Escritos
B. Piropo
Anteriores:
< Trilha Zero >
Volte de onde veio
31/05/1993

< A Grande Revolução II >


Em abril de 1989, na mesma versão da COMDEX da semana passada, a Intel anunciava o mais novo membro da família: o chip i486DX. Que enfrentou alguns problemas operacionais bugs internos, cujo expurgo atrasou a efetiva produção do chip: as primeiras máquinas baseadas no 486 somente apareceram no final daquele ano.

Na evolução dos microprocessadores da Intel, esse foi o passo mais discreto. Nenhuma novidade extraordinária, como um novo modo de operação ou gerenciamento de memória. Nenhuma violenta alteração no conjunto de instruções. O chip era mais rápido, é verdade: a versão mais lenta operava a 25MHz contra os 16MHz do primeiro 386 (mais tarde foram liberadas versões de 33MHz e, recentemente, de 50MHz, um verdadeiro foguete). Mas nenhuma mudança dramática. O que não quer dizer que não seja uma excelente CPU. Pois comparado com seu antecessor, o i486DX apresentava duas diferenças básicas: um cache e um coprocessador matemático "embutidos". E foi o primeiro a aparecer com tais novidades.

Parece pouco? Talvez, se você encarar a coisa apenas do ponto de vista da operacionalidade. De fato, um i486DX faz basicamente o mesmo que um 386, só que mais depressa. Nenhuma estupenda diferença, como costumava ocorrer sempre que a Intel lançava uma nova CPU. Mas, raciocinando do ponto de vista da eletrônica, uma façanha digna de registro. Tanto assim que para consegui-la a Intel foi obrigada a espremer a bagatela de um milhão e duzentos mil transistores dentro de um único chip. Um feito realmente notável.

Antes das diferenças, vamos às semelhanças: como o i386DX, o novo i486DX usava registros internos e barramento de dados de 32 bits. Acessava diretamente um campo de memória de 4Gb e os mesmos 64Tb de memória virtual. E também operava nos modos real, protegido e 8086 virtual. O preço de lançamento foi um bocado salgado: US$950. Mas hoje pode ser comprado por pouco mais de US$300 preço que deve cair rapidamente com o lançamento do novo Pentium. A Intel já vendeu mais de cinco milhões de unidades, e ainda deverá vender muitos milhões a mais, já que o microprocessador é realmente excelente. E o que o torna tão bom são justamente as inovações que ele trouxe: coprocessador matemático e cache.

Há algum tempo, um coprocessador matemático era um luxo nem sempre necessário. Pior: muita gente pagava algumas centenas de dólares por ele, instalava-o na máquina e seguia adiante crente que estava abafando, sem se dar conta que o chip nem sequer era utilizado. Pois nem todo programa é capaz de usar um coprocessador matemático. Geralmente os que o faziam eram planilhas de cálculo, com sua voracidade por números, e programas gráficos, que necessitam calcular velozmente as equações matemáticas das figuras que desenham na tela para acelerar a saída no vídeo. E é justamente isso que hoje faz a diferença: com a disseminação das interfaces gráficas, como Windows e a Workplace Shell do OS/2, praticamente todo programa é um programa gráfico. E pode se beneficiar de um coprocessador matemático. Daí a vantagem do i486DX para quem usa essas interfaces gráficas: o coprocessador matemático que traz embutido faz uma sensível diferença no desempenho do sistema.

Mas a outra diferença talvez seja ainda mais importante: o cache. Não somente todo i486DX traz um cache interno de 8K, como a maioria das máquinas equipadas com ele pode manejar um cache externo de até 256K. E, quando se trata de máquinas rápidas, quanto mais cache, melhor. Pois vocês ainda se lembram da função do cache: por meio de uma inteligente prestidigitação, a CPU aproveita ciclos "vagos" de operação para copiar na rapidíssima memória cache trechos inteiros da lenta memória DRAM. Assim, se o próximo acesso à memória se der em um dos trechos copiados, ele é feito imediatamente. Do contrário, será preciso acessar o dado no local original, nos lentos chips DRAM. Que, por necessitarem de frequentes recargas (os chamados ciclos de "refresh"), exigem das CPU velozes os odiosos "estados de espera", ou ciclos nos quais elas nada fazem além de aguardar o refresh da memória. Como a frequência de operação da CPU evoluiu muito mais rapidamente que os tempos de acesso aos chips DRAM, praticamente toda máquina que opere acima de 25MHz exige estados de espera.

É evidente que uma CPU com cache não pode eliminar os estados de espera: eles dependem da velocidade de acesso dos chips DRAM e não das características da CPU. Mas pode reduzir extraordinariamente sua incidência. Pense: uma CPU sem cache precisa de introduzir estados de espera em todos os acessos à memória. Com cache, somente há estados de espera se o dado não estiver no cache. E qual a proporção de "acerto", ou seja, qual a relação entre o número de acessos ao cache e o total de acessos? Bem, depende de uma série de fatores. Mas relações acima de 90% são comuns. Ou seja: nove em cada dez acessos são feitos ao cache. O que significa que o número de estados de espera se reduz a um décimo. E o reflexo disso no desempenho da máquina é igualmente dramático, já que grande parte da faina da CPU se resume a acessos à memória.

Tudo isso faz do 486 a melhor CPU hoje disponível, já que o Pentium ainda não desabrochou. Uma máquina 486 custa cerca de duzentos a quatrocentos dólares a mais que um 386 com as mesmas características. Um boa grana, evidentemente. Mas a relação custo/benefício é compensadora. Tanto que, nos EUA, os analistas já estão decretando a morte dos 386. Coisa de americano rico, naturalmente. Por aqui, ainda se prevê uma longa sobrevida para eles.

Pronto: com o i486DX fechamos todas as gerações dos microprocessadores da Intel. Agora, só faltam os clones e as variações da própria Intel. Que são muitos, como veremos semana que vem.

B. Piropo