Escritos
B. Piropo
Anteriores:
< Trilha Zero >
Volte de onde veio
05/04/1993

< SUPERSTORE TUPINIQUIM >


Lançamento do Pentium, Exponet. Essas coisas só acontecem em Sampa. Então, já que lá estávamos, porque não dar um pulo em uma das novas lojas de informática com jeito de superstore que inauguraram por lá recentemente? Informações de coleguinhas paulistas davam conta de duas cuja visita valeria a pena. Uma, justamente a maior, fica lá pras bandas da Radial Oeste. Chama-se RPS e pelo que me foi dito tem mesmo jeito de supermercado, com carrinho e gôndolas. Meio fora de mão, porém, pra quem tinha que cobrir uma feira no Centro e voltar no mesmo dia. Ficou pra outra vez. Sobrou a outra, que se chama Computer Place, fica na Clodomiro Amazonas 556, pertinho da esquina com a JK, no Itaim Bibi. Simpática. Mas pra superstore ainda falta muito.

Não é pequena, mas não dá pra se perder dentro dela. É, digamos, um pouco menor que uma quadra de vôlei. Na vitrina, algumas ofertas interessantes, daquelas que no tempo da reserva de mercado dava cana na certa: impressora Star, importada, de 24 pinos e multifontes por US$ 659, monitor Acer SVGA a cores de onze polegadas por US$ 498 e outros brinquedos até recentemente proibidos. Quem diria.

Entrei, com cara de quem não quer nada e espiei. Preços em dólar - inclusive os do material nacional. Pelo câmbio comercial, segundo me informou um atencioso vendedor. Aliás, Consultor de Vendas, como consta no cartão de visitas. O que me atendeu chama-se Renato Martins e merece o título: extremamente atencioso e prestativo, com extrema boa vontade até mesmo quando desconfiou que eu não iria mesmo comprar coisa alguma. Ponto para o atendimento.

E o estoque? Bem havia de tudo. Ou quase tudo: desde software e suprimento - se bem que o sortimento não era lá essas coisas - até, principalmente, hardware. Que me pareceu o forte da loja. Com ofertas interessantes: uma impressora laser, Epson 8000, de dez páginas por minuto, por US$ 2.979. Ao lado de uma HP IIIP por US$ 2.388. Pra não dizer que não havia nada nacional, uma impressora RIMA ML390 de 24 pinos era oferecida por US$ 684. E, no campo das impressoras, a imbatível campeã de vendas: a HP DeskJet 500, uma importada a jato de tinta, pela bagatela de US$ 670, rivalizando em preço com os melhores executivos de fronteira perto de você.

Micros, diversos e de todos os tipos. Incluindo um PS/1 com 2Mb de RAM, HD de 80Mb, drives de disquete de 3" 1/2 e 5" 1/4 (ambos de alta densidade) e monitor VGA por US$ 2.553. Mesmo levando em conta que traz o DOS 5.0, Windows e a versão 2.0 do Works em português, não é nenhuma pechincha: afinal, trata-se de um modesto 386SX. Mas estampa o logo da IBM e, talvez por isto, venda mais que bolinho quente. Ao contrário do kit da Tropcon: aquele mesmo que você viu nas Últimas da semana passada, com tudo para montar um micro menos gabinete, fonte e monitor. Basicamente igual ao PS/1 (386SX com 2Mb de RAM, HD de 80Mb, dois drives, teclado e placas controladoras), mas custando apenas US$ 950. Junte a isso o preço de um gabinete com fonte e um monitor VGA a cores e veja que a economia é substancial.

Nessa altura eu parei de perturbar o Renato, que me atendia com admirável paciência sem entender porque eu tanto perguntava e nada comprava, e me identifiquei como modesto colaborador deste caderno. O que bastou para que ele me levasse ao Paulo Sérgio Tavares e Luiz Antonio Rielli, a simpática dupla de gerente e sub-gerente. Que matou o resto da minha curiosidade.

A loja existe há cerca de dois meses. Neste período eles conseguiram detectar que a clientela típica se subdivide em dois grupos mais ou menos equivalentes em número: o cara que sabe exatamente o que quer, discute detalhes técnicos e exige uma configuração adequada às suas necessidades, e aqueles que "querem comprar um micro" mas não fazem a menor idéia de coisa nenhuma. Segundo Paulo e Luiz, eles se esforçam para atender às especificações do primeiro grupo e suprir o segundo com as informações e orientação necessárias para estabelecer a configuração mais conveniente de acordo com o uso previsto para a máquina.

De software, o que mais vende são jogos. De hardware, o PS/1 e a DeskJet. Para surpresa deles (mas não minha), esgotou-se em menos de uma semana o estoque de monitores SVGA de vinte polegadas. A surpresa deles se justifica pelo preço: nos tempos bicudos de hoje, achavam improvável vender rapidamente um item que custa quase dois mil dólares. A minha naturalidade também deve-se ao preço. Um bicho daqueles pesa mais de vinte quilos, o que encarece um bocado os custos dos executivos de fronteira. Nesse item, a loja leva vantagem por vender mais barato.

No fim, a curiosa sensação de ter visitado pela primeira vez em solo pátrio uma loja de informática que merece o nome. Onde produtos nacionais disputam espaço com importados a preços semelhantes. Levando-se em conta que a reserva de mercado acabou, mas as alíquotas de importação praticamente dobram os preços do material estrangeiro, fica uma clara conclusão: a concorrência, agora, é pra valer. E se as alíquotas baixarem, a indústria nacional terá que melhorar a qualidade e baixar os preços a níveis mais realistas. Acabou a sopa dos cartórios.

O que é ótimo para todos. Especialmente para os usuários que podem comprar produtos de qualidade a preços (quase) decentes. Nada como uma saudável concorrência para fazer o freguês feliz...

B. Piropo