como evoluirá?

Fister: Primeiro, permita-me retificar: não se trata de baixo desempenho, mas de baixo consumo e dissipação de energia. Porque mesmo os dispositivos portáteis precisarão de um desempenho considerável. Eles terão que rodar aplicativos multimídia, talvez reconhecimento de voz, efetuar traduções simultâneas, quem sabe? Portanto, mesmo esses pequenos dispositivos terão que usar microprocessadores de notável desempenho, especialmente quando se pensa no futuro. O desenvolvimento dessa linha hoje representa um tremendo investimento da Intel, tentando usar a melhor tecnologia para cada aplicação. E a Intel pretende continuar a investir neles.

O GLOBO: Sua palestra na COMDEX incentiva o Brasil a aumentar sua importância na comunidade internacional da tecnologia de informação. O que o levou a escolher esse tema?

Fister: Eu, normalmente, sou uma pessoa muito “centrada” nos EUA. E fiquei surpreso ao visitar o Brasil e descobrir aqui mas de vinte mil empresas investindo em software seja para uso no próprio país, seja na América Latina. Isso é uma característica indicativa de um país que é um dos principais líderes na aplicação e desenvolvimento de tecnologia e por isso creio que ele deve procurar assumir na comunidade tecnológica internacional um papel mais compatível com essa liderança.

B. Piropo