Sítio do Piropo

B. Piropo

< Trilha Zero >
Volte de onde veio
17/04/2000

< Mudou o computador >
< ou mudei eu?
>


Há cerca de ano e meio (na Trilha Zero de 17/08/98, disponível na seção Escritos de minha página pessoal em <www.bpiropo.com.br>) eu vaticinava o desaparecimento do computador. Dizia que essas máquinas iriam se disseminar tanto, se tornar tão comuns e se integrar de tal maneira à nossa vida diária que sumiriam de nossas vistas escondendo-se no interior dos utensílios de uso diário. E citava telefones celulares, fornos de microondas, televisões, leitoras de código de barras e caixas automáticos de bancos como exemplos de artefatos que fazem parte de nosso dia-a-dia e que, ao usa-los, raramente nos damos conta que dentro deles há um computador.

Pois bem: desconfio que o desenlace se dará mais cedo do que eu pensava. E, paradoxalmente, quem me levou a essa conclusão foi Michael Dell, fundador e todo poderoso senhor da Dell, um dos maiores fabricantes mundiais de PC.

A conclusão me ocorreu ao ler em um artigo da Infonews chilena que, em uma palestra na Conferência Econômica Mundial realizada mês passado em Davos, Suíça, Dell declarou que o controle exercido sobre a indústria de informática por companhias como Microsoft e Intel está acabando. E justifica o fato pelo aumento da utilização do PC como ferramenta de acesso à Internet, onde "moram" os dados e o software, abrindo novos horizontes para o projeto de novas máquinas. E finaliza: "Decidimos que nossa empresa não mais será conhecida como ‘Dell, a companhia do PC’ mas como ‘Dell, a companhia de infraestrutura para Internet".

Não parece muito. Afinal, é apenas um fabricante de PC dizendo que vai voltar suas máquinas mais para o acesso à Internet que para a "computação pessoal", seja lá o que isso for. Mas, pergunto: com a TV de alta definição batendo à nossa porta e com as distribuidoras de TV a cabo provendo acesso à Internet, você acha que daqui há alguns anos alguém precisará de um PC para acessar a rede? E com os "consoles" se tornando cada vez mais poderosos, você acha que alguém irá precisar de um computador para jogar "joguinhos de computador"? E com a fusão dos telefones celulares com os PDA ("Personal Digital Assistant", um nome pomposo que os americanos arrumaram para designar as cada vez mais pomposas agendas eletrônicas), você acha que alguém vai precisar de um computador para atualizar correio eletrônico? Agora pense: além de jogar joguinhos, acessar Internet e atualizar seu correio eletrônico, para que mais serve seu computador pessoal?

Sei não, mas acho que em pelo menos 90% dos casos vocês concluirão que o computador vai se transformar em uma sofisticadíssima máquina de escrever. E para isso não vai ser preciso um micro: basta uma máquina otimizada para este fim (que, aposto, logo estará no mercado).

O curioso é que quem está precipitando o desaparecimento do PC é justamente a responsável pelo maior surto de vendas de PC na história da informática: a Internet. Que explodiu há cerca de cinco anos e mudou quase tudo em nossa vida.

Não estou exagerando (considere que por "nossa vida" eu me refiro à minha vida e à sua, leitor deste caderno, omitindo a multidão de excluídos que lamentavelmente ainda não têm acesso a um computador, a uma linha telefônica e a muitos outros itens indispensáveis a uma vida decente, como trabalho, educação e saúde). Pelo menos no que toca à minha vida, a mudança foi brutal: a Internet mudou a forma de me comunicar, mudou a maneira de pesquisar informações, mudou a forma de trabalhar, mudou o jeito de comprar, mudou quase tudo. Na sua vida a coisa não há de ter sido muito diferente. E no que toca aqui ao nosso caderninho, nem se fala: mudando o perfil dos leitores, a Internet alterou substancialmente o próprio conteúdo do caderno. E nem poderia ser diferente.

Mudanças deste tipo, que refletem alterações no perfil da própria sociedade provocadas por um fenômeno como a Internet, não há que comemorar ou lamentar: há que aceitá-las e seguir adiante, posto que são inevitáveis. Como inevitável será o desaparecimento do computador.

Portanto, é tocar pra frente que atrás vem gente. E se o computador vai desaparecer, o negócio é descobrir outro assunto para escrever sobre…

Talvez moda, quem sabe? Pode não ser um tema muito trepidante, mas é um meio seguro de aumentar o número de assinaturas femininas no rol de remetentes de meu correio eletrônico. Porque, francamente: escrevendo sobre computadores, minha caixa postal mais parece uma sucursal do Clube do Bolinha…

B. Piropo