Escritos
B. Piropo
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01/04/1991

< O Sistema Operacional, esse Desconhecido >


São demais os mistérios dessa vida. Principalmente a do micreiro principiante. Parece que ele acabou de se filiar a uma confraria mística, cujas senhas são dominadas apenas pelos sábios iniciados. Geralmente ele aprende a usar o micro para executar um ou dois programas. Para carregá-los, segue um procedimento padrão extraído do manual de operação ou ensinado por um confrade mais antigo que já passou pelos rituais de iniciação. E anotado passo a passo, para poder ser repetido adiante. Na medida em que aumenta sua intimidade com a máquina, cresce a confiança e ele começa a se aventurar nos desconhecidos e escorregadios caminhos do aprendizado via ensaio e erro. E, nesse trajeto, inexoravelmente esbarra no sistema operacional. Essas duas palavras mágicas surgem a todo momento, ligadas a todas as operações do micro, e muitos não conseguem desvendar seu significado ou serventia. Pois vamos tentar esclarecer parte desse mistério.

Na verdade o DOS, Disk Operating System ou, para os íntimos, sistema operacional, é um grande programa residente, que gerencia todas as atividades da máquina. Enquanto o micro está ligado o DOS permanece nas sombras, silencioso e branco como a bruma, prestando seus serviços ao programa que está rodando naquele momento. Surpreso? Você pensou que o DOS só existia enquanto você encarava seu prompt? Ledo engano. Ele fica lá todo o tempo e sem ele a maioria dos programas comerciais nem ao menos poderia dar a partida.

Você não sabia ? Bem, não é indispensável saber. Você pode passar décadas pilotando seu micro sem jamais tomar conhecimento da existência do DOS - exceto ao receber aquelas mensagens terríveis como "Falha na carga do sistema", usual prenúncio de formidáveis estragos no seu disco rígido e no seu bolso. Tudo depende de como você usa o micro.

Se você é do tipo que roda um único programa que é carregado automaticamente quando o micro é ligado, jamais precisará tomar conhecimento do DOS. Tudo o que você vê é seu programa, e todo seu contato com a máquina se dá através dele. Porem se você usa sua máquina de forma mais eclética, como convém a um micreiro esperto, rodando mil programas, copiando, renomeando e movendo arquivos, formatando discos e quem sabe até desvendando os mistérios de coisas como "assign" e "join", sua interação com a máquina já se dá em outro nível. Você usa o sistema operacional diretamente. Ou pelo menos a parte mais visível dele, o Command.Com.

Como a "parte mais visível"? O Command.Com não é o próprio DOS? Não mesmo. Ele é apenas o processador de comandos, um programa auxiliar que se interpõe entre você e as funções internas do sistema operacional. Por isso o Command.Com é chamado de "shell", ou concha. Ele envolve a máquina, como uma concha, isolando-a do usuário, cujo contato com o micro passa a ser feito através dele. E é também por isso que certos utilitários como Norton Commander e XTreePro também são chamados de "shell". O DOS, a partir da versão 4.0, vem com um desses programas. Isso sem falar das famosas interfaces gráficas como Windows, ainda mais amigáveis, que simplificam as tarefas que você normalmente executaria com o Command.Com. O processador de comandos é apenas a interface padrão do DOS com o usuário. Um tanto inamistosa, é bem verdade, com alguns comandos crípticos e perigosos - se algum dia você se aventurar a usar o comando "recover", tenha absoluta certeza do que está fazendo, ou horrendas decepções lhe espreitam - mas extremamente poderoso: as coisas que podem ser feitas com um "xcopy" são incríveis. Mas o DOS é muito mais que o Command.Com.

Ele é um conjunto composto por três partes sobrepostas, das quais o Command.Com é apenas a mais externa, a única que o usuário comum toma conhecimento. Abaixo dele existem ainda dois programas residentes. O primeiro se dedica a executar os serviços de nível de complexidade mais alto, como gravar e ler arquivos do disco, carregar programas na memória e manejar o uso da memória pelos outros programas. É o DOS propriamente dito, ou sistema operacional de disco. O segundo, mais interno, cuida das tarefas diretamente ligadas à máquina, gerenciando entradas e saídas de informações como ler o teclado, escrever caracteres na tela e ajustar o relógio interno. É o sistema básico de entrada e saída, ou BIOS. Eles são armazenados em disco como três arquivos, dois deles "ocultos", ou seja, não são exibidos em diretórios.

Se você quiser testar a existência dessas três partes isoladas, crie um disquete de sistema, um daqueles que se você ligar a máquina com ele no drive A: o sistema operacional será carregado do disquete. Para isso, coloque o disquete no drive A: e use o comando

format a: /s

(pelo amor à sanidade de seu disco rígido e a minha paz de espírito, não se esqueça do A:). Depois, verifique o conteúdo do disquete usando um utilitário capaz de exibir arquivos ocultos. Lá estarão somente três arquivos: o nosso conhecido Command.Com e seus fieis escudeiros ocultos. Se seu sistema operacional é o IBM-DOS, eles se chamarão Ibmbio.Com e Ibmdos.Com. Se for o MS-DOS, serão Io.Sys e Msdos.Sys. BIOS e DOS! Voilá !

Se isso está parecendo um pouco complicado, tudo ficará mais claro quando examinarmos individualmente cada parte, o que faremos logo. E vamos examina-las apenas para saciar nossa curiosidade. Dificilmente o usuário comum toma contato com elas - para isso existe o processador de comandos, nosso conhecido Command.Com, que em geral é o nível mais profundo a que a maioria de nós precisa descer. Quanto ao BIOS e DOS, você somente necessitará desvenda-los caso se aventure nos tortuosos caminhos da programação em linguagens de baixo nível - que se chamam de baixo nível justamente por estarem mais próximas da máquina propriamente dita, e não pelos impropérios que seus programadores costumam proferir quando aquele algoritmo que parecia genial pendurou todo o sistema...

B. Piropo