Sítio do Piropo

B. Piropo

< Trilha Zero >
Volte de onde veio
04/02/2001

< Causas e causos... >


Minha caixa postal está abarrotada e não consigo esvaziá-la. Procuro responder sempre, nem que seja com um texto padrão justificando a impossibilidade de dar maior atenção à mensagem, mas ultimamente nem isso tem sido possível. Peço, então, desculpas aos que ficaram sem resposta.

Há mensagens, porém, que hesito em responder. Como a do leitor Luis Gils, relatando que havia comprado um micro que travava toda vez que tentava usá-lo. Não conseguindo resolver a pendenga junto ao revendedor, decidira recorrer à justiça. O processo se encaminhava para a segunda audiência. O problema é que a parte contrária havia alegado que os danos tinham sido causados por ele, ao instalar software pirata. E perguntava: “Existe esta possibilidade? É possível danificar chips de memória ou o processador ou mesmo qualquer outra peça do micro por instalação de software? Preciso de uma resposta pois, não tenho condições de comprar outro micro. Estou pagando empréstimo bancário realizado para compra do micro sem poder usá-lo.”.

Mas que canoa furada... Iria eu me meter em um bochincho desses? É claro que a desculpa do revendedor era apelação. A máquina estava mesmo “bichada” e por mais condenável que seja a prática de instalar software pirata, isso não danifica hardware. Mas vai que eu respondo, o juiz resolve me convocar para depor e o pilantra do revendedor contesta? Além de perder tempo, que já tenho pouco, arrisco me enrolar com um problema que não é meu. Melhor simplesmente dar de ombros e ignorar. Por outro lado, o rapaz estava cheio de razão. Era, claramente, a parte mais fraca. Fazer de conta que não era comigo certamente seria mais cômodo mas seguramente não era o mais justo. Nem o mais correto. O rapaz estava com a razão, confiou em mim e eu lhe devia ao menos uma resposta. Se não, como dormir em paz? Respondi, então, embora sucintamente: “Eu não conheço nenhum caso em que a instalação de software pirata tenha danificado hardware”. E esqueci o assunto.

Algumas semanas depois abri minha caixa postal e encontrei o seguinte: “Escrevo mais uma vez, só que agora para agradecer a ajuda. O meu processo foi à terceira audiência, onde tive causa ganha. O valor não foi o que esperava mas vou poder comprar outro microcomputador, talvez até um pouco melhor que o anterior. Como precisava de um parecer de alguém de renome, especialista no assunto e considerado no meio informata, recorri a cinco colunistas e a única resposta que consegui foi a de V.S. Apenas uma única linha de sua resposta foi o suficiente para que eu não saísse do tribunal como vilão. Agradeço muito pela colaboração. Tenho profunda admiração pelo seu trabalho. Um grande abraço. Luis Gils”.

Cara, você não faz idéia da satisfação que dá receber uma mensagem como essa...

Da causa do Gils, passemos para um causo. Pois ocorre que a Internet oferece uma oportunidade inigualável para divulgar manifestações culturais regionais que sem ela ficariam restritas à área de origem. E enquanto no maior centro cultural do país o foco das atenções é o funk e a densa poesia de suas letras (“goza na cara, goza na boca, goza onde quiser”, deus meu, que coisa tão delicada e graciosa...), no Pará viceja um movimento cultural fortíssimo que mistura ritmos locais (como o carimbó e o boi-bumbá) com música caribenha (merengue e zouk love, derivado do zouk da Martinica, palavra que significa “festa” e deu nome à dança e ao ritmo), além de gêneros tipicamente belenenses, como o brega pop. Confesso que não fosse pela Internet, eu jamais tomaria conhecimento deles. Mas basta visitar o sítio Bregapop em <www.bregapop.cjb.net> para se ter uma idéia do que está rolando por lá. Nas seções dos diversos gêneros musicais (além dos citados, há a lambada, a cúmbia e a MPP, de Música Popular Paraense) pode-se encontrar um breve texto sobre o gênero e, o que é mais importante, centenas de amostras para saborear caso se tenha o Real Player G2 instalado. Há ainda um fórum de discussão e diversas seções informativas, inclusive uma interessante seção de Dicas onde podem ser vistos vídeos curtos (com som em inglês) sobre assuntos relacionados à informática (José Roberto da Costa Ferreira, o responsável pelo sítio, é estudante de informática). Vale a pena a visita quando não para comparar a poesia e ingenuidade da letra do carimbó “Fita verde” (se eu soubesse que tu vinha, eu fazia o dia maior, dava um nó na fita verde prá prendê o raio do sol) com a fina sutileza e inteligência da letra do funk “Máquina do sexo” (eu transo igual um animal, a Chatuba de Mesquita do bonde do sexo anal... Ranca cabaço, é bonde dos careca).

Dá uma vontade de mudar para Belém...

B. Piropo