Escritos
B. Piropo
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18/10/1993

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Vamos começar nosso papo sobre CD-ROM. Ao final, saberemos todos o que é, como funciona, quais suas vantagens e desvantagens, como fazer para ligar um bicho desses à nossa máquina e, sobretudo, se vale ou não a pena fazê-lo. E como aquele desmancha prazeres que conta logo o fim da história, vou adiantando desde já minha opinião: valer a pena, sem dúvida vale. A decisão a ser tomada, então, é meramente se é ou não o momento certo de fazê-lo.

Do ponto de vista técnico, um drive CD-ROM é um dispositivo de leitura de dados. Funciona como um disco rígido ou um drive de disquetes onde os dados não podem ser gravados, apenas lidos. Para instalar um drive CD-ROM em seu micro você vai precisar, além do drive, de uma placa controladora e de dois drivers que serão carregados durante o boot. Drives CD-ROM são lentos: enquanto tempos de acesso dos modernos discos rígidos se situam abaixo de vinte milissegundos, alguns drives CD-ROM considerados rápidos gastam trezentos milissegundos para acessar um dado. E não são baratos: nos EUA os mais simples custam pouco menos de duzentos dólares e os mais rápidos e sofisticados acima de seiscentos.

Como é mesmo? Um dispositivo de armazenamento que não permite gravar dados, tem uma instalação complicada, é lento como uma lesma lerda, custa uma nota preta e esse cara acha que vale a pena? Endoidou de vez o Piropo? Bem, é que estas são as desvantagens. E para decidir se algo vale ou não a pena, deve-se sopesar vantagens e desvantagens. Então vamos às vantagens.

Atualmente já existem centenas de títulos disponíveis em discos DC-ROM. Seus custos variam desde menos de vinte dólares, como certas bibliotecas de shareware contendo verdadeiras preciosidades, até algumas centenas de dólares - dependendo do conteúdo, evidentemente. E um disco CD-ROM pode armazenar até 650 Mb de dados. Não, erro de impressão nada, é isso mesmo. Por extenso: seiscentos e cinquenta megabytes de dados em um disco.

Você tem idéia do que isso representa? Pois vou dar uma ajuda: apenas em um de meus discos, o CD-ROM da Hobbes com shareware e utilitários para OS/2, há cerca de dezenove mil arquivos. E há bibliotecas semelhantes para DOS e Windows. Além de discos contendo jogos, clip-art, animações e mais o que você imaginar. Sem falar em enciclopédias inteiras e títulos de referência em campos tão distintos como a bíblia e imagens pornô. Incluindo catálogos telefônicos, mapas de ruas, atlas, em suma: todo e qualquer tipo de informação que um dia alguém possa demonstrar algum interesse. E a um preço médio da ordem de poucas dezenas de dólares.

E há ainda mais um detalhe: como se trata de um meio de armazenamento que está se tornando cada dia mais comum, muitos programas já estão sendo fornecidos também em CD-ROM. Por enquanto. Porque, a continuar a tendência de queda dos preços dos drives, logo eles estarão tão disseminados que, suspeito, dentro em breve a maioria dos programas será fornecida somente em CD-ROM. Duvida? Então pense: como se faz para duplicar um CD-ROM? Você não acha que esse seria um meio, digamos, inocente e aceitável para reviver a proteção de software sem provocar a inevitável grita dos usuários que ocorreria caso se pretendesse ressuscitar a antipática proteção contra cópia? Pois basta fazer um programa de instalação que procure por todos os arquivos em um mesmo drive, interrompendo o processo ao detectar a troca de discos. Sem nenhuma proteção contra a cópia, naturalmente. Tanto que nada o impediria de copiar todo o CD-ROM para um disco rígido e instalar dele. Desde, é claro, que você disponha de um HD de 650 Mb só para isso. Você acha que as softhouses vão perder essa chance? Pois é...

Fosse apenas pela quantidade e variedade de dados que se pode acessar, ter um drive CD-ROM já valeria a pena. Mas tem mais. E, nesse caso, o mais atende pelo nome de multimidia, uma tecnologia que pretende integrar diferentes recursos em seu micro, como som e imagens em movimento. Evidentemente, para usá-la é necessário uma placa de som, além do indispensável drive CD-ROM. Pois mesmo com as técnicas mais modernas de compressão de dados, a quantidade de bytes consumida por uma mísera cena de vídeo de poucos segundos é assustadora. Mas, para um CD-ROM, isso é moleza.

E esse negócio de multimidia presta? Ou será mais uma apelação da indústria para fazer a gente gastar nossos chorados caraminguás em besteira? Confesso que era justamente isso que eu pensava. Até consultar uma enciclopédia multimidia em CD-ROM. Passeava por ela sem compromissos e acabei por encontrar o verbete "Hindenburg", aquele balão dirigível que fazia viagens transatlânticas no início do século. Cliquei distraidamente sobre ele. E, ao lado de um texto sobre o assunto, assisti bestificado o filme original da explosão do dirigível quando aportava nos EUA. Com a voz embargada, literalmente aos prantos, do pobre locutor narrando um dos mais trágicos desastres do século saindo agoniada de minhas caixas de som. O filme original, sim senhor. Foi de arrepiar. Vocês já avaliaram o significado disso? Revolução total no conceito de enciclopédia. E não pára aí: que tal consultar um compêndio sobre música e ouvir os exemplos? E sobre cinema, com trechos dos filmes rodando em sua tela? As possibilidades no campo educacional são literalmente infinitas. E somente viáveis com um CD-ROM.

Sem falar nos jogos, naturalmente. Eu mesmo não sou muito chegado. Mas quem gosta de adventures, não pode mais viver sem um CDROM. Dizem eles que a coisa é absolutamente fascinante. Com os recursos de som e imagem em movimento incrivelmente realistas, alguns desses jogos são verdadeiros filmes de longa metragem interativos, que se pode, dentro de certos limites, encaminhar para onde quiser e modificar o final. Pra quem gosta, um maná.

Pois é isso um CD-ROM. Agora, falta ver como funciona. O que será feito semana que vem. Até lá.

B. Piropo