Sítio do Piropo

B. Piropo

< Trilha Zero >
Volte de onde veio
24/02/2003

< Eu e a Internet >


O texto abaixo fala sobre a hipotética influência da rede na vida de uma pessoa que leva a sério tudo que recebe por correio eletrônico. É de autor desconhecido. Recebi-o do José Mário Miccolis, fiz algumas alterações e aqui vai ele para seu deleite ou desgosto.
“A Internet mudou minha vida. Eu era uma pessoa extrovertida. Freqüentava bares e boates. Hoje, os evito com receio de me envolver com alguma quadrilha internacional de ladrões de órgãos e acordar em uma banheira qualquer sem um rim ou uma córnea. Evito também cinemas e teatros com receio de sentar-me em uma poltrona na qual alguém tenha deixado uma seringa contendo sangue HIV positivo.
Raramente atendo o telefone com medo que me peçam para acionar uma combinação de teclas que clonará minha linha, levando-me a pagar uma conta telefônica astronômica. Desfiz-me de meu celular ao ser informado que ganharia um modelo mais recente sem nenhum custo. Quando percebi que não o receberia, pensei em comprar outro, mas desisti ao saber do risco de câncer no cérebro devido à irradiação emitida pela antena. Hoje, quase não me comunico com ninguém, exceto via internet.
Meus hábitos alimentares mudaram. Evito hamburgers desde que soube que são feitos com carne de monstros disformes, gerados em laboratório e criados industrialmente. E parei de tomar bebidas em lata assim que descobri os riscos de contrair leptospirose transmitida pela tampa contaminada com urina de rato. Além disso, abandonei diversos alimentos que contêm estrógenos cujos efeitos sobre minha masculinidade poderiam ser desastrosos.
É verdade que no que toca à masculinidade os danos já não serão tão sentidos quanto há alguns anos: a freqüência com que a exerço caiu muito quando tomei conhecimento da possibilidade de comprar um preservativo cuja embalagem foi violada e no qual foram inoculados germens transmissores de doenças venéreas. Mesmo porque tem sido cada vez mais difícil conseguir novas parceiras: depois que parei de ir a bares e boates, sobraram os shoppings, mas passei evitá-los ao descobrir os riscos de ser seqüestrado e obrigado a fazer compras até o limite de meus cartões de crédito e, sobretudo, ao pavor de encontrar um cadáver no porta malas de meu carro voltando ao estacionamento. Mesmo porque não tenho muito o que fazer em shoppings, já que poucos recursos me sobraram para compras depois que doei tudo o que tinha para salvar uma pobre criança à beira da morte.
Gastei uma fortuna com programas de segurança na tentativa de evitar que a rã da Budweiser invadisse meu micro, que os teletubbies se apoderassem de meu protetor de tela ou que um dos milhares de nefandos vírus, sobre cuja existência e ação maléfica eu recebia alertas quase diariamente, devorassem o conteúdo de meu disco rígido. Não adiantou: mesmo protegida, a máquina recusou-se a funcionar depois que eu removi metade dos arquivos de nomes exóticos contidos na pasta de sistema, todos denunciados como transmissores de vírus nefastos, embora fossem inocentes arquivos do próprio sistema.
É fato que quando o micro parou de funcionar eu pouco o usava: a maior parte de meu tempo era dedicada à luta contra a forma cruel de extrair bílis dos ursos asiáticos para produzir medicamentos, à militância contra a criação de gatos “bonsai” deformados no interior de frascos transparentes e à liderança de campanhas contra organizações que distribuíam um mapa das Américas no qual a Amazônia havia sido suprimida do território brasileiro.
Mas o que realmente provocou meu afastamento foi a desilusão de não ver realizados meus três desejos secretos após encaminhar a uma dúzia de amigos o Tantra Mágico enviado pelo Dalai Lama diretamente do Nepal. Estou convencido que esse foi o castigo por haver interrompido algumas correntes estúpidas que me concitavam a enviar uma cópia a meus amigos sob à ameaça de que, se não o fizesse, desabariam sobre mim todos os males do mundo.
Não o fiz.
Viu no que deu?
Esse é o texto. Se você não enviar uma cópia dele a dez pessoas, nada de mal lhe acontecerá. Mas continuará recebendo mensagens sem o menor fundamento que infernizarão sua vida em 2003 e nos anos subseqüentes, seja por falta de informação e esclarecimento de quem as envia, seja por pura basbaquice mesmo. É certo que também virão algumas que provocarão sorrisos, enviadas por amigos inteligentes e com senso de humor. Mas, tomando por base a porcentagem de pessoas assim no conjunto da humanidade, certamente essas serão minoria. Não obstante, a vida continuará e, mesmo que tente, você não conseguirá viver sem a Internet.

B. Piropo