Sítio do Piropo

B. Piropo

< O Globo >
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11/10/2004

< Telefone via Internet >


Digitalizar é codificar uma grandeza do mundo real, exprimindo-a em números que usam o sistema binário, ou seja, em bits e bytes. Qualquer grandeza pode ser digitalizada. Inclusive o som, como provam há décadas os CDs de áudio. Logo, não há de ser difícil digitalizar a voz humana.
Tudo o que pode ser digitalizado pode ser transmitido pela Internet. Basta juntar os bytes em “pacotes” e transmiti-los usando o protocolo adequado, o IP, ou Internet Protocol. A esse tipo de transmissão de voz chama-se “VoIP”, de “Voice over IP”, ou “voz sobre IP”. Se você dispõe de uma conexão Internet de alta taxa de transmissão (ou “banda larga”) e dos aplicativos adequados, sua voz pode ser capturada pelo microfone ligado a seu computador, digitalizada enquanto você fala, transmitida via Internet e reproduzida no alto-falante do computador situado na outra ponta da conexão, em tempo real. E se o usuário deste último computador dispuser dos mesmos recursos, poderá lhe responder. E vocês estabelecerão uma conversa à distância, ou seja, uma conversação telefônica.
Para este tipo de aplicação começaram a aparecer no mercado os “telefones IP”. São aparelhos em tudo semelhantes a telefones comuns (inclusive dos pequenos como os celulares) que se conectam a uma porta USB do computador e fazem o papel de microfone e alto-falante. Se os usuários de ambas as pontas da conexão dispuserem desses aparelhos, poderão manter uma conversação telefônica propriamente dita, ou seja, se comunicarão em tempo real usando aparelhos telefônicos em tudo semelhantes aos telefones fixos comuns do chamado “Serviço Telefônico Fixo Comutado”, ou SFTC.
O problema é que o SFTC é regulado por lei. E, embora exista tecnologia para isso, aqui no Brasil você não pode “misturar as bolas”, ou seja, ligar de um telefone IP (conectado a seu computador) para um telefone fixo da rede pública. É proibido.
Mas e fora do Brasil? Bem, aí o negócio é diferente. Para confirmar isso, há cerca de dois meses, em um evento sobre telecomunicações patrocinado pela Intel, em São Paulo, expus ao representante da Anatel a seguinte situação hipotética: eu conecto meu computador doméstico, através da Internet, a um servidor, digamos, em Miami. De lá, fecho uma conexão para um telefone comum, de linha discada, situado seja no Brasil seja no Exterior. O telefone de meu interlocutor está ligado à rede pública, mas a ligação foi originada no exterior. Seria isso ilegal? Eu estaria violando alguma norma, lei ou regulamento?
“Infelizmente não”, respondeu o homem da Anatel. Entendi o “não”, já que a lei brasileira não tem jurisdição em outros países. Mas não entendi o “infelizmente” e perguntei qual sua razão. A resposta foi: “Porque, embora não sendo ilegal, isso rouba mercado das operadoras e faz parte da missão da Anatel proteger os altos investimentos que elas fizeram no setor”. Nesse ponto, eu retruquei: “Mas não faz parte também da missão da Anatel defender o bolso do consumidor?”. Para minha surpresa, fui vigorosamente aplaudido. E olhe que a platéia era composta, em sua grande maioria, de especialistas em telecomunicações.
Meu objetivo era, naturalmente, me abster de divulgar algo ilegal. Mas como a resposta foi dada em público, diante de centenas de testemunhas, posso agora sem receio de estar cometendo alguma ilegalidade escrever sobre um serviço que poupa uma grana preta a quem tem conexões de Internet rápidas (“banda larga”) e usa muito o telefone para ligações de longa distância nacionais e internacionais.
Trata-se do serviço de telefone sobre IP. Soube que há diversos, mas conheço apenas três: IP Phone Brasil (<www.ipphonebrasil.com/>), Redevox (<www.redevox.com.br/>) e Skype (<www.skype.com/>).
A forma básica de funcionamento desses serviços é semelhante à dos telefones celulares pré-pagos: compra-se créditos (com pagamento por cartão de crédito) e vai-se debitando os valores dos telefonemas dados. As tarifas variam de serviço a serviço e não há um que seja “mais barato” (por exemplo: para os EUA a menor tarifa é a oferecida pelo IP Phone Brasil, R$ 0,14/min, para a Argentina a do Skype, R$ 0,09/min e para o Chile o RedeVox, R$ 0,21/min). Chamadas DDD para telefones fixos de qualquer estado do Brasil, em qualquer horário, custam de R$ 0,19 (Skype) a R$ 0,38 (RedeVox) por minuto. A intermediária, do IP Phone Brasil, R$ 0,254 por minuto, se comparada às oferecidas pelas principais operadoras de longa distância brasileiras, é vantajosa para qualquer cidade no horário diferenciado, para todas as cidades distantes mais de 50 km no horário normal e para as cidades distantes mais de 300 km mesmo no horário reduzido. E chamadas para telefones celulares no Brasil (exceto ligação local) são vantajosas em qualquer horário (ver tabela; as tarifas das operadoras correspondem a valores normais, exceto quando indicado, e foram obtidas em 07/10/2004 em seus sítios na Internet, em <www.telemar.com.br>, <www.inteligtelecom.com.br> e <www.embratel.com.br>; as conversões de dólar americano e euro para reais foram feitas com a cotação oficial de 7/10/2004).
O Skype é o mais conhecido, mas funciona basicamente como um sistema de troca de mensagens instantâneas (“chat”) que usa voz em vez de teclado. Permite conferência (tipo “sala de chat”), transferência de arquivos e tudo o mais que um bom serviço de mensagens instantâneas oferece. O serviço que permite ligar de seu telefone IP para qualquer número em qualquer parte do mundo chama-se SkypeOut. O Redevox oferece diversos planos, desde o VoxCard, tipo cartão pré-pago, até o VoxPerfil, com pagamento mensal. E, finalmente, o IP Phone Brasil funciona essencialmente como cartão pré-pago. Além do serviço, oferece ainda telefones IP e acessórios.
Minha experiência limita-se a este último. Uso uma conexão tipo Internet rápida e já fiz ligações com um telefone IP para diversos estados do Brasil, para os EUA, para o Chile e para a República Tcheca. A qualidade, se não é excelente, também não é ruim. É mais ou menos a mesma de ligações internacionais via satélite. O som não é entrecortado, a potência não oscila. No máximo se percebe um pequeno retardo. Que, considerada a economia alcançada, é mais que tolerável.
Incidentalmente: nenhum deles cobra ligação de telefone IP para outro telefone IP, ou seja, se você tem um parente ou amigo no exterior com o qual fala freqüentemente, basta comprar dois telefones IP e aderir a um dos serviços, que passarão a falar de graça.
Sei não, mas do jeito que as coisas vão, as operadoras que se cuidem...

 

Telemar

Intelig

Embratel

IPPhoneBR

Skype

RedeVox

DDD fixo para fixo, tarifa normal, com impostos;

R$/minuto

     

Até 50 Km

0,18776

0,67000

0,19488

0,25420

0,19100

0,38000

Até 50 Km (Diferenciada)

0,33825

0,67000

0,36120

0,25420

0,19100

0,38000

De 50 a 100 Km

0,32299

0,67000

0,30100

0,25420

0,19100

0,38000

de 100 a 300 Km

0,40428

0,67000

0,45151

0,25420

0,19100

0,38000

Acima de 300 km

0,49178

0,67000

0,52799

0,25420

0,19100

0,38000

Acima de 300 km (Reduzida)

0,32836

0,67000

0,32485

0,25420

0,19100

0,38000

DDD fixo para celular, tarifa normal, c/ impostos;

R$/minuto

     

VC3

1,65628

1,81000

1,16001

0,73430

0,60100

0,91000

DDI, fixo para fixo, plano básico, com impostos;

R$/minuto

     

EUA

1,00979

1,16000

1,16116

0,14120

0,59058

0,21000

Argentina

1,39713

1,60000

1,74928

0,48010

0,09032

0,25000

Chile

1,39713

1,60000

1,74928

0,22590

0,59058

0,21000

Paraguai

1,94423

1,60000

1,74928

1,01670

0,42382

0,66000

Portugal

1,39713

1,60000

1,74928

0,19770

0,59058

0,26000

França

1,39713

1,60000

2,22330

0,11300

0,59058

0,22000

Suécia

2,09495

1,60000

2,22330

0,11300

0,59058

0,20000

República Tcheca

3,16503

2,52000

2,14751

0,33890

0,07990

0,22000

México

2,24566

2,52000

2,85166

0,59310

0,27792

0,38000

Cotações em 07/10/2004

1,00

US$=R$

2,82410

1,00

€ = R$

3,747

 

B. Piropo