Sítio do Piropo

B. Piropo

< Trilha Zero >
Volte de onde veio
05/11/2001

< Jogando a criança fora >


O mercado de impressoras, particularmente o de impressoras de baixo custo e uso predominantemente doméstico, é amplamente dominado pela impressão a jato de tinta. Atualmente esse mercado é controlado por apenas quatro fabricantes: Canon, Epson, HP e Lexmark. Não é um mercado desprezível: em todo o mundo são vendidas anualmente quase cem milhões de unidades, o que movimenta alguns bilhões de dólares.

O mais interessante é que o gigantesco negócio de impressoras esconde um outro ainda maior: o de cartuchos de tinta. Para descobrir o quanto esse mercado aparentemente subsidiário é poderoso e entender a veemência dos fabricantes em instar os consumidores a usar apenas os cartuchos fabricados por eles mesmos, basta comparar o preço da impressora com o total gasto anualmente em cartuchos por um usuário médio.

O nome da tecnologia deriva do fato da impressão ser feita por meio de pontos produzidos por jatos de tinta disparados sobre o papel. Esses jatos são na verdade pequeníssimas gotas (as impressoras modernas são capazes de produzir gotas menores que cinco picolitros, ou seja, cinco milionésimos de milímetro cúbico) expelidas simultaneamente através de minúsculos bocais situados em uma peça denominada “cabeça de impressão” que se movimenta em contínuo vai-vem sobre o papel que se desloca sob ela. Uma cabeça de impressão pode conter bem mais de cem bocais. Cada um imprime um ponto com diâmetro inferior a 50 micra (o menor ponto visível a olho nu mede cerca de 30 micra) e as impressoras modernas são capazes de imprimir com extrema precisão mais de trinta pontos por milímetro.  

Toda tecnologia tem seu “macete”, em geral sob a forma de um componente principal, responsável pelo melhor ou pior desempenho do dispositivo. No caso da impressão a jato de tinta o “macete” está na cabeça de impressão.

Nas impressoras produzidas pela Epson para atender o mercado de baixo custo, a cabeça de impressão se situa na própria impressora e nela permanece após a troca do cartucho. Nas produzidas por Canon, HP e Lexmark a cabeça se situa no cartucho e, caso você siga as recomendações do fabricante, ela é jogada fora juntamente com o cartucho vazio.

Para mim isso é semelhante ao ato de, após o banho, deitar fora a criança juntamente com a água da bacia. Como engenheiro que sou, me custa considerar econômica e ecologicamente correta a prática de jogar no lixo uma peça ainda perfeitamente funcional, um componente de precisão no qual estão embutidos circuitos eletrônicos extremamente complexos, apenas porque acabou a tinta do reservatório a ela acoplado. Por isso resolvi investigar o assunto. Descobri que eu não estava completamente certo. Mas, definitivamente, também não estava completamente errado. Vejamos porque.

As impressoras a jato de tinta hoje disponíveis no mercado empregam duas tecnologias distintas, a térmica e a piezoelétrica, que divergem apenas no modo pelo qual as gotas de tinta são geradas. Nas impressoras térmicas a tinta é mantida em estado líquido no interior de uma minúscula câmara ligada ao reservatório e dotada de um bocal na parede que faceia com o papel. Para imprimir um ponto, basta aplicar um pulso de corrente elétrica a um pequeno resistor situado na câmara. O calor gerado vaporiza a tinta, formando uma bolha. A pressão proveniente do súbito crescimento da bolha expele uma gotícula de tinta através do bocal. Ao cessar o pulso, a redução da temperatura no interior da câmara faz a bolha desaparecer e a resultante queda da pressão suga tinta do reservatório para encher novamente a câmara. Essa técnica foi batizada pela Canon de “bubble jet”, uma referência à bolha de vapor que força a expulsão da gotícula.

A outra tecnologia recorre aos materiais “piezoelétricos” que, quando submetidos a uma deformação, geram uma tensão elétrica (e por isso são usados para produzir fagulha em isqueiros sem “pedra” e nos acendedores de fogão tipo “Magiclick”) e, quando submetidos a uma tensão elétrica, deformam-se. Nas impressoras que adotam essa tecnologia, uma das paredes da câmara de tinta é formada por uma camada de cerâmica revestida com material piezoelétrico. Para disparar a gota, aplica-se uma tensão a esse material, que se deforma e comprime o líquido da câmara, expulsando a gota. Imediatamente após é aplicada uma tensão negativa ao mesmo ponto, o que faz o material deformar-se no sentido oposto, sugando tinta do reservatório e enchendo novamente a câmara.

Semana que vem compararemos essas tecnologias. Mas aqui vai a primeira pista para entender o problema: o único fabricante que adota a tecnologia piezoelétrica é a Epson.

B. Piropo