Sítio do Piropo

B. Piropo

Jornal o Estado de Minas:
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29/03/2007

< A velha questão do “Sítio” >


De quando em vez um dos visitantes do Sítio do Piropo (< www.bpiropo.com.br >) ressuscita uma velha questão relativa ao jargão da informática e escreve perguntando por que eu escrevo “sítio” em vez de “site”, “como todo o mundo”. Costumo responder que só faço isto quando falo e escrevo em português. Já quando falo ou escrevo em inglês uso “site”, “como todo o mundo”. E o motivo é não ver razão para usar palavras de outro idioma para exprimir algo que tem um equivalente exato no meu.

De fato, o respeitável dicionário Webster’s informa que “site” significa “2 – the place where something is, is to be, or was located” enquanto o não menos respeitável Houaiss diz que “sítio” é “1 – Lugar ocupado por um corpo qualquer; 2.1 – Qualquer local, lugar”. Ou seja: a mesma coisa. E, na rubrica internet, acrescenta: “9 – Palavra sugerida em lugar do inglês site”. Além disso ambos os dicionários indicam o latim “situs” (lugar, local) como origem comum aos dois vocábulos. Portanto, se uso “sítio” quando me refiro ao lugar da Internet identificado por um endereço onde encontro determinadas informações, o faço obedecendo à diretriz do próprio Houaiss quando afirma que “site” é uma palavra do idioma inglês que significa “local na Internet identificado por um nome de domínio...” (grifo nosso) e aconselha “o uso da palavra sítio em lugar desta”.

Note que aqui não vai qualquer crítica a quem prefere “site”. O português evolui, novas palavras são acrescentadas, muitas advindas de outros idiomas. Para não me deixar mentir estão aí, entre tantas outras, abajur, chofer e matinê, dos tempos em que éramos colonizados culturalmente pela França, não ainda pelos EUA. Portanto, quem quiser usar “site” que o faça, nada tenho contra, não critico nem acho errado. Apenas defendo o sagrado direito de me expressar em meu próprio idioma sem precisar de justificativas.

Sempre que este assunto vem à tona logo surge a pergunta: se é assim, por que não usar “rato” em vez de “mouse”? Simples. Primeiro porque “mouse” em inglês não é “rato”, é “camundongo” (rato em inglês é “rat”, está no Webster’s, se não concordar discuta com ele, não comigo). Segundo porque na rubrica informática, “mouse” não se reporta a rato nem a camundongo, mas a um dispositivo de entrada parecido com ele, um objeto para o qual não há nome equivalente em português pois foi inventado há 40 anos nos EUA e é justo que quem o inventou o batize. Tentar achar um vocábulo para designá-lo em português é equivalente a buscar uma palavra em latim para se referir a “metralhadora”.

Nestas situações procuro usar o termo no idioma original como “mouse”, “hardware”, “twain”, “drive” e outros, ou aportuguesá-lo, como “escâner”. Mas quando no meu idioma há vocábulos ou expressões com a mesma acepção, como “correio eletrônico” (para “email”), lhes dou preferência. Afinal o idioma tem me tratado tão bem e me dado tanta satisfação que o mínimo que posso fazer em retribuição é respeitá-lo. Mas, repito: não pretendo convencer ninguém a fazer o mesmo, apenas tento explicar porque o faço.

B. Piropo