Sítio do Piropo

B. Piropo

< Trilha Zero >
Volte de onde veio
01/07/2002

< Tablets >


Os que são suficientemente complacentes para ler o que escrevo já tomaram ciência de um conceito que costumo repetir com alguma freqüência: se tem uma coisa que atrapalha a disseminação dos computadores, essa coisa é o teclado. É claro que se você é do tipo que passa horas sentado em frente a um micro e digita mais rapidamente do que fala, talvez ache que estou exagerando. Mas os demais certamente haverão de concordar comigo: precisar aprender uma habilidade nova para se comunicar com o computador é realmente uma chateação. Por isso a indústria da informática anda tão alvoroçada desenvolvendo as chamadas “interfaces naturais”: reconhecimento de voz e de caracteres manuscritos.

O reconhecimento de voz até que está conseguindo progressos. Mas traz alguns inconvenientes, sobretudo para uso corporativo (imagine um escritório com dezenas de pessoas se comunicando em voz alta com seus micros ao mesmo tempo para ter uma idéia do problema). E se você usa um desses micros de mão sobre os quais falei em artigo da semana passada (ainda disponível na seção Escritos de meu sítio, em <www.bpiropo.com.br>), sabe que o reconhecimento de caracteres manuscritos (“handwriting recognition”) também não anda lá muito bem das pernas. O melhorzinho, em minha opinião, é o “graffiti” usado pelo sistema Palm, que não adota escrita cursiva (entra-se com os caracteres individualmente em um local específico da tela) e exige algum treinamento para obter resultados razoáveis. Não obstante, tem muita gente que acha que esse é o caminho do futuro. Inclusive a Microsoft.

Tanto é assim que amanhã, em sua palestra na TechXNY (lê-se “tekex-NY”, abreviação de “exposição técnica de NY”, o novo nome da velha PC Expo), Jeff Raikes, um dos vice-presidentes da MS, apresentará a versão beta de um novo Windows XP, denominado Tablet PC Edition, voltado especificamente para micros do tipo tablet (veja artigo de John G. Spooner em <http://zdnet.com.com/2100-1103-938282.html>).

Um “tablet PC” é um micro portátil no qual a entrada de dados se faz escrevendo diretamente na tela de material sensível com uma caneta especial. Diversas empresas já os estão fabricando, cada uma usando sua técnica proprietária para processar a entrada de dados. O WinXP Tablet PC Edition, que deverá estar no mercado no início de novembro, é a tentativa da MS de unificar isso, permitindo maior disseminação do tablet e fazendo dele o micro portátil do século 21.

É claro que qualquer portátil pode empregar a escrita manual adicionalmente ao teclado: basta usar as telas sensíveis e as canetas eletromagnéticas fabricadas pela Wacom Technology e Fine Point, as duas principais indústrias que as fornecem aos fabricantes de micros. Isso, combinado com um sistema que faça a tela girar e se sobrepor ao teclado, como o do Acer TravelMate 100, permitiria usar o micro ora como notebook comum, ora como tablet PC (veja análise do Acer em <www.pcmag.com/article2/0,4149, 3332,00.asp>) Mas o verdadeiro tablet PC não terá teclado: será apenas uma fina caixa de plástico encimada por uma tela sensível com um rasgo lateral para encaixar a caneta quando não em uso. E é nisso que a MS está apostando pesado com seu novo sistema operacional. Incidentalmente: faz parte do sistema um aplicativo com uma tela em branco na qual se pode escrever livremente, tomar notas, acrescentar páginas e ordená-las. O aplicativo chama-se “journal”, que em inglês significa “diário”, no sentido de “diário de anotações”. Mas cá no patropi, onde se usam termos como “atachar”, “daunloudear” e “butar”, presumo que os mestres do jargão, com sua cultura lingüística só comparável à dos surfistas cuja contribuição magna para o vernáculo, segundo o pessoal da “Casseta”, foi a frase “ei, ó o auê aí, ô”, uma das mais longas do idioma que não recorrem a consoantes, chamarão o “journal” de “jornal”.

O sistema, ainda em sua versão beta, foi distribuído para teste a alguns analistas americanos e participantes da TechXNY. As reações variam. Há quem diga que “depois de experimentar um tablet, ninguém há de querer voltar para o teclado” (veja artigo de Tiffany Kary em <http://zdnet.com.com/2100-1103939427.html>). E há quem afirme que ele é apenas a nova geração do que antigamente se chamava Pen Windows e “embora tenha melhorado muito, a busca pela perfeição precisa continuar” (veja artigo de David Coursey em <www.zdnet.com/anchordesk/stories/story/ 0,10738,2872001,00.html>). Mas todos são unânimes em afirmar: o tablet é o futuro dos micros portáteis.

Quem viver, verá.

PS: Os atalhos ou “links” deste artigo podem ser encontrados na seção Escritos desta semana do Sítio do B.Piropo, em <www.bpiropo.com.br>.

B. Piropo