Sítio do Piropo

B. Piropo

< Opinião >
Volte
17/03/1997

Câmaras Digitais

 

Ano passado, assistindo a uma (como sempre) magnífica palestra de Jean Paul Jacob, um brasileiro que trabalha na IBM na área de pesquisas de novas tecnologias, fiquei vivamente impressionado com um interessantíssimo fato por ele mencionado na abertura de sua apresentação e do qual até então eu ainda não me havia apercebido. Dizia ele que pelo menos três dos mais importantes progressos tecnológicos já fartamente usados na sociedade moderna não eram sequer cogitados há uma década e, naquela época, prever sua disseminação explosiva não fazia parte nem mesmo dos sonhos dos mais delirantes visionários. Pense bem e veja se não é verdade: ele se referia aos discos CD de áudio, aos notebooks e aos telefones celulares. Quem deles cogitava há dez anos?

Eu ainda não parei para analisar quais são os aspectos comuns a estas tecnologias (o que, aliás, seria um interessante exercício) exceto o fato de permitirem fazer algo que já se fazia antes sem elas, porém de uma forma mais simples, mais barata e, não obstante, melhor. Mas acredito que brevemente mais uma se juntará a elas: a das câmaras fotográficas digitais.

Se você ainda não viu nenhuma, não se preocupe: é só uma questão de tempo. Como eu disse elas estão se disseminando e as mais baratas, que há um ano custavam mais de mil dólares, agora andam na casa dos duzentos e o preço continua caindo. Porém, por via das dúvidas, você encontra quatro delas (Casio, Sony, Epson e Olympus) aqui abaixo:

CASIO QV-10:
SONY DSC-F1:
Epson PhotoPC 500:
CASIO QV-10:

O coração de um destes brinquedos é um dispositivo que consiste em uma superfície retangular, sensível à luz, formada por um conjunto de pequeníssimas células fotoelétricas, e de circuitos eletrônicos capazes de converter a informação recebida destas células em uma imagem digitalizada. Este dispositivo denomina-se CCD (Charge Coupled Device) e, essencialmente, é o mesmo usado nas velhas câmaras de vídeo preto e branco.

O funcionamento de uma destas câmaras fotográficas é relativamente simples e, do ponto de vista da formação da imagem, idêntico ao das câmaras comuns: durante um certo tempo (regulado pelo "obturador" da câmara) a imagem captada pelas lentes é projetada em uma superfície sensível. Ainda como nas câmaras comuns, a quantidade de luz necessária para sensibilizar a superfície é regulada eletronicamente combinando uma certa abertura de diafragma com o tempo de exposição. Porém a semelhança pára aí. Pois nas câmaras comuns a superfície sensível é constituída por um filme fotográfico que deve mais tarde ser revelado para transformar-se no negativo e posteriormente impresso em papel. Já nas câmaras digitais ela é formada pelas células fotoelétricas do CCD.

Estas células, quando recebem luz, geram uma corrente elétrica proporcional á intensidade luminosa. Como reagem apenas à intensidade, não à freqüência da energia luminosa, para registrar imagens em cores cada ponto da imagem é capturado por um conjunto de três células, cada uma dotada de um filtro que somente deixa passar uma das cores básicas, vermelho, verde e azul (as mais sofisticadas usam matrizes de pontos capazes de dar mais ênfase ao verde, simulando a sensibilidade do olho humano às diferentes cores). A corrente gerada por cada célula é amplificada e lida pelos circuitos que compõem o CCD, convertida em um valor digitalizado e armazenada em uma memória semelhante à de nossos micros no interior da máquina. Todo este processo demora não mais que alguns segundos, de modo que a imagem digitalizada pode ser imediatamente transferida para a memória do micro e exibida na tela ou impressa em uma impressora colorida de alta definição. A memória da câmara pode então ser "limpa" e utilizada para capturar novas imagens. Ou seja: fotografia digital significa, em última análise, foto instantânea sem filme.

A qualidade da imagem depende dos componentes óticos e eletrônicos das câmaras. Dos componentes óticos não nos ocuparemos aqui, mas convém mencionar que alguns fabricantes mundialmente respeitados pela qualidade de suas lentes, como Nikkon e Olympus, já entraram no mercado. Quanto aos componentes eletrônicos, o principal fator relativo à qualidade da imagem é sua "definição", ou seja, o número de pontos (ou "pixels", abreviação de "picture cells", ou células de imagem) que constituem a imagem. Quanto maior o número de pontos, maior a definição, mais nítida e de melhor qualidade será a imagem e mais cara a câmara digital. A resolução das câmaras encontradas atualmente no mercado varia de algo próximo a 480 x 360 pontos até mais de 1600 x 1200. Outro ponto relativo à eletrônica da câmara e digno de menção é a forma e capacidade de armazenamento de imagens. As mais simples guardam imagens em memórias internas que podem armazenas poucas dezenas de fotos e devem ser conectadas ao micro para descarregá-las. As mais sofisticadas usam cartões PC Card de alta capacidade que podem ser trocados e somente mais tarde transferidos para o micro através de qualquer dispositivo que aceite este tipo de cartão.

O preço das câmaras digitais, como eu disse, está caindo. Há três anos, quando começaram a ser vendidas, não se encontrava uma delas por menos de dez mil dólares. Hoje, as mais sofisticadas (porém com altíssima qualidade ótica e eletrônica, nada devendo às câmaras tradicionais mais respeitadas) ainda andam pela casa dos cinco mil dólares, mas já há modelos mais simples, de menor resolução e menor capacidade de armazenamento, custando pouco mais de duzentos dólares.

O advento das câmaras digitais provavelmente irá revolucionar a forma pela qual usamos a fotografia. Não havendo mais filme, não há como esperdiçá-lo em fotos inúteis, e um número infinito delas será tirado, muitas das quais se revelarão úteis. Os programas modernos de processamento de imagens estão ao alcance de qualquer mortal, de modo que cada um de nós pode ter um laboratório fotográfico em seu micro. As páginas pessoais na rede serão fartamente ilustradas. O manuseio e processamento de imagens ficará muito mais fácil e barato.

E a vida ficará muito mais divertida.

B.Piropo