Escritos
B. Piropo
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16/11/1992


< No Disco de Boot >


Todos nós temos coisas que compramos, cuidamos de sua conservação e, apesar disto, cultivamos com fervor a esperança de jamais usá-las. E, se não temos, deveríamos tê-las. O exemplo clássico é o extintor de incêndio. Outro, menos clássico mas igualmente típico, é o disco de boot: se você nunca precisou usar o seu, é uma pessoa de sorte. E se nem ao menos tem um, sua fé na tecnologia só é suplantada por, digamos, sua insensatez. Eu tenho quatro: um para dar o boot com OS/2 e três com DOS: um de 1,44Mb, outro de 1,2Mb e mais um de 360K. Exagero? Talvez. Mas garanto que jamais incomodarei um amigo num fim de semana ou no meio da noite porque pifou meu HD e um drive de disquete. Seja qual for o drive.

Para que serve o disco de boot? Ora, meu amigo, para dar o boot, ou seja, carregar o sistema operacional ao ligar a máquina. Besteira? Sua máquina dá o boot direitinho sem precisar de nenhum disco de boot? Verdade. E continuará dando. A menos que a bruxa dos discos rígidos corrompa um de seus arquivos de sistema. Ou o Command.Com. Ou um dos circuitos integrados que controlam o HD apresente problema. Ou um mau contato no cabo. Ou que o Command.Com seja apagado acidentalmente. Ou que não esteja no diretório raiz e o Config.Sys, com o comando "comspec", se corrompeu ou foi apagado. Ou que um virus tenha se alojado no seu setor de boot. Ou na FAT. Ou que... bem eu poderia encher toda esta página só com a lista das razões pelas quais um dia, ao ligar a máquina, ao invés do familiar prompt do sistema, pode aparecer uma mensagem de erro tipo "Hard disk boot failure" ou algo semelhante.

E aí, como dar o boot? Fácil: ponha o disco de boot no drive A e reinicialize o micro (se é um 286 ou superior, tem um BIOS que permite desabilitar o boot de disquete e você sensatamente o desabilitou para proteger-se contra virus, não esqueça de, antes do boot, habilitá-lo novamente). Mas para isto é preciso um disco de boot. E nosso assunto de hoje é o conteúdo de um bom disco de boot. Além do sistema operacional, evidentemente. Pois de pouco adianta dar o boot do drive A sem as ferramentas elementares para localizar o problema e tentar resolvê-lo.

Primeiro, para os que não sabem, vamos ver como se "faz" um disco de boot. Ponha no drive A um disquete da maior capacidade que o drive suporta e comande:

"format /s /u"

e ENTER. O parâmetro "/u" obriga a formatação incondicional, sem salvar informações sobre o conteúdo anterior do disquete. E o parâmetro "/s" transfere os arquivos de sistema e Command.Com. Depois, para testar, reinicialize a máquina com o disquete no drive A e veja se após o boot aparece o prompt deste drive. Pronto: você já tem um disco de boot.

Agora vamos adiante. Mas por partes, pois o boot só pode ser dado do drive A e há drives de diversas capacidades. Vamos começar pelo menor, o de 360K. Onde cabe apenas uma caixa de primeiros socorros das mais elementares, pois só os arquivos de sistema e o Command.Com do MS-DOS 5.0 consomem 118.669 bytes. Vamos espremer no resto aquilo que talvez possa salvar nossa sanidade.

Começando pelo essencial: Unformat.Com e Undelete.Exe. O primeiro para o caso de que se tenha formatado acidentalmente o disco C (não ria: é muito mais comum do que parece, e pode acontecer com qualquer um). O segundo para o caso de se ter apagado acidentalmente um arquivo essencial. Estes dois comem mais 32.500 bytes.

Depois, um editor para refazer ou recuperar o Config.Sys ou Autoexec.Bat (por vezes a máquina "pendura" ao carregar um driver ou um programa do Autoexec, e é preciso dar o boot do disquete para eliminar a linha). Não caia na tentação de copiar o Edit.Com: ele só funciona com o Qbasic e seus quase 250K no mesmo disco. Se você tiver um editor ASCII puro que não seja muito grande, copie-o para o disco de boot. Senão, vai ter que se contentar mesmo com o patético Edlin.Com. Que só usa 12.642 bytes, mas é uma desgraça.

Depois, algumas ferramentas que poderão ajudar a localizar o problema: Tree.Com, para ver se o disco rígido ainda está "vivo", Mem.Exe, para tirar uma "radiografia" da memória e Chkdsk.Exe para examinar a saúde do HD. Estes três usam mais 62.919 bytes.

Se neste ponto você ainda não conseguiu resolver o problema, está na hora de apelar para os programas de diagnóstico e recuperação de HD. Começando com um antivirus: pode ser que esta seja a causa do problema (aliás, é a mais comum). Depois, há alguns programas excelentes. Recomendo particularmente o Norton Disk Doctor, que vem com as Norton Utilities, ou o DiskFix, do PCTools. Mas há que saber usá-los, senão a emenda sai pior que o soneto. Eles não cabem no disco de boot, de modo que é altamente aconselhável ter cópias em disquetes. Protegidos contra gravação, evidentemente.

Se nada disto resultou, não há remédio: vai ter que refazer todo o disco rígido. Depois de chorar um pouquinho, naturalmente. E vai precisar de ferramentas: Debug.Com, para a formatação física (é sempre bom começar por aí, se o disco não for IDE), Fdisk.Exe para refazer as partições e tornar ativa a primária e Format.Com para formatá-las. Estes três comem mais 110.767 bytes.

Sobra muito pouco. No meu disco de boot de 360K eu acrescentei ainda o Newdosed (uma espécie de Doskey, porém menor), o Label.Exe e um Config.Sys e Autoexec.Bat elementares. E tenho dito.

Isto é o essencial. Mas se o drive A aceitar discos de 1,2Mb ou 1,44Mb, você pode se dar a certos luxos. O primeiro é incluir o Edit.Com e seus adereços (Edit.Hlp, Qbasic.Exe e Qbasic.Hlp), que se espalham por 403.920 bytes mas fornecem um editor decente para os arquivos de configuração. Depois, alguns comandos externos e drivers para facilitar a vida e permitir configurar a máquina para testes, copiar e comparar disquetes e arquivos e coisas que tais. No meu disco de 1,2Mb incluí, em ordem alfabética: Ansi.Sys, Attrib.Exe, Country.Sys, Diskcomp.Com, Diskcopy.Com, Display.Sys, Doshelp.Hlp, Doskey.Com, Driver.Sys, Emm386.Exe, Fc.Exe, Find.Exe, Help.Exe, Mode.Com, More.Com, Nlsfunc.Exe, Setver.Exe, Sort.Exe, Sys.Com e Xcopy.Exe. E ainda sobrou espaço. Onde você pode incluir mais o que suas conveniências mandarem.

Pronto. Isto é tudo que você precisa para ser feliz (ou, talvez, menos infeliz) caso precise, um dia, dar um boot de disquete. E só mais uma recomendação: tão logo acabe de copiar o que achar conveniente para seu disco de boot, proteja-o contra gravação e verifique-o imediatamente com um antivirus. Porque se o disco de boot não for protegido e o problema tiver sido causado por um virus, prepare-se para enfrentar grandes dissabores...

B. Piropo