Escritos
B. Piropo
Anteriores:
< Trilha Zero >
Volte de onde veio
03/05/1993

< Um pouco de História >


Esta série se propôs a examinar todos os microprocessadores disponíveis para a linha PC. Portanto, nada do que ocorreu antes de 1981, quando a IBM lançou no mercado o computador pessoal que deu origem à linha, deveria nos interessar. Mas seria um pecado não dar dois ou três passos atrás para um breve comentário sobre a história dos microprocessadores.

Do ponto de vista puramente eletrônico, um microprocessador nada mais é que um circuito constituído de um certo número de componentes trabalhando em conjunto para cumprir funções especializadas. Ou seja: um circuito integrado capaz de reconhecer e executar determinadas instruções.

Até 1948, o principal componente dos circuitos eletrônicos era a válvula: um tubo no interior do qual se faz o vácuo, como as lâmpadas incandescentes. Em sua base, um filamento percorrido por uma corrente elétrica aquece um terminal, fazendo-o liberar elétrons que são atraídos por outro terminal localizado na extremidade oposta por força da diferença de potencial elétrico entre eles. Estes terminais chamam-se catodo e anodo. O fluxo de elétrons, ou corrente elétrica, é controlado por uma espécie de grade colocada entre eles: dependendo do potencial aplicado à grade, os elétrons são atraídos ou repelidos por ela e a corrente aumenta ou diminui. Válvulas são trambolhos eletrônicos: os filamentos têm uma vida útil relativamente curta, e os mais velhos ainda se lembram da chateação provocada por válvulas "queimadas". E havia, sim senhor, computadores a válvula. Super trambolhos...

Em 1948 dois engenheiros do Bell Laboratories, Walter Brattain e William Shockley, inventaram um pequeno dispositivo semicondutor capaz de executar as mesmas funções das válvulas, mas com um consumo de energia e dissipação de calor ridiculamente baixos. Batizaram-no de transistor e revolucionaram a história da eletrônica, dando o primeiro passo para viabilizar a informática pessoal. O segundo foi dado onze anos depois, quando uma equipe da Texas Instrument descobriu como integrar mais de um transistor na mesma base física. Como, à exceção das bobinas, os demais componentes básicos dos circuitos eletrônicos (resistores e capacitores) não ofereciam dificuldades para serem igualmente conjugados nessa base, essa descoberta possibilitou a criação de circuitos complexos em um encapsulamento único, sem a necessidade de fios para ligar os componentes individuais. Esta pequena maravilha da tecnologia foi batizada de Circuito Integrado, ou CI. O primeiro CI foi capaz da façanha notável de encapsular seis transistores em um único componente. Será que eles poderiam sonhar que um dia haveria um Pentium com mais de três milhões e cem mil transistores?

Mas nem todo CI é um microprocessador. Para isto ele precisa de mais que um simples conjunto de componentes integrados: é necessário alguma "inteligência". Ou seja: um microprocessador é um CI capaz de executar um certo número de "instruções" (lembram-se do conjunto de instruções, o "instruction set" discutido há algumas semanas?). E até 1969 não havia nenhum. Mas havia CIs capazes de executar tarefas específicas. Cada um a sua, evidentemente. Estes CIs, pelas suas dimensões, foram chamados de chips, um termo que significa "lasca" ou "pedacinho" em inglês coloquial.

Nesse ano foi dado o terceiro grande passo para viabilizar a informática pessoal: uma firma japonesa chamada Busicomp encomendou à Intel um conjunto de doze chips para serem usados em uma calculadora eletrônica. A Intel era uma firma americana que fabricava e desenvolvia CIs e já liderava o mercado com uns incríveis chips de memória que poderiam guardar, imaginem, mil bytes! Chips de 1K, um espanto. O que diriam eles dos SIMM de 4Mb de hoje?

Não demorou até a turma da Intel descobrir que seria mais econômico integrar as funções dos doze CI em um único chip capaz de distinguir as diversas funções que seria solicitado a executar. E isto foi feito incorporando um "microcódigo", ou seja, um conjunto de instruções. Pronto: dois anos depois, em 1971, foi lançado o primeiro CI de uso genérico, capaz de receber, obedecer e executar instruções. O primeiro microprocessador. Chamou-se 4004 e era um chip com registradores de 4bits, o patriarca da família dos microprocessadores da linha PC, já que dele derivaram todos os demais: ele é o tetravô do 386.

A partir daí as coisas começaram a acontecer mais depressa. Do 4004 para seu primeiro descendente, foi um pulo: um ano depois foi lançado o primeiro chip de oito bits da Intel, o 8008. Que ensejou a concepção do primeiro microcomputador, o Altair, cujo projeto foi publicado na edição histórica da Popular Electronics de janeiro de 75. Nada parecido, evidentemente, com este que repousa sobre sua mesa: era um kit montado pelo próprio usuário, com memória RAM de 256 bytes (é isso mesmo: bytes, não Kbytes) que pouco mais fazia além de piscar leds em uma sequência programada. Pouco depois outras empresas lançaram seus próprios microprocessadores de 8bits e em 1976 surgiu afinal o primeiro micro pessoal digno do nome, o Apple I, baseado no chip 6502 da Motorola. Seguido um ano após pelo Apple II, o micro de maior longevidade. E pelo TRS-80, baseado em um outro microprocessador de 8bits, o Z80 da Zilog. Mas estes nada tinham a ver com a linha PC, toda ela baseada nos microprocessadores da Intel.

O microprocessador que, realmente, originou a linha PC foi o 8086 da Intel, o primeiro de dezesseis bits que despontou no mercado. Mas que, por paradoxal que pareça, não integrava a CPU do primeiro PC. Como veremos na semana que vem...

B. Piropo