Sítio do Piropo

B. Piropo

< Trilha Zero >
Volte de onde veio
10/12/2001

< Quanta informação? >


Voltei de viagem recentemente. Levei minha câmara digital e fiz algumas fotos. Viagem curta, quase que só um final de semana, gerou apenas meia centena de fotos. Estão guardadas em meu disco rígido e ocupam pouco mais de 60 Mb. Quer dizer: em poucos dias de viagem, apenas sob a forma de fotos digitalizadas, minha produção de informações excedeu 60 Mb (sempre é bom lembrar que o primeiro disco rígido a engalanar meu PC não passava de 40 Mb e abrigou com folga o sistema operacional, os programas e toda a informação que eu produzi durante um par de anos). Meus companheiros de viagem também trouxeram suas fotos, algumas digitalizadas, outras em filmes. Sendo uma viagem de trabalho, notas foram tomadas e artigos escritos, gerando mais informação, desta vez em papel. Ao mesmo tempo, em todo o mundo, jornais, revistas, livros e documentos foram impressos, CDs e DVDs de música e dados foram prensados, dados foram armazenados em discos rígidos de micros domésticos e redes empresariais, fitas foram gravadas, filmes foram feitos em vídeo e película, cartas e mensagens foram enviadas pelo correio (eletrônico ou não), enfim, informação foi gerada e armazenada sem cessar. E assim vem sendo desde os primórdios da civilização.

Você tem idéia de quanta informação o homem produziu desde o dia em que nosso antepassado primata decidiu pintar pela primeira vez uma imagem rupestre na parede de sua caverna? Da quantidade de informação produzida anualmente? Sabe em que taxa ela cresce?

Pois bem, movidos pela mesma curiosidade, Peter Lyman e Hal Varian, pesquisadores da Escola de Sistemas e Gerenciamento de Informação da Universidade da Califórnia em Berkeley, coordenaram um projeto destinado a estimar a quantidade de informação produzida anualmente em todo o mundo. O resultado é fascinante e pode ser consultado no sítio “How Much Information”, em <http://www.sims.berkeley.edu/how-much-info/>. O estudo completo pode ser baixado em formato PDF. Tem mais de duzentas páginas e evidentemente não dá para ser sequer resumido aqui. Mas alguns dados interessantes merecem atenção.

A quantidade de informação produzida anualmente vem crescendo em um ritmo vertiginoso. Certamente o grande responsável por isso é o desenvolvimento tecnológico que permite fabricar dispositivos de armazenamento ótico e magnético de capacidade cada vez maior a preços cada vez menores. Aquele disco rígido que mencionei lá em cima custou seiscentos dólares em 1986, ou seja, US$ 15 por Mb. Em 2000 o custo de armazenamento caiu para US$ 10 por gigabyte (um gigabyte vale mil Mb) e estima-se que cairá para apenas US$ 1/Gb em 2005. Isso não apenas facilita a produção e armazenamento de informação digitalizada como também faz com que ela seja a forma absolutamente predominante de gerar e armazenar informação: em 1999, mais de noventa porcento de toda a informação produzida no mundo o foi na forma digitalizada.

Mas quanta informação foi produzida? Bem, antes de quantificar convém levar em conta que a estimativa engloba todo o tipo de informação, inclusive a espalhada nos sítios da internet, estimada em 21 terabytes (um terabyte vale mil Gb) no ano 2000 e dobrando a cada ano, e os mais de onze petabytes (um petabyte vale mil Tb) transmitidos por correio eletrônico no mesmo ano pelos mais de 400 milhões de internautas mundiais. Isso sem contar minhas fotos mencionadas no início do artigo. E foto não é informação pouca: o estudo estima que anualmente 400 Pb são ocupados por mais de 80 bilhões delas, o que corresponde a mais de oitenta milhões de vezes a capacidade de armazenamento exigida por todo o texto produzido no mesmo período.

Isto posto, vamos lá: o estudo conclui que desde seus albores até 1999 a quantidade de informação produzida pela humanidade superou os 12 exabytes (um exabyte vale mil Pb). E que apenas no último ano da série, em 1999, foram gerados 1,5 Eb, o que correspondeu a uma produção de 250 Mb de informação para cada habitante do planeta.

Mas a conclusão mais estarrecedora não é a quantidade de informação produzida, mas sua taxa de crescimento. Que o estudo estima em 100% ao ano. Isso significa que em 2000 foram gerados 3 Eb de novas informações e que este ano estima-se que serão produzidos mais 6 Eb. E como uma taxa de crescimento de 100% implica dobrar a quantidade de informação a cada ano, basta fazer as contas para perceber que nos próximos dois anos será produzida muito mais informação que a gerada em toda a história da humanidade até hoje.

Pra vocês, não sei. Mas pra mim, que estou ficando velho, certamente é informação demais. Mesmo porque, do jeito que anda o mundo, tem coisa que é melhor não saber...

B. Piropo