Sítio do Piropo

B. Piropo

< Trilha Zero >
Volte de onde veio
25/08/2003

< Portadores da Alegria >


Há duas semanas o engenheiro sanitarista que se une a mim nessa dupla personalidade inventada por Cora Rónai ao convidar um especialista em tratamento de efluentes líquidos para escrever sobre computadores foi solicitado a ministrar uma palestra sobre saneamento na Conferência Municipal das Cidades, em Macaé.
Minhas expectativas quanto à cerimônia de abertura não eram das mais animadoras. Esperava uma enxurrada de discursos seguida de um coquetel, como sói acontecer em tais ocasiões. Auditório lotado, apresentou-se um grupo de dança formado por crianças e adolescentes. Soube depois, por Ângela Terra, da Fundação Macaé de Cultura, que aquele era um dos grupos integrantes do Projeto Art Luz que, além de dança, pratica teatro, capoeira e atividades esportivas com um grupo de 1400 jovens de comunidades carentes de Macaé. O espetáculo foi bonito. Mas eu não estava preparado para o que veio a seguir.
O apresentador anunciou mais um número de dança. Desta vez seria o grupo Portadores de Alegria. Logo o palco estava ocupado por algumas pessoas, todas portadoras de um ou outro tipo de deficiência. Então a música se fez ouvir e eu assisti um dos espetáculos mais belos e comoventes que esses olhos cansados já presenciaram.
Segundo seus responsáveis, o Núcleo de Dança Portadores de Alegria (NDPA) foi criado em Macaé com a “finalidade de integrar a pessoa portadora de deficiência através da arte da dança, rompendo as barreiras da discriminação”. Suas exibições públicas são sempre gratuitas e visam estimular a formação de novos núcleos com filosofia semelhante. Se conseguem isso, não sei. Mas sei que conseguem fazer um espetáculo sóbrio, leve e, sobretudo, comovente. E comovente não por ser levado à cabo por um grupo de pessoas portadoras de deficiência, mas pela beleza, graça e harmonia de movimentos.
Como quase todos os projetos desta natureza, o Portadores de Alegria é fruto de um sonho. Um sonho de menina de uma de suas fundadoras, presidente e principal evangelista, Vania Tolipan, que queria ser bailarina. Os fados tentaram impedi-la fazendo com que uma paralisia infantil privasse-a do movimento das pernas. Mas fados não bastam para deter Vania. Mais poderosa que eles, constatou (segundo ela mesma, inexoravelmente) que “as pessoas portadoras de deficiência (não só) podem (como necessitam) dançar”. Impelida pelo sonho, há três anos agregou um grupo de pessoas corajosas e abnegadas: Oyama Queiroz, bailarino e professor, Ademir Martins, diretor teatral, as Dras. Marlene dos Reis, Carine Masson e Cynthia Lozada, responsáveis pelo acompanhamento psico e fisioterápico. E criaram o NDPA.
O grupo reúne pessoas portadoras de deficiências para ousar materializar o sonho de dançar. E faz isso muito bem. Mas, com o passar do tempo, viu que poderia fazer mais. Além de “atuar no processo de dignificação das pessoas portadoras de deficiência no respeito ao direito inalienável de ser diferente”, passou a agir na capacitação de profissionais e divulgar seus trabalhos. Enfim: incluir na sociedade a pessoa portadora de deficiência, garantindo seu direito à cidadania. Hoje, além da dança moderna e contemporânea, expressão corporal e interpretação, o NDPA oferece aulas de capoeira, Tae-Kwon-Do, artesanato e iniciação musical para pessoas portadoras de deficiência. Todas gratuitas.
E o que tem a ver tudo isso com a informática? Bem, os que acompanham essa coluna sabem que eu considero o computador a ferramenta mais eficaz para integrar a pessoa portadora de deficiência à sociedade. Ele pode fazer isso de mil meios e modos. Inclusive divulgando iniciativas como a de Vania - como demonstra muito bem meu amigo Jorge Márcio através de seu DefNet (<www.defnet.org.br>). Pois bem: por incrível que pareça, embora Vania tenha um endereço de correio eletrônico (<[email protected]>), o NDPA não tem um sítio na Internet para divulgar seu trabalho.
A empresa que se oferecer para desenvolver e manter e o provedor que se dispuser a hospedar o sítio dos Portadores de Alegria, não estará apenas colaborando com o magnífico trabalho de Vania. Estará compartilhando com ela da dignidade conquistada com a beleza de seus espetáculos. Seu endereço está aí em cima. É só entrar em contato.
Alguém se candidata?
Em tempo: o resto da solenidade se resumiu a um discurso rápido do Prefeito Sílvio Lopes, de Macaé, que se limitou a lembrar aos administradores presentes, com muita propriedade, que o espetáculo que haviam acabado de assistir provava que, com empenho e garra, não há dificuldade que não se possa transpor. Depois, só o coquetel. E não é que foi agradável?

B. Piropo