Sítio do Piropo

B. Piropo

< O Globo >
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22/11/2004

< Só faltava falar... >


É comum avaliar-se o desempenho de setores da economia por trimestres. Como o terceiro termina em setembro e é preciso algum tempo para coletar e analisar os dados, seus resultados costumam ser publicados no final de outubro. Pois bem: em 27 de outubro passado Ryan Kairer postou no Palm Infocenter, um sítio voltado para os usuários de computadores de mão, a avaliação do instituto IDC sobre o comportamento do mercado desses dispositivos no terceiro trimestre deste ano (veja o artigo em < www.palminfocenter.com/view_story.asp?ID=7240 >). Segundo o IDC, as vendas mundiais de computadores de mão neste trimestre caíram 8,6% em relação ao mesmo período do ano anterior. A liderança do mercado ainda pertence ao PalmOne, com 736 mil unidades vendidas, seguida pela HP, com 650 mil e Dell com 190 mil que, somadas às vendas dos demais fabricantes, perfazem um total de 2,1 milhões de unidades comercializadas no trimestre.

Cerca de duas semanas depois, no último dia 12, um artigo de John Spooner na News.Com
(< http://news.com.com/Microsoft+grabs+lead+in+handheld+market/2100-1041_3-5450022.html >)
informa que segundo o Grupo Gartner, o mesmo mercado, no mesmo trimestre, cresceu 13,6% em relação ao mesmo período do ano anterior e seu total de vendas atingiu a casa das 2,9 milhões de unidades. Como explicar tamanha discrepância nos estudos de dois institutos tão conceituados?

Um exame dos números de ambos os artigos não mostra diferenças significativas nas vendas de cada fabricante. Mas olhando melhor para os números do Gartner descobre-se um novo contendor nem um pouco desprezível. Isso porque, enquanto o IDC considera “computadores de mão” (handheld computers) apenas os dispositivos que processam dados, aquelas maquininhas tão perfeitas que só faltam falar, o Grupo Gartner inclui na mesma categoria também as que falam, ou seja, essa trapizonga que não se sabe se é um computador que se comunica como telefone ou um telefone celular que computa. E é aí que mora a diferença: quase oitocentas mil maquinetas a mais.

E que maquinetas são essas? Talvez o melhor exemplo seja a linha BlackBerry, da canadense RIM (Research In Motion) que, sozinhos, venderam quase seiscentas mil unidades no trimestre, infiltrando-se no mercado de micros de mão e abocanhando vinte porcento dele.

Uma visita ao sítio do fabricante, em < www.blackberry.net/ >, mostra que há mais de quinze modelos disponíveis, dos quais a jóia da coroa e a nova série 7100. Todos funcionam seja como micros de mão tradicionais, seja como telefones celulares. Usam o padrão GSM, mas muitos modelos são “QuadBand”, ou seja, operam em quaisquer das quatro freqüências adotadas pelo padrão. Precisam, é claro, de uma operadora para que possam funcionar como telefones celulares, por isso (ainda) não apareceram por aqui. Mas já se espalharam pela América do Norte (EUA, Canadá e México), Europa e Ásia.

Como qualquer outro telefone celular, os aparelhos BlackBerry falam e trocam mensagens curtas tipo SMS. Como qualquer micro de mão, oferecem agendas de endereços e compromissos, lista de afazeres e anotações rápidas (“memo pad”), além de dezenas de programetos que vão desde joguinhos a armazenamento de imagens e coisas que tais. Mas sua potencialidade só se mostra por inteiro quando misturam as duas funções. A começar pela capacidade de navegar na Internet (com um navegador bastante razoável em uma tela colorida de alta definição, ou seja, navegar mesmo e não tentar decifrar o conteúdo de telas ininteligíveis que usam o padrão WAP) e gerenciar correio eletrônico de qualquer provedor usando a tecnologia “push”, que envia a mensagem para o aparelho assim que ela chega no provedor, sem que o usuário seja obrigado a “baixá-la”. E, graças à capacidade de processamento do dispositivo e aos programas que a ele podem ser agregados, se a mensagem contiver um anexo, seja uma foto, um documento gerado, digamos, pelo Word, ou uma planilha Excel, ele pode ser “baixado” e consultado no próprio aparelho.

Em suma: a discrepância entre os dados do IDC e Gartner esconde uma nova tendência. Porque o IDC tem razão: o mercado dos micros de mão “mudos” está definhando. Mas o Gartner também tem: quando entre eles são incluídos os que “falam”, o mercado cresce. E a conclusão só pode ser uma: os dispositivos que integram telefonia celular com capacidade computacional estão vendendo mais que bolinho quente. O que é fácil de constatar examinando os números fornecidos no artigo de Spooner: comparadas com as do mesmo período do ano passado, suas vendas cresceram quase quatrocentos porcento no último trimestre.

Quer dizer: talvez demore um pouco, mas se você se interessa por tecnologia, certamente haverá um aparelhinho desses no seu futuro.

Essa combinação de tecnologias aponta exatamente na direção sonhada pelos fabricantes de dispositivos: miniaturização aliada a baixíssimo consumo de energia. Agora é esperar para ver o que tudo isso poderá nos trazer de bom.

 

B. Piropo