Escritos
B. Piropo
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07/06/1993

< Os Sufixos do 386 >


Neste ponto já examinamos as principais características de cada um dos microprocessadores básicos da Intel, desde o 8088 até o i486. Agora, falta discutir seus sufixos. Então vamos ver o que eles significam.

Como vocês se lembram, a Intel lançou o 386 em 1985. Mas ninguém se aventurou a fabricar uma máquina que o usasse: o chip era caro e tão diferente de seu antecessor que os investimentos para desenvolver uma placa mãe para ele desanimaram a indústria. O principal problema era o barramento: até então, não havia micros de 32 bits. Se pelo menos o acesso à memória fosse em dezesseis bits, as coisas seriam mais simples, já que o resto não exigiria mudanças tão radicais e os fabricantes poderiam aproveitar os projetos, lay-out e componentes das placas de 286 e adaptá-las para o novo chip.

Se era isso que a indústria queria, amém. Reincidente, já que havia feito o mesmo com o 8086, a Intel mutilou o velho 386, reduzindo à metade seu barramento de dados. E batizou-o de i386SX. Dizem que esse "SX" vem de "sixteen", dezesseis em inglês, e se refere ao novo barramento. Seja ou não verdade, o i386SX é exatamente igual ao i386DX, exceto pelo tamanho do barramento. E pelo preço, naturalmente: foi lançado por US$ 219 e pode ser comprado hoje por menos de US$ 70. A Intel vendeu quase 22 milhões deles. Na verdade, o i386SX foi quem decretou a morte dos 286: quase pelo mesmo preço e infinitamente mais poderoso, tornou seu irmão mais novo totalmente obsoleto.

Uma curiosidade: foi o lançamento do i386SX que provocou a mudança de nome de seu antecessor. Pois acontece que, ao ser lançado, o i386 tinha mesmo esse nome, sem sufixo. Com o advento do i386SX começou uma confusão dos diabos. Havia até quem pensasse que o sufixo "SX" indicava um aperfeiçoamento - um terrível engano, naturalmente. Por isso a Intel decidiu agregar o sufixo "DX" ao de 32 bits. Favor não perguntar o que significa o "DX": não faço a mais remota idéia...

Quando o i386SX foi lançado, fazia sentido comprar um. Hoje, dificilmente. E a razão é simples: a diferença de preço entre ele e um i386DX já não justifica a compra. E a coisa se explica facilmente. Veja lá: quando um novo microprocessador é lançado, são feitos investimentos significativos no projeto e desenvolvimento das novas placas mãe. Esses pesados custos são repassados às primeiras unidades vendidas (por isso os preços de produtos recém lançados são tão altos). Porém, caso o componente venha a ser bem sucedido como o 386, a partir de um determinado número de unidades vendidas, tudo é lucro. E os preços caem verticalmente.

No caso do i386DX, foram vendidos tantos milhões de unidades que os custos de desenvolvimento já foram mais que absorvidos. Por isso uma placa mãe de 386SX custa quase o mesmo que uma de 386DX. E a diferença de desempenho é significativa. Portanto, se a grana der, não hesite: vá direto para o DX. Na verdade - e por isso mesmo - atualmente o i386SX quase desapareceu. São encontrados somente em um ou outro notebook de baixo custo. E por falar em notebook, foram eles que levaram a Intel a lançar uma nova variante do 386: o i386SL.

Para quem não sabe: notebook é o nome que se dá a esses novos computadores portáteis que estão tomando conta do mercado. O nome, "livro de notas" em inglês, deve-se ao tamanho dos bichinhos. Nessas máquinas, fez-se de tudo para reduzir peso: a maior parte da estrutura é de plástico, os discos rígidos são minúsculos, todo o projeto é cuidadosamente desenvolvido tendo em mente a redução de peso. E conseguiram milagres, produzindo máquinas notavelmente poderosas pesando pouco mais de três quilos.

Mas em todo notebook há um componente que é a eterna dor de cabeça dos projetistas e usuários: a bateria. Por mais que se empenhe, a indústria não consegue progressos significativos na redução de seu peso. São recarregáveis, é verdade. Mas continuam grandes e pesadas. O que leva a um dilema: aumentar o peso ou reduzir o tempo de utilização entre recargas. Hoje chegou-se a uma solução de compromisso: a maioria dos notebooks pesa pouco mais de três quilos e permite duas a três horas de uso com uma carga.

Já que não se conseguiu muito no que toca a aumentar a capacidade das baterias, os projetistas se voltaram para o outro lado: reduzir consumo. Com esse objetivo em mente, a Intel e a Microsoft se associaram para a criação de um padrão, o APM (Advanced Power Management). Que consiste fundamentalmente em "vigiar" o funcionamento da máquina e cortar a energia daqueles componentes que não estão sendo usados (inclusive o HD, um voraz consumidor de energia). A Microsoft desenvolveu os BIOS e drivers para as máquinas APM. A Intel, um novo chip, o i386SL (o "L" correspondendo a "Low power"). Que, funcionalmente, é rigorosamente igual ao seu irmão i386SX. Mas obedece ao padrão APM e consome muito menos energia. A mudança implicou em um notável acréscimo no número de transistores: 855 mil (contra 275 mil do SX). Apesar disso, o preço é bem menor: US$ 150 no lançamento (outubro de 1990) e US$ 65 hoje. A Intel já produziu cerca de dois milhões deles, nas versões de 20MHz e 25MHz. E com ele terminamos os 386 da Intel.

PS para a turma do OS/2: amanhã, terça-feira, 19 horas, nova reunião do grupo de usuários. Na PUC, sala 508L. Não precisa registro antecipado. Basta aparecer para me ouvir contar as novidades sobre o lançamento da versão 2.1 e as últimas da COMDEX.

B. Piropo