Sítio do Piropo

B. Piropo

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20/011997

Falando de Internet...

 

No Globo e nas demais publicações impressas com as quais eventualmente colaboro, não costumo escrever sobre internet. Por diversas razões. A primeira e mais importante é que só me sinto à vontade escrevendo sobre aquilo que realmente entendo. E como ainda não consegui entender a internet, não me atreveria a imaginar que "entendo de" internet. A segunda é que já tem gente demais escrevendo sobre internet. O fato de que a maioria também não entende, evidentemente não faz muita diferença. A verdade é que, depois que a internet virou moda, não se fala nem se escreve de outra coisa. Razão pela qual sempre achei melhor poupar meus leitores de mais este dissabor.

Porém, levando em conta que esta coisa (coluna? artigo? Como classificar isto que vocês estão lendo? Se tiver uma boa idéia à respeito, mande uma mensagem informando) somente é publicada aqui e só pode ser lida usando a internet (e se você está lendo isto em uma página impressa, é porque alguém baixou o texto de minha página pessoal na internet e imprimiu, portanto ela chegou às suas mãos através da rede), considero-a o local apropriado para minhas elucubrações sobre o uso deste formidável recurso que a tecnologia pôs a nosso alcance e que a meu ver tem sido tão mal aproveitado.

Mas, antes que me interpretem mal, quero deixar claro que estando a rede aí à disposição de todos e se prestando a um número virtualmente infinito de utilizações, entendo perfeitamente que cada um tem todo o direito de usá-la da forma que melhor lhe aprouver e ninguém tem nada com isto. Inclusive eu. Que por mais que ache abominável pendurar-se na rede por horas a fio para baixar retratos de mulher pelada, entendo que todos tem o direito de fazê-lo (enfatizando que não tenho nada contra mulher pelada, muito pelo contrário). Assim como compreendo perfeitamente que as centenas - talvez milhares - de adolescentes que se penduram na rede jogando conversa fora via chat, sugando recursos do servidor que fazem cair a um nível de lentidão enervante as taxas de transferência dos demais que tentam usar a rede para algo mais útil, têm pleno direito de fazê-lo. Um fenômeno, aliás, tipicamente brasileiro que impressionou vivamente John Dvorak em sua última visita ao Brasil, que atribuiu nosso gosto pelo chat à natureza gregária de nosso povo.

Isto posto, para ilustrar meu ponto de vista e servir de tema para vossa reflexão, gostaria de comentar com vocês duas diferentes utilizações da rede que recentemente tomei conhecimento.

De uma delas fomos protagonistas eu e um leitor do interior de Minas. Que me enviou uma mensagem aflita informando que os drivers de sua placa de vídeo se haviam corrompido e ele não sabia como repô-los. Sua dificuldade era maior porque acessava a internet do escritório e seu acesso se limitava ao correio eletrônico e transferência de arquivos via FTP através de uma interface de caracteres. Será que eu não poderia ajudá-lo? Bem, não tenho muito tempo disponível, mas compadecido pela gravidade de seu problema respondi que se ele enviasse marca e modelo da placa eu faria uma pesquisa na rede para tentar encontrar algo. Enviou. Era uma placa da qual eu jamais ouvira falar. Vai ser dureza, pensei eu. Mas o problema do rapaz era grave e não custava tentar ajudar. Acessei o Alta Vista, na minha opinião o melhor dos sítios de busca, e entrei com marca e modelo da placa de vídeo. Menos de cinco minutos depois eu enviava ao leitor as características de sua placa, a URL do sítio FTP onde ele poderia encontrar seus drivers e o nome dos arquivos que ele teria que baixar. Depois, fiquei matutando: há dois anos, como fazer para obter aqueles drivers em uma cidade do interior?

O outro fato aconteceu aqui mesmo nas vizinhanças. Pois deu-se que encontrei no elevador um vizinho e amigo que trabalha no ramo. Papo vai, papo vem, ele me perguntou se eu sabia de alguma rádio no Brasil que estivesse transmitindo via internet usando um destes plug-ins que permitem veicular áudio pela rede. Eu respondi que tinha, sim, ouvido algum comentário à respeito, mas não lembrava exatamente que rádio ou onde. Ele então comentou que estava interessado no assunto porque pretendia desenvolver um projeto semelhante, implementando uma "rádio" que transmitiria exclusivamente via internet. Mas por que via internet? perguntei eu. Por que não via rádio, mesmo? Bem, é que o projeto era para uma ONG que já estava usando a internet para dar apoio a comunidades carentes. O que eu achava da idéia?

Bem, como tudo na vida, tem suas vantagens e desvantagens, respondi eu. É claro que para ouvir a nova "rádio" os carentes teriam que trocar um rádio de pilha de dez mérréis por um micro multimídia de dois mil dólares. Mas fora isto, o resto tudo bem.

B. Piropo