Sítio do Piropo

B. Piropo

< O Globo >
Volte
21/07/2003

< Na polícia, não! >


Os jovens americanos estão ficando cada vez mais violentos porque os joguinhos eletrônicos banalizam a violência ou os joguinhos eletrônicos banalizam a violência porque os jovens americanos estão ficando cada vez mais violentos? Parece comercial de biscoito, mas não é. É assunto sério que, além do evidente caráter social, tem desdobramentos legais e econômicos.
No centro da questão está o “Grand Theft Auto: Vice City”, um jogo desenvolvido para o PlayStation 2 da Sony e disponível também para PC que já vendeu mais de oito milhões de cópias e faturou mais de quatrocentos milhões de dólares. O objetivo do jogo é roubar carros e sair por aí matando gente, inclusive policiais (veja algumas telas do jogo em <www.rockstargames.com/vicecity/>).
Tem gente que acha “legal”, tem gente que acha ilegal. Entre os últimos, reluz a deputada do Estado de Washington, EUA, (Washington State Senate) Mary Lou Dickerson, que convenceu 46 de seus pares a votarem a favor de uma lei que parece feita sob medida para o joguinho, embora não o mencione textualmente: apenas proíbe a venda a menores de dezessete anos de jogos eletrônicos que “exibam a prática de atos violentos contra agentes da lei”. E o que mais tem no jogo é justamente porrada na polícia. Sem falar em mortes e subornos.
Resultado: a lei HB 1009, que pune o transgressor com multa de US$ 500, foi aprovada em abril por 47 votos a 7, sancionada em maio pelo Governador Gary Locke e deveria viger a partir do próximo dia 27.
O assunto, como era de esperar, levantou uma celeuma danada. Primeiro porque a lei só reprime a violência contra agentes policiais. Quanto ao cidadão comum, pau nele, que a deputada não está nem aí. Depois, porque lei ou não, a coisa tem um cheiro danado de censura.
A ISDA (Interactive Digital Software Association), associação que congrega os desenvolvedores de jogos eletrônicos e representa uma indústria que movimenta dez bilhões de dólares anuais, chiou no ato. Seu presidente declarou que a lei “não apenas é desnecessária e inconstitucional como também claramente não resolve o problema para o qual aparentemente está voltada” (veja em <http://gameinfowire.com/news.asp?nid=2329>). E, alegando que ela fere a Primeira Emenda (da Constituição americana que, entre outros, garante o direito à livre expressão), apelou para um tribunal federal solicitando seu embargo.
E foi atendida. Pelo menos provisoriamente: no último dia dez o juiz federal Robert Lasnik suspendeu temporariamente a vigência da lei porque, a seu juízo, ela é arbitrária ao proibir a violência apenas contra agentes da lei. Diz ele que “o Estado não fez qualquer tentativa de restringir a violência total a que os menores se expõem nem tentou proibir a violência graficamente exposta em jogos eletrônicos, como o assassinato e decapitação de mulheres no jogo “Grand Theft Auto: Vice City”. Apenas se preocupou com seus policiais (veja mais em <http://zdnet.com.com/2100-1104_2-1025032.html>.
A decisão não é definitiva mas impede que a lei entre em vigor na data prevista. E a discussão, evidentemente, vai prosseguir.
Afinal: os jogos eletrônicos estimulam ou simplesmente refletem a violência?
PS: os atalhos (“links”) para os sítios citados neste artigo podem ser encontrados na seção “Escritos” de <www.bpiropo.com.br>.

B. Piropo