Escritos
B. Piropo
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18/03/1991

< Onde moram os Programas Residentes >


Os programas que carregamos na memória do micro e executamos são chamados programas executáveis, por acacianas razões. Os nomes de seus arquivos em disco sempre terminam com as extensões .Com ou .Exe. Se do prompt do sistema operacional você digitar o nome de um desses programas (sem a extensão), e se ele estiver no disco do seu drive ativo, o sistema lê o programa do disco, carrega-o na memória e começa a executá-lo imediatamente. O programa assume então o controle do micro e perfaz tarefas fascinantes como recalcular em segundos um complexo projeto de engenharia ou rodar aquele joguinho esperto enquanto o chefe está longe. Ao terminar, devolve educadamente o controle da máquina ao sistema operacional, que pode então carregar e rodar o próximo freguês. Se o programa é bem comportado, ao sair arruma a casa, varre o chão e apaga a luz, deixando o micro como o encontrou: no mesmo modo de vídeo, com as mesmas cores em uma tela limpa. E libera a memória que ocupava.

Programas, portanto, residem na memória. O que não faz de todos eles programas residentes. Os que vão embora depois do trabalho não são residentes. Estes são apenas os que após carregados permanecem na memória todo o tempo, inclusive e principalmente quando os outros estão rodando.

Como funcionam esses animais exóticos ? Ficam sossegados de tocaia, no seu canto, ocupando um trecho da memória não utilizada pelos demais. Insidiosos, espreitam os acontecimentos e aguardam que alguma coisa especial aconteça. Alguns, tímidos e recatados, jamais aparecem em público: um deles espera que você acione a tecla F12 do seu AT. Quando isso ocorre, ele fortuitamente a substitui por um C cedilha e se recolhe novamente a sua insignificância. O programa que estava rodando nem toma conhecimento de sua subreptícia ação.

Outros, performáticos, são dados a desempenhos mais espetaculosos. Quando você aciona uma certa combinação de teclas, explodem feéricamente em sua tela uma profusão de calculadoras, calendários, agendas, uma enorme parafernália de ferramentas à sua disposição. Mais uma tecla e presto! Lá se vão eles de volta às entranhas da máquina, de onde continuam sorrateiramente a espreitar por suas teclas mágicas...

Esses programas são também carregados a partir do disco. São compostos de duas partes, uma que permanece na memória e outra que serve apenas para carregar a primeira. Ao serem executados, carregam a parte residente, "avisam" a máquina quais são as teclas que vão aciona-los e geralmente exibem uma mensagem na tela antes de ir embora. Mas a parte residente fica lá, aguardando ser despertada de sua dormência até você desligar a máquina. E consumindo permanentemente um precioso pedaço de sua escassa memória.

Por isso, antes de carregar um desses exemplares, pese bem os prós e contras. A favor, o tipo de serviço que ele vai lhe prestar. Para um programador, ter uma tabela de códigos ASCII ao alcance dos dedos é uma dádiva. Uma agendinha esperta que encontra o telefone daquele cara de quem você só lembra o apelido, e ainda faz seu modem discar é uma grande ajuda. Mas se para isso você precisa imobilizar algumas centenas de Kbytes de memória, logo vai descobrir que uma consulta eventual à velha agenda não é, afinal, assim tão desesperadora...

Juntamente com os arquivos do sistema operacional o DOS traz alguns programas, que chama de "comandos externos". Entre eles há residentes, muitos de utilidade duvidosa - ou pelo menos pouco freqüente.

A partir da versão 4.0, o procedimento padrão de instalação do DOS permite - na verdade eu diria que induz - o desavisado micreiro iniciante a carregar alguns desses residentes. Quem está começando tende a crer que tudo que é proposto pela excelsa sabedoria dos mentores do sistema operacional é desejável. E vai enchendo sua escassa memória com fastopens, appends, graphics e afins.

Um de meus colegas de profissão - que também me honra com sua amizade - é um exemplar de uma espécie em extinção: é o último dos gentlemen. Moço educado, não cospe no chão, não pede fiado nem diz palavrão. Ao ver alguém teimosamente insistir em algo de mau resultado evidente a pesar das advertências, nunca diz aquele nome feio que os mortais comuns usam nessas ocasiões e que significa algo como "dane-se". Diz sempre, circunspecto: "Não quer ? Paciência...". E "paciência" substitui literalmente o termo chulo, sem perda de substância.

Micreiro recente, instalou o DOS 4 em sua máquina. Sendo um gentil-homem, é um cumpridor de leis, regras, regulamentos e formalidades. Seguiu religiosamente todo o procedimento padrão, e cada vez que sua pobre máquina é ligada, passa a acumular na memória um monte de residentes que, para quem mal domina os mistérios da PATH, fazem tanto sentido quanto um discurso de economista vertido para o sânscrito.

Fiz o mapeamento da memória de sua máquina e mostrei-lhe que eles estão ocupando quase 60 Kbytes de memória. Que se retirasse aquelas infamantes linhas de seu Autoexec.Bat e Config.Sys, apenas perderia alguns poucos recursos que nem ao menos usa e recuperaria toda aquela memória.

Mas ele confia mais no DOS que nesse pobre amigo. Se foi o sacrossanto DOS que pôs aquela parafernália toda na memória, boas razões havia para que elas lá permanecessem. E minha parca sapiência não foi capaz de convencê-lo do contrário.

Manteve tudo lá mesmo. Eu avisei. Não tirou ? Paciência...

B. Piropo