Sítio do Piropo

B. Piropo

< O Globo >
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08/04/2002

< Gentileza >


Quem conheceu o Rio dos anos setenta há de lembrar do Profeta Gentileza. Figura comum nas barcas Rio Niterói, na Central, na Cinelândia, no Largo da Carioca, inseriu-se na galeria dos tipos populares da cidade. Sua lembrança evoca as mais diversas emoções, dos que acham que não passava de um maluco aos que acreditam que era realmente um profeta. Mas seja lá o que se pense dele, não há quem não esboce um sorriso doce ao evocar sua lembrança. Porque é impossível guardar uma recordação má de alguém cujo lema era “gentileza gera gentileza”.

Nos anos oitenta, vagava no início da Avenida Brasil, próximo à Rodoviária Novo Rio, pregando sua mensagem de paz entre os veículos retidos no engarrafamento. Ali, com tinta, pincel e infinita paciência, plantou sua mensagem em cinqüenta e seis pilares do elevado de acesso à Perimetral. Há cinco anos as inscrições foram cobertas com tinta. Uma equipe da UFF restaurou-as. Infelizmente, em mais uma demonstração de que a estupidez humana não tem limites, elas já estão parcialmente cobertas por cartazes e pichações.

Graças, porém, ao esforço e pertinácia do professor Leonardo Guelman, a colaboração de Gentileza ao acervo cultural do Rio de Janeiro será preservada. Se não nos pilares do viaduto, pelo menos em um CD ROM. Porque na próxima quinta-feira será lançado o CD ROM “Brasil: Tempo de Gentileza”, desenvolvido pela Klam Design com direção de arte do Prof. Guelman (que já havia criado em 97 o CD ROM “Univvverrso Gentileza”, também sobre o Profeta).

Produzido com apoio da Petrobrás, Instituto Joãosinho Trinta, UFF e Socicam, administradora da Rodoviária, o CD (que não será comercializado), se divide em três seções. A primeira, “Livro”, apresenta os escritos sob o viaduto e traz um dispositivo de busca que permite localizar palavras, um histórico ilustrado dos trabalhos de restauração e um mecanismo para montar sua própria “pilastra” arrastando letras com o mouse. Na segunda, “FPEN” (iniciais de Filho, Pai, Espírito Santo e Nossa Senhora, as figuras mestras do universo do Profeta), há uma análise da simbologia usada nos escritos. E finalmente na terceira, “Gentileza”, encontra-se a vida de José Datrino, o Profeta Gentileza, ilustrada com vídeos preciosos – inclusive aquele onde o próprio Profeta desmente a crença de que teria perdido toda a família no incêndio do Gran Circus Norte-Americano (embora esse incêndio tenha exercido forte influência em sua sina).

Não tivesse nos deixado em 1996, na próxima quinta-feira o Profeta completaria 85 anos. Além do lançamento do CD às 14 horas e de uma apresentação teatral, o aniversário será comemorado com apresentações de um vídeo sobre o profeta e da banda da PM e distribuição de um bolo de dois metros aos presentes na Praça Profeta Gentileza, em frente à Rodoviária. Tudo isso de graça, como convém em uma homenagem a quem disse: “Eu não aceito dinheiro de ninguém. Muitos puxam dinheiro pra me dar, eu não aceito. ‘Eu não quero seu dinheiro, meu filho, quero muito mais: quero seu espírito para Deus’. Se eu receber dinheiro, estou vendendo uma coisa que não comprei. Se eu recebi uma graça de Deus, eu tenho que entregar de graça”.

Como você vê, não são apenas seus escritos que estão fazendo falta...

PS: Quanto ao artigo da semana passada sobre o uso de microchips GPS enfiados, digo, implantados, na região lombar de executivos como medida anti-seqüestro, sugiro leitura mais atenta. Especialmente dos nomes do produto, Atorol, e dos personagens, o cientista Lirba Edor Iemirp, sua assistente Ana Casamu e primeiro usuário, O. Irato. Leia-os novamente, desta vez de trás para a frente. É que já recebi mensagens de interessados em contatar prof. Edor e não tenho como estabelecer tal contato antes de 01/04/2013, a próxima segunda-feira a cair em um primeiro de abril.

PS2: Sobre a coluna de 25 de março, que falava sobre o Visual Studio.Net, diz o amigo Marcus Borelli: “Li atentamente sua última coluna e a do C@T também. Eu gostaria de lembrar que existe uma empresa chamada Borland que sempre produziu as melhores ferramentas de programação que tive conhecimento (JBuilder por exemplo). Por que não citá-la?”. É mesmo, mestre Borelli. Apesar de alguns percalços, a Borland continua firme, inclusive com sua página em português (veja em <www.borland.com.br>. Por que não citá-la? Pois está citada.

B. Piropo