Escritos
B. Piropo
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31/08/1992

< Escolhendo um HD >


Já vimos dois tipos de interfaces: a ST-506/412, que suporta os esquemas de codificação MFM e RLL, e a IDE, que usa seu próprio esquema de codificação. E, para a maior parte dos efeitos práticos, seria suficiente. Mas ainda faltam as interfaces ESDI e SCSI. Então, vamos a elas.

ESDI (Enhanced Small Device Interface) é um aperfeiçoamento da ST-506/412 e seria hoje o padrão mais popular se o IDE não existisse. Incorpora algumas vantagens do IDE (o endec fica junto ao drive e não na placa controladora, dispensa a formatação em baixo nível e alcança taxas de transferência da ordem de 2Mb/s), mas ainda usa os mesmos esquemas de codificação da ST-506/412 (que podem ser MFM ou RLL). É muito mais rápida e confiável que a velha ST-506/412, mas muito mais cara. Apesar do preço, chegou a se tornar quase popular há cerca de dois anos, quando apareceram os drives IDE, com vantagens semelhantes e muito mais baratos. E, evidentemente, dominaram o mercado. Se você já tem um ESDI, ótimo: fique com ele, que é bom. Mas se pretende comprar um novo HD, esqueça-se do ESDI: há opções melhores e mais baratas.

Já o SCSI é outro papo. Pronuncia-se "scazy", com "a" grave, e vem de "Small Computer Systems Interface". Ao contrário das demais, não é uma interface de disco, mas uma interface de uso geral a nível de sistema, ou seja, suporta diversos tipos de periféricos. O padrão SCSI é um pouco mais que uma interface: trata-se, de fato, de um padrão de barramento, ou interligação entre os periféricos e o sistema, capaz de altíssimas taxas de transferência (no caso dos HD, pode chegar até 5Mb/s). Em uma interface SCSI pode-se encadear até um total de sete outros periféricos. Você poderia, por exemplo, ligar a ela dois HD, duas interfaces seriais, uma impressora, um scanner e uma interface ESDI com mais dois HD. Por isso foi o padrão adotado pelo Mac, que não tinha slots para periféricos, tão logo a Apple percebeu que era necessário dotar o sistema de alguma flexibilidade para expansão.

Parece uma maravilha, pois não? Mas tem dois inconvenientes: o primeiro é o preço. Na faixa de até 300Mb, prepare-se para pagar quase duzentos dólares a mais por um drive SCSI que por um IDE de mesma capacidade. O segundo é a padronização. Ou melhor: a falta dela. Na verdade existe um padrão, mas é tão flexível que cada fabricante pode implementar seu SCSI de acordo com sua conveniência. E, infelizmente, este "sua" se refere à dele, não à vossa. E, como parte da implementação do padrão está na interface, parte no dispositivo, acaba-se perdendo a grande vantagem da coisa: se você pretende usar um HD SCSI, compre o drive e a interface juntos e assegure-se que "combinam", ou poderá ter problemas. E não tenha grandes esperanças de pendurar muitos outros periféricos na interface. Ao menos enquanto o padrão não se tenha consolidado.

É isso aí. Pronto para escolher um HD? Então vamos lá. Mas antes, um esclarecimento: se este é o segundo HD, ou será do mesmo tipo que o existente, ou você terá que dispensar o primeiro e trocar a placa controladora. Pois com exceção da SCSI, cada placa controladora suporta um máximo de dois HD e você não pode ter mais de uma controladora nos slots da máquina. As capacidades podem ser diferentes, mas o tipo não: se você já tem um MFM, o segundo será também MFM. Se o primeiro é IDE, o outro também será. E assim por diante. Mas se você pretende trocar de HD, ou instalar o primeiro, está livre para escolher qualquer tipo. Agora, aos critérios.

O primeiro e mais importante é, evidentemente, a capacidade. Em princípio, use uma regra básica: compre o maior que couber no seu bolso. Capacidade de HD nunca é demais. Lembra-se do bom e velho ST-238R, o fusca dos HD, presente em quase todos os micros há cerca de dois ou três anos? Experimente instalar o DOS 5.0 e Windows 3.1 nele e veja quanto sobra para os aplicativos de seus outrora amplos 32Mb. Mas se quiser critérios mais específicos, vamos lá: se tudo o que você pretende é usar um processador de textos, uma planilha e um banco de dados sob DOS, pense no mínimo em 40Mb. Se espera rodar Windows e seus vorazes programas, algo em torno de 100Mb deve dar para começar (meus diretórios Windows e System ocupam juntos 15Mb, e uma instalação completa do Corel Draw 3.0 devora só para ele cerca de 30Mb). Se tem máquina suficiente para o OS/2 e pretende migrar para ele, que sozinho come 30Mb, vá para a casa dos 125Mb. E se quer usar tudo isso junto, o céu é o limite. É claro que os manuais desses devoradores de disco recomendam capacidades menores que essas. Mas não acredite. Estas são o que a dura experiência me mostrou necessário. Garanto que, se você se guiar por elas, jamais reclamará da sobra de espaço em disco. Ao contrário: provavelmente se queixará, dentro de um ou dois anos, que são demasiadamente exíguas. Acha que estou brincando? Precisava de me ver, há dois dias, quebrando a cabeça para escolher que diretórios remover dos meus dois IDE de 125Mb para instalar um programa que preciso testar.

O segundo critério é a velocidade de acesso. Que, quanto menor, mais cara. Portanto, não vá partir direto para o disco mais rápido. Instalar um HD de 1,5Mb/s em um lerdo XT é jogar dinheiro fora: a máquina não vai conseguir receber os dados na velocidade com que são entregues pelo disco. Por outro lado, espetar um velho MFM de 65ms em um 486 de 33MHz é um exercício de paciência: mande carregar Windows, vá tomar um café e volte com calma que dá tempo. Se você usa programas que acessam disco freqüentemente, vai ter a impressão que sua máquina é uma carroça. É como pilotar uma Ferrari com motor de fusca. Regra básica: se você tem um 386 20MHz ou superior, procure instalar um IDE de pelo menos 17ms. Se ainda pilota um XT ou 286, um RLL de cerca de 30ms é suficiente.

E os SCSI? Bem, eu mesmo não sou muito chegado a eles. Pelo menos enquanto o padrão não estiver melhor definido (o que deverá ocorrer breve devido à disseminação dos CD-ROM, cuja maioria usa interfaces SCSI). Eles têm certas idiossincrasias, umas incompatibilidades que, aparentemente, nada têm a ver com o HD e, por isso mesmo, são difíceis de identificar (já vi um micro "pendurar" toda a vez que um determinado programa imprimia um gráfico - e isso só acontecia com um HD SCSI). Mas têm suas indicações: se sua máquina é rápida, precisa de grande capacidade de armazenamento e altas taxas de transferência, então talvez um SCSI seja o melhor. Na verdade, acima de 300Mb, seus preços começam a ficar competitivos com os dos IDE. Na faixa dos 600Mb, já são francamente favoráveis. Mas será que mais de 300Mb são de fato necessários?

Quem sabe eu possa pensar no assunto depois que conseguir abrir algum espaço nos meus 250Mb...

B. Piropo