Escritos
B. Piropo
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21/06/1993

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Quando a Intel lançou seu mais novo microprocessador, alguns estranharam o nome. Afinal, depois de 286, 386 e 486, muita gente estava esperando pelo 586. Mas a Intel resolveu alterar a nomenclatura de seus chips e lançou o Pentium. E teve bons motivos.

Pois acontece que as autoridades judiciais americanas decidiram e com razão - que não se pode registrar um número como marca. Bem que a Intel tentou: quando a concorrência começou a lançar seus próprios "386", ela esperneou um bocado. Mas não adiantou: os tribunais decidiram que "386" é o número de uma peça, um "part number", e como tal não pode ser considerado marca registrada.

Os microprocessadores da Intel já haviam sido "clonados" anteriormente: vocês se lembram do V20 e V30 da NEC, totalmente compatíveis com o 8088 e 8086, respectivamente. Mas quem primeiro ousou fabricar um clone de um microprocessador da Intel e batizá-lo com o mesmo nome foi a Advanced Micro Devices, a AMD. Que lançou em março de 91 o AM386DX.

Se compararmos o i386DX da Intel com o AM386DX da AMD, vamos descobrir que são praticamente idênticos e absolutamente compatíveis. De diferente apenas o fato de ter a AMD conseguido espremer as mesmas funções em apenas 161 mil transistores (em lugar dos 275 mil usados pela Intel). E as frequências de operação: o 386DX da AMD opera em 25MHz, 33MHz e 40MHz. Este último está se tornando cada vez mais popular, e praticamente liquidou com o lento i386DX de 16MHz. Na verdade, ele é o mais rápido 386 disponível, já que a Intel parou nos 33MHz.

O AM386DX foi um sucesso, com cerca de quatro milhões e meio de unidades vendidas. O que não é de se admirar: é um chip excelente, rápido, inteiramente compatível com o co-irmão da Intel e muito mais barato: no lançamento, custava US$ 210 e hoje um AM386DX de 40MHz pode ser encontrado no varejo por US$ 51. Levantemos todos um brinde à AMD: não tivesse ela corajosamente enfrentado a Intel e produzido este chip, deus sabe quanto estaríamos pagando hoje por um 386. Nada como uma sadia concorrência para tornar os preços mais afáveis...

E a AMD não ficou nisso: quatro meses depois, em julho de 91, lançou seu AM386SX. Também rigorosamente compatível com o SX da Intel, o da AMD foi fabricado em versões de 25MHz, 33MHz e 40MHz, este último o mais rápido 386SX disponível, já que o da Intel somente chega aos 33MHz. Com seus 161 mil transistores (contra os 275 mil do SX da Intel), o AM386SX foi lançado por US$76 e hoje pode ser encontrado no varejo por US$ 36 (o de 33MHz), uma bagatela, considerando-se sua capacidade de processamento. Não é de admirar que a AMD já tenha vendido quase seis milhões desses bichinhos, que equipam a maioria dos notebooks de baixo custo.

Depois que a AMD abriu o caminho, ficou mais fácil. E depois que ficou claro que "números" não poderiam ser registrados como marca, ficou ainda mais fácil. Tanto assim que, em abril de 92, mais um fabricante entrou na liça: a Cyrix, que lançou o Cx486SLC. E não lançou só o chip: com ele, lançou também mais confusão no já complicado campo da nomenclatura dos microprocessadores.

Acontece que a AMD, ao batizar seus chips com os mesmos "números" da Intel, tomava o cuidado de fazê-los idênticos, obedecendo rigorosamente as características do xará. No entanto, este soi disant 486 da Cyrix (que contém 600 mil transistores e foi desenvolvido nas versões de 20MHz, 25MHz e 33MHz) usa um cache interno de apenas 1K, ao passo que o da Intel tem um cache de 8K. Pior: o da Cyrix adota um barramento de dados de apenas 16 bits, como um 386SX. Além disso, não traz coprocessador embutido (embora aceite um coprocessador em outro slot da placa mãe). A Intel alega - a meu ver com razão - que ele não merece o nome de 486: a rigor, ele é uma coisa híbrida, mais para 386SX com cache que para 486. Mas por via das dúvidas, logo após sua aparição, baixou o preço do i486SX 25MHz para US$ 119, justamente o preço de lançamento do Cx486SLC (que hoje pode ser comprado por cerca de US$ 100). A Cyrix vendeu até hoje cerca de 200 mil unidades do Cx486SLC.

Em junho de 92 a Cyrix lançou o Cx486DLC. Que ainda não tem um coprocessador e mantém o cache interno com apenas 1K, mas com seu barramento de dados de 32 bits chega mais perto daquilo que se pode considerar um 486. E usando os mesmos 600 mil transistores de seu irmão SLC. Este chip mantém até hoje os preços de lançamento, na faixa de US$ 99 a US$ 159 (dependendo da versão, de 25MHz, 33MHz e 40MHz). A Cyrix vendeu menos de cem mil deles.

Finalmente, em outubro de 92, a Cyrix lançou seu mais recente microprocessador: o Cx486DRu2. Basicamente, as características são as mesmas do irmão mais velho DLC: sem coprocessador, cache interno de 1K, registradores e barramento de dados de 32 bits. Mas com uma diferença essencial: à semelhança dos chips DX2 da Intel, o DRu2 usa dupla frequência de operação, a maior para processamento interno, a menor para o barramento. Foram lançadas as versões de 16/32MHz, 20/40MHz e 25/50MHz. O preço de lançamento se mantém até hoje: US$ 399. Mas a maior novidade não é a dupla frequência, mas a pinagem. Que é inteiramente compatível com a dos chips 386DX da Intel. Vantagem? Bem, a Cyrix alega que basta remover o velho 386 da Intel e espetar o novo Cx486DRu2 no mesmo soquete para transformar a máquina em um avião. Na verdade, o estranho nome quer dizer isso mesmo: Direct Replacement Upgrade. O lançamento é relativamente recente. Talvez por isso, talvez pelo preço, a Cyrix tenha vendido menos de trinta mil destes chips.

Pronto. Isto fecha a discussão das principais CPU para a linha PC. Ficou confuso? Aguarde. Semana que vem encerraremos a série com um resumo de tudo o que vimos até aqui.

B. Piropo