Escritos
B. Piropo
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03/02/1992

< XT OU AT? >


Se você é um daqueles que pretendem transformar seu XT em AT, precisa saber que em sua máquina atual há coisas que:

- são totalmente aproveitáveis, isto é: podem permanecer lá e não prejudicarão de modo algum o desempenho futuro da máquina;

- são absolutamente inaproveitáveis, ou seja, precisam inapelavelmente ser substituidas;

- são aproveitáveis, mas por uma razão ou por outra prejudicam ou retardam o desempenho do sistema e deverão, mais cedo ou mais tarde, ser substituidas.

Vamos procurar identificar cada uma delas. E, em relação às últimas, tentar esclarecer os motivos que provavelmente o levarão um dia a substituí-las. Mas antes disto, deveremos esclarecer aqui o que entendemos por AT: meramente no que toca à transformação, não faz grande diferença se sua nova máquina terá uma CPU 286, 386 ou 486. O desempenho de cada uma, assim como a capacidade de manejar memória e executar multitarefas, evidentemente é bastante diferente. Mas, apenas no que diz respeito à expansão de um XT, as necessidades serão basicamente as mesmas, respeitadas algumas condicionantes. Portanto, naquilo que hoje nos interessa, um XT é um XT e um AT, seja qual for a CPU, é um AT. E temos conversado.

O que se pode garantir que será integralmente aproveitado e jamais substituído? Em princípio, nada. Mas calma: eu disse "em princípio". Pois muito provavelmente três elementos, pelo menos, poderão permanecer de forma absolutamente indolor. Vejamos quais:

O gabinete, uma simples caixa metálica, é quase certo que permaneça. Desde que sua nova placa mãe caiba dentro dele. A maioria delas cabe: a miniaturização e integração de componentes tem feito milagres. A placa mãe de meu 486 é menor que a do meu primeiro XT. Mas sempre é bom verificar antes de comprar: meça a nova placa, abra seu gabinete e veja se há espaço suficiente para que ela se ajeite lá no fundo, entre a fonte e a parede oposta. Se houver, e se você conseguir sobreviver sem as luzes coloridas e números brilhantes dos novos gabinetes torre, siga em frente.

O teclado também poderá ser aproveitado, desde que seja "conversível". A maioria dos novos é. Para ter certeza, não basta verificar se ele tem 101 teclas: é preciso também que haja, em geral na parte de trás (por vezes escondido sob os pés retráteis) um interruptor de duas posições, AT e XT. Se tiver, basta trocar a posição de XT para AT, ligá-lo à nova placa mãe e mandar ver.

Finalmente, a fonte. Que poderá permanecer desde que tenha potência para alimentar seu novo sistema. Mesmo sabendo que as novas placas mãe têm um consumo cada vez menor devido ao elevado grau de integração, as fontes de 150W são sérias candidatas a uma substituição. Se a CPU é 386 ou 486, sugiro pelo menos 200W.

Agora vamos ao que pode permanecer, mas apenas por uns tempos, até seu bolso convalescer do choque e ficar mais gordinho: começando pelos drives e disco rígido. Seus drives de disquetes provavelmente são de 360K. Um AT os aceita, mas cedo ou tarde você precisará de pelo menos um de alta densidade. O recomendável é que ambos o sejam: um de 5"1/4 e 1,2Mb e outro de 3"1/2 e 1,44Mb. Mas até lá, o AT pode funcionar com o drive (ou os drives) de 360K. Já no que toca a discos rígidos, os de XT em geral são lentos. Talvez você não ache, mas apenas por enquanto: quando estiver pilotando uma máquina de 16MHz para cima você vai entender o que eu digo. No entanto, se você tiver um disco rígido rápido em seu XT (com tempos de acesso de 20ms ou menores), ele poderá funcionar perfeitamente no novo AT.

Agora, as placas controladoras. Se você mantiver seu disco rígido, a dele poderá permanecer - desde que, durante o setup do novo AT você o "engane" e declare que não tem nenhum disco rígido instalado. Não se preocupe nem fique com dor na consciência de mentir para sua máquina nova: é só para que o BIOS da placa mãe deixe seu winchester em paz e permita que a ROM da controladora tome conta dele. Se não, o novo disco rígido deverá ser adquirido com a respectiva controladora. E nesse caso, ela controlará também os dois drives de disquetes, sejam eles quais forem.

Agora chegamos ao monitor e placa controladora de vídeo. Se você já desfruta do deleite de usufruir as esfuziantes cores do padrão VGA, excelente: tão cedo não precisará trocá-lo, seja qual for sua máquina. Mas, se como a maioria dos XTs, o seu está embaixo de um triste monitor CGA fósforo verde, mais cedo ou mais tarde você vai querer trocá-lo. E terá que trocar também a placa controladora de vídeo. Porém a troca pode esperar tanto quanto você queira: não vai afetar o desempenho nem a velocidade do sistema. O problema é que um CGA simplesmente não combina com um 386, por exemplo. Assim como andar de terno e tamanco, se me entendem...

Restou apenas a placa de entrada/saída, ou multi I/O. Com alguma sorte, engenho e arte você pode mantê-la, mas é altamente desaconselhável. Sorte, porquê se você instalou a controladora de discos do AT, é preciso que uma das duas permita desabilitar os circuitos que controlam os drives de disquetes, senão os conflitos com a outra serão inevitáveis (o relógio também deverá ser desabilitado, mas para isto basta remover a bateria). E pouco recomendável porquê em geral a placa multi I/O de AT é barata o suficiente para que você a instale logo e evite problemas, particularmente com as portas seriais. Na verdade o ideal é comprar uma destas novas placas multi I/O de dezesseis bits que controlam drives, disco rígido e portas paralela e serial em ATs. Mas uma advertência: antes disto, leia atentamente o manual de sua nova placa mãe: talvez você tenha uma grata surpresa. Muitas delas, de fabricação recente, têm quase tudo isto integrado na própria placa mãe: controladora de disco rígido, disquetes, portas paralela e serial - além de uma porta especial para mouse. Neste caso, se seu disco rígido for compatível com a controladora "embutida" na placa (geralmente IDE), basta espetar nela a placa de vídeo e o teclado.

E acabou-se. Surpreso? Mas é só isto mesmo. Se você tiver sorte, bastará trocar a placa mãe e pode aproveitar quase tudo. É verdade que é uma espécie de sopa de pedra: quando você pouco a pouco for trocando o lento winchester por um IDE, os exíguos discos de 360K pelos de alta densidade, as placas controladoras para 16bits, o vídeo para VGA e, finalmente, decidir enfiar tudo isto em um reluzente gabinete torre com uma fonte de 250Watts, guarde as partes junto à velha mãe (me refiro à placa, naturalmente). Ao final, se seu velho teclado ainda aguentar a luta, basta comprar um novo para recuperar um XT em bom estado. O que você vai fazer com ele? Bem, aí já é outra história...

B. Piropo