Sítio do Piropo

B. Piropo

< O Globo >
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08/11/2004

< Pequenos e econômicos >


Se você é desses que deixa o computador ligado o tempo todo, esteja ou não usando a máquina, responda depressa: o que faz o microprocessador de seu computador quando seu computador não está fazendo nada?

Se respondeu “nada”, errou longe. Desde o momento em que você liga a máquina até o instante em que a desliga, o microprocessador (ou “CPU”) entra em uma faina incessante que não depende muito do que o computador esteja ou não “fazendo”. Mesmo quando a máquina está aparentemente inerte, o microprocessador está executando bilhões de “ciclos de máquina” a cada segundo. E quem regula este número de ciclos, ou freqüência de operação da CPU, é um relógio interno, ou “clock”, um cristal de quartzo que vibra sempre no mesmo ritmo, emitindo “pulsos” de tensão que regulam a rapidez com que o micro funciona. E os usuários já se acostumaram a comparar a freqüência de operação de suas CPUs como os maníacos por automóveis comparam a potência de seus motores.

Então, que tal se eu lhe dissesse que, conforme o anúncio feito semana passada na Europa, a ARM britânica e uma empresa holandesa do grupo Phillips, a Handshake Solutions, estão se preparando para lançar no início do próximo ano um microprocessador sem relógio interno, um “clockless processor”,? Provavelmente a reação seria uma outra pergunta: “mas para que serve um processador sem clock?”.

A resposta é simples: serve para fazer quase tudo que faz um processador com clock, porém  evitando o imenso desperdício de energia que ocorre quando o sistema não está “fazendo nada”. Um achado.

Evidentemente esses processadores sem clock (ou assíncronos) não foram concebidos para equipar nossos micros de mesa. Mas você se surpreenderia com o imenso número de objetos de uso corrente que empregam processadores, de fornos de micro ondas a televisores, de telefones celulares a “smart cards”. E para esses últimos, da categoria dos portáteis e pequenos, que dependem de uma bateria para se manter em funcionamento, o grande problema é justamente o desperdício de energia. Por isso eles são o alvo dos “clockless processors”.

Mas como um processador pode funcionar sem “clock”? Bem, é aí que entra a tecnologia da Handshake Solutions. A maior parte dos ciclos de máquina de um processador convencional é gasta “sondando” seus canais de comunicação com o mundo exterior para verificar se algum dispositivo necessita de seus serviços. A tecnologia handshake substitui esse trabalho incessante por sinais de “requisição” e “reconhecimento”. Com ela, quando não está sendo solicitado por nenhum dispositivo, o processador pode simplesmente parar de funcionar (e de consumir energia) e aguardar. Quando um dispositivo externo precisa dele, emite um sinal de requisição que, digamos, “desperta” o processador de seu estado de letargia e o faz, por sua vez, emitir um sinal de “reconhecimento” daquela requisição, com o que o sistema passa a funcionar normalmente. Cessada a necessidade do processador, ele simplesmente pára de funcionar e aguarda outra requisição. A tecnologia handshake já vem sendo usada há cinco anos em dezenas de milhões de produtos que vão de “smart cards” a pagers, telefones sem fio e eletrônica embarcada para uso em veículos (saiba mais sobre ela em
< www.handshakesolutions.com/Home/Technology/Index.html >).

A ARM já é líder no mercado de microprocessadores de baixo consumo embutidos em utensílios (visite-a, em < www.arm.com/ >). E deverá aumentar ainda mais sua liderança, pois segundo Wouter Van Roust, CEO da Handshaking Solutions, “a aplicação da tecnologia handshaking à arquitetura ARM resultará em um novo tipo de processador de ultra baixo consumo, permitindo o aparecimento de novas classes de aplicações”.

Essa combinação de tecnologias aponta exatamente na direção sonhada pelos fabricantes de dispositivos: miniaturização aliada a baixíssimo consumo de energia. Agora é esperar para ver o que tudo isso poderá nos trazer de bom.

 

B. Piropo