Sítio do Piropo

B. Piropo

< Trilha Zero >
Volte de onde veio
01/01/2001

< Milênios e Bugs >


Esta deveria ser uma coluna especial, já que não somente é a inaugural do ano, como também da década, do século e do milênio – além de ser a primeira do décimo ano em que é publicado este caderninho que vos fala. Mas minha inspiração não se deixou tocar pela efeméride e a coluna não apenas é das mais comuns como também um pouco mais desenxabida que de costume. Apelo, então, para vossa complacência.

Por falar em troca de milênio e como bem lembrou Mestre João Ubaldo em crônica recente: vocês repararam que este ano ninguém discutiu o assunto? Recordando: no final do ano passado formou-se uma imensa controvérsia sobre a data da “virada do milênio”, com uma corrente afirmando categórica e enfaticamente que a referida virada ocorreria na entrada do ano 2000. Confesso que me custava entender sua confusa argumentação baseada no fato de 2000 ser um número “redondo” (embora eu não compreenda o que uma coisa tenha a ver com a outra e continue achando que o único número verdadeiramente redondo é zero – embora zero nem mesmo seja um número). Afinal, tendo a contagem dos anos começado em um e não em zero e considerando que década, século e milênio duram, respectivamente, dez, cem e mil anos, não me parecia haver dúvida que as década, século e milênio então correntes acabariam ontem, como de fato acabaram. No entanto, na ocasião, a lógica não prevaleceu e uma parcela significativa da humanidade entrou o ano 2000 comemorando a tal virada do milênio. Porém, para minha surpresa, no ano que recém findou, quando os meios de comunicação se referiam à festa da noite de ontem como o “limiar do novo milênio”, nem uma única voz se alevantou para retrucar que a virada já havia ocorrido. Das duas uma: ou a vontade de comemorar duas vezes prevaleceu e os que achavam que a virada deu-se ano passado ficaram na moita para curtir a festa (se você comemorou ano passado, por favor, insista em que faz parte desse grupo) ou então, tendo um ano inteiro para pensar, fez-se afinal a luz nas mentes dos que advogavam a “virada em 2000” e eles conseguiram, afinal, entender a lógica da coisa. Considerando o entusiasmo e a ênfase com que defendiam sua posição, dando a entender que estavam efetivamente convencidos de que tinham razão, e dada a simplicidade do raciocínio que prova que não estavam, a última hipótese me parece a mais provável.

Ainda no mesmo campo venho, cá deste canto de página, respeitosamente discordar do “A-hahá” da última coluna da Cora sobre o bug do milênio. Sim, concordo, houve exagero. E entendo que alguns indivíduos inescrupulosos, mal intencionados e barulhentos aproveitaram-se da ignorância (e de sua indefectível escolta de medo, incerteza e dúvida) dos leigos para fazer a crise parecer maior do que efetivamente era e tirar proveito disso. Mas o problema houve (ainda recentemente deparei-me com um velho 486 cujo BIOS não aceitava o ano 2000) e seus efeitos somente não foram mais graves porque as devidas providências foram tomadas em tempo – como, aliás, não se cansavam de afirmar as pessoas mais sensatas. Se algo é digno de espanto no que toca ao tema em questão é justamente o fato das devidas providências terem sido tomadas em tempo. Quem sabe uma conseqüência do exagero que houve em torno do assunto. Ou seja: os mal intencionados, em seu afã de aumentar as proporções do problema, talvez tenham ajudado a resolvê-lo.

Finalmente, aos que esperavam um desdobramento da coluna da semana passada: afinal consegui instalar três dos sistemas operacionais que pretendia (falta o Linux, que como demandará mais tempo para que eu venha a desenvolver alguma familiaridade com ele, terá que aguardar ainda um pouco). Agora, atravesso a difícil fase de reinstalar aplicativos. Nesta última semana tenho trabalhado ora com um sistema, ora com outro. O tempo é pouco para formar opinião mas, por enquanto, o Windows 2000 me parece a melhor opção: embora internamente bastante complexo, sua interface é simples e intuitiva e a estabilidade é significativamente maior que a dos demais. Já Windows 98 é aquilo mesmo que todo o mundo conhece e Windows ME, por enquanto, me parece um enigma: combina a instabilidade do 98 com a maior complexidade do 2000. Incidentalmente: a mixórdia em que se transformou minha máquina tem dificultado a atualização do correio eletrônico. Se porventura sua mensagem ficou sem resposta não foi por descaso, mas pela dificuldade em responder. Que me obriga a usar esta coluna para agradecer e retribuir às muitas e mui carinhosas mensagens de boas festas. A todos vocês, obrigado. E que o novo milênio seja melhor que o que passou. Para cada um de nós e, sobretudo, para a humanidade.

B. Piropo