Escritos
B. Piropo
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14/06/1993

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Lembra do significado do sufixo "SX" do i386SX? Consta que é a abreviação de "sixteen", o tamanho do barramento da dados. Então, aplicando um raciocínio lógico elementar, concluiu que o i486SX é análogo a um i486DX, porém com um barramento de dados reduzido a 16 bits, certo? Errado. Infelizmente, cessa todo o raciocínio lógico quando as razões mais altas de mercado se alevantam. O certo é: o i486SX é análogo a um i486DX, porém sem coprocessador matemático. Na verdade, ele é um i498DX completo, no qual o coprocessador matemático foi desabilitado: está lá, mas não funciona.

Não dá para entender as razões pelas quais uma indústria fabrica um chip, mutila-o e o vende mais barato? Uma pista: o i486SX foi lançado em abril de 91, um mês depois que a AMD despejou no mercado o primeiro clone do 386 da Intel. Ficou mais fácil? Para não perder o mercado, a Intel desabilitou o coprocessador matemático do 486 e passou a vendê-lo por apenas cinquenta dólares acima do clone da AMD. Com isso, por uma bagatela, o freguês ganhava todo o conjunto de instruções do 486 e mais o nada desprezível cache interno de 8K. Sem sair da linha Intel, naturalmente.

Acha que fazer um chip inteiro e depois desabilitar uma parte é desperdício? Então prepare-se para se arrepiar. Pois como você sabe, quem tem uma CPU sem coprocessador e precisa de um, compra-o e o encaixa no soquete existente na placa mãe para este fim. O coprocessador matemático do 286 chama-se 287. O do 8088 é o 8087. E o do 386 é o 387. Portanto, como era de se esperar, para incorporar um coprocessador matemático a uma máquina que usa o i486SX, basta espetar no respectivo soquete um i487. Porém, nesse caso há uma brutal diferença: um 487 é de fato um 486 inteiro. Quando você o encaixa na placa mãe, ele simplesmente desabilita o i486SX e assume o controle total da máquina. Percebeu agora o que é desperdício? Uma máquina com dois 486 inteirinhos, dos quais um permanece desabilitado. Coisa de rico. Ou de louco, sei lá.

Mas se o mercado tem razões para gerar tais desatinos, também tem maneiras de coibi-los: a Intel vendeu menos de três milhões desses chips em todas as versões (16MHz, 20MHz, 25MHz e 33MHz). Lançados por US$ 258, podem ser encontrados hoje por pouco mais de cem dólares. E quase ninguém mais fabrica máquinas com eles.

Já o outro irmão, o i486DX2, foi um bem merecido sucesso. E por sólidas razões: nesse caso, ao invés de mutilar, a Intel melhorou seu já ótimo 486. E os resultados foram excelentes: os DX2 são o que há de melhor para equipar um PC. Pelo menos até a Intel resolver os problemas de aquecimento do recém lançado Pentium.

Para entender as razões que levaram ao lançamento do DX2, é preciso recordar a questão do tempo de acesso à memória. Pois sabemos que os chips DRAM usados para preencher os bancos de memória de nossas máquinas precisam ser regularmente "recarregados", ou seus capacitores elementares perdem a carga elétrica e "esquecem" os dados. E, enquanto os circuitos internos estão cuidando recarregar os chips de memória, nada pode ser lido ou escrito neles. A coisa, então, funciona assim: faz-se uma leitura, recarrega-se, nova leitura, nova recarga e assim sucessivamente. Resultado: entre cada duas leituras sucessivas é preciso esperar algum tempo para que a recarga seja feita.

Esse tempo é pequeno. Atualmente as memórias mais rápidas admitem leituras a intervalos de 40 nanossegundos. Quase nada, mas o suficiente para atrasar uma CPU rápida. Por isso, dependendo da frequência de operação da CPU e do tempo de acesso à memória, podem ser necessários os desagradáveis "wait states", ou intervalos nos quais a CPU nada faz além de esperar a recarga dos bancos de memória. Em máquinas cujas CPU operam em frequências superiores a 25MHz os estados de espera são inevitáveis.

Mas nem tudo o que uma CPU faz é acessar memória. Grande parte de suas atividades são dedicadas a processamento interno. Então alguém teve uma idéia genial: fazer uma CPU capaz de operar em duas frequências. Na mais baixa, acessa memória e se comunica com os periféricos. A mais alta é reservada para as operações internas.

Um i486DX2 é exatamente assim. É fabricado em duas versões: 25/50MHz e 33/66MHz (assim mesmo, com as duas frequências, se bem que alguns fabricantes mais espertos omitam a frequência inferior e se refiram a eles como i486DX2 50MHz e i486DX2 66MHz). O primeiro é exatamente igual a um i486DX 25MHz em tudo o que diz respeito à troca de informações com o mundo exterior, inclusive memória. Mas internamente funciona a 50MHz. O segundo opera externamente a 33MHz e internamente a 66MHz. Um demônio de velocidade.

Os chips DX2 foram lançados em março de 92 e já venderam quase um milhão de unidades. Parece pouco. Mas lembre-se que não são nada baratos: lançados a US$ 550 (a versão mais lenta), hoje custam US$ 450 e US$ 600 (a mais rápida). No mais, fora o preço e a dupla frequência, são rigorosamente iguais aos seus irmãos i486DX.

Para esgotar os chips da Intel, só faltam os "Overdrive": algumas máquinas 486 incorporam um soquete especial para expansão. Encaixe nele um chip "Overdrive" e dobre a frequência de operação. Há Overdrives de 50MHz para máquinas 486 de 25MHz e de 66MHz para máquinas 486 de 33MHz. Pois bem, o Overdrive nada mais é que um 486DX2 completo. Encaixe-o no soquete e ele dasabilita o antigo e assume o controle. Mais um exemplo da teoria do desperdício...

Pronto: examinamos toda a linha da Intel, exceto o Pentium. Agora, só faltam os clones. E olhe que são muitos...

B. Piropo