Escritos
B. Piropo
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05/07/1993

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Recebemos a carta de um leitor que trabalha em uma grande firma de auditoria e consultoria. Que não publico, já que solicita expressamente que assim seja feito. Mas que vale a pena comentar.

O leitor declara-se insatisfeito com meus comentários "pouco éticos" sobre Windows e OS/2, achando que são feitos "de maneira bem mais pessoal que profissional". Quanto à última acusação, creio estar ele coberto de razão. E nem poderia ser diferente, já que não sou profissional nem do jornalismo nem da informática: mero colaborador deste caderno, o que faço aqui nada mais é que expor minhas opiniões pessoais. E não vejo nada de errado nisso: creio que é exatamente para conhecê-las que os demais leitores prestigiam essa humilde coluna. Não fosse assim estariam lendo outra onde encontrariam as opiniões pessoais de outro colunista.

Já quanto a primeira, não posso concordar. Para apoiá-la, o leitor cita alguns de meus comentários. Na matéria sobre PCTools for Windows (segundo o leitor, "um excelente produto destinado a suprir determinadas deficiências de uma plataforma"), acha que fiz uma análise "bastante interessante sobre o produto". Mas acrescentei "o desnecessário comentário" que o programa roda sob OS/2. Seria mesmo desnecessário informar isso aos leitores que, mesmo contra a vontade do missivista, rodam o OS/2 em suas máquinas?

Outro exemplo, citado como "a mesma linha de enaltecimento pelo lado pessoal" e "um comentário jocoso e de muito mau gosto para com um software que, apesar de possuir reconhecidas deficiências, é um sucesso de vendas", é o título da matéria sobre o lançamento do OS/2: "A IBM corre o risco de reinventar o Windows". É natural que o leitor não saiba, mas títulos raramente são dados pelo autor da matéria e portanto nela nada há de menos pessoal que o título. Embora nesse caso particular, o título de fato tenha sido cunhado sobre uma frase minha do fecho da matéria. Da qual, parece, o leitor não leu mais que o título. Ou, se leu, não entendeu. Pois o que interpretou como enaltecimento ao OS/2 e crítica a Windows era uma crítica à IBM e um elogio a Windows, já que se referia a uma nova interface gráfica para DOS que a IBM cogita em lançar. Mas se para DOS já existe uma tão boa e bem sucedida como Windows, por que reinventá-la? Daí o comentário que o leitor considerou enaltecedor ao OS/2 - embora nem se referisse a ele.

Li a carta atentamente. E ao final, conclui que o missivista gosta muito de Windows, embora reconheça que tem deficiências. E, decididamente, não gosta nada do OS/2. Que, segundo ele, "parece ser um produto muito poderoso, mas isso não é motivo para tal manchete". É sua opinião pessoal, que respeito. Mas ficaria feliz se ele respeitasse igualmente as minhas. Que, para evitar dúvidas e malentendidos, vou resumir adiante. Espero que o missivista me perdoe por ousar expor aqui mais uma vez minha opinião pessoal.

Acho o OS/2 um excelente sistema operacional de 32bits. É estável, poderoso, intuitivo e flexível. Executa multitarefa preemptiva (controlada pelo próprio sistema operacional), permite rodar aplicativos OS/2, Windows e DOS. Todos ao mesmo tempo, se assim o desejar, e sem degradação aparente de desempenho. Em contrapartida, exige uma plataforma poderosa, só roda decentemente com um mínimo de 8Mb de RAM, abocanha cerca de 30Mb do disco rígido, dispõe de poucos aplicativos e padece da falta de drivers para muitos dispositivos. Gosto dele e o tenho instalado em um 486.

Acho o Windows 3.1 uma excelente interface gráfica. Se entende diretamente com os periféricos e libera o usuário da obrigação de configurar programas. É intuitiva e facilita extraordinariamente o aprendizado. Permite trocar informações e atualizar dados entre aplicativos. Exige uma plataforma menos poderosa, menos memória e consome menos HD. Tem milhares de aplicativos primorosos e drivers para praticamente qualquer dispositivo. Em contrapartida, é instável, sua multitarefa é cooperativa (se um programa mal concebido monopolizar a CPU, adeus multitarefa) e se apoia no DOS, um sistema operacional inadequado para máquinas de 32 bits. Também gosto dela e a uso em um 386. E, mesmo quando uso o 486, na maior parte das vezes trabalho com programas Windows sob OS/2.

Finalmente, o velho DOS com sua linha de comando. É um sistema operacional caduco e obsoleto. Concebido para rodar um programa de cada vez em uma CPU 8088, é quase um milagre conseguir nele um arremedo de multitarefa como fazem Windows e DeskView. Não obstante, roda em qualquer PC, tem centenas de milhares de aplicativos, drivers para os mais obscuros dispositivos e, em um XT, não se precisa de mais nada. Também gosto dele e o uso na minha terceira máquina, uma gracinha de XT que cabe na palma de minha mão.

Enfim: no que toca a sistemas operacionais e interfaces, sou um homem livre de preconceitos. Tivesse eu mais uma máquina, estaria rodando nela um outro sistema operacional ou interface. Acho que cada um tem seu nicho, sua utilidade e sua plataforma de escolha. E suas vantagens e desvantagens. Mas também acredito que, em máquinas como 386, 486, Pentiuns e Alfas, devemos procurar usar algo que seja capaz de explorar suas potencialidades, um sistema operacional de 32 bits. Atualmente, o único que conheço é o OS/2. Que é ótimo. E por isso, uso-o na máquina em que mais trabalho.

Mas estou sempre aberto a novas idéias e sistemas. Vem aí o Windows NT, outro sistema operacional de 32 bits também capaz de explorar uma CPU poderosa. Se a Microsoft estiver disposta a enviá-lo para cá para avaliação, como fez a IBM com o OS/2, rodalo-ei com muito gosto e prazer. Afinal, por menos que o missivista acredite - e ao contrário dele - no que toca a sistemas operacionais e interfaces gráficas, sou um homem sem preconceitos.

E mais uma vez correndo o risco de desagradar ao missivista: amanhã haverá mais uma reunião do grupo de usuários do OS/2. Será às 19hs no Centro de Informática /1 do Palácio Duque de Caxias, antigo Ministério da Guerra, ao lado da Central. A entrada é pelo portão lateral. O missivista também está convidado. Arrisco-me mesmo a sugerir que compareça. Em contrapartida, se ele me convidar para uma reunião de grupo de usuários de Windows, prometo que irei com muito prazer. Afinal, também sou usuário de Windows.

B. Piropo