Escritos
B. Piropo
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01/11/1993

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Se você olhar para um disco CD-ROM e para um disco laser fonográfico, destes que "tocam música", não perceberá diferença alguma. E não sem motivo. Tanto assim que a maioria dos drives CD-ROM, com o software adequado, é capaz de "tocar" discos laser. Por isso quase todo drive CD-ROM que se preze tem uma tomada frontal para fones de ouvido, destes usados nos walkman.

Na verdade, as semelhanças não são mera coincidência, mas fruto da hereditariedade: os CD-ROM descendem diretamente dos discos laser. Mais precisamente, do padrão Compact Disk Digital Audio, estabelecido pela Philips e Sony para seus discos laser fonográficos. Discos CD-ROM e laser têm o mesmo formato e dimensões e usam a mesma trilha única, espiralada. Até mesmo os dados são armazenados sob o mesmo formato, em setores de 2352 bytes cada, dos quais 304 são usados para armazenar informações sobre a localização do setor e detecção de erros e 2048 - exatos 2K, portanto contêm os dados. Nos discos laser, 75 destes setores correspondem a um segundo de música com altíssima qualidade sonora. Nos CDROM, correspondem tão somente a 150K de dados. Quaisquer dados. Isso explica porque os discos CD-ROM são tão baratos: como a tecnologia de fabricação é a mesma, a produção em massa dos discos laser reduziu os custos unitários.

Mas, se bem que semelhantes, não são idênticos. Discos laser não necessitam ter a mesma precisão que seus colegas CD-ROM. Afinal, para perceber um byte inexato nos mais de cento e cinqüenta mil que compõem um segundo de música, seria preciso um ouvido sobrehumano. Mas um único bit trocado no arquivo executável pode liquidar um programa. Daí serem os sistemas eletrônicos destinados a garantir a integridade dos dados muitíssimo mais sofisticados nos drives CD-ROM que nos "toca-discos" laser. Além de outras diferenças igualmente importantes nos circuitos de troca de informações com o computador, muito mais complexos nos drives CDROM. Por isso estes drives são tão caros.

Se você usa um dos novos sistemas operacionais de 32 bits, como o OS/2 2.1 ou Windows NT, e se o drive CD-ROM é de boa qualidade e marca conhecida, não há com que se preocupar: provavelmente ele será reconhecido pelo sistema, que o tratará como mais um drive com a evidente restrição que, nele, arquivos não poderão ser gravados, apenas lidos. Mas se você usa o DOS, precisará adicionar o código necessário para reconhecer o drive, já que o DOS não incorpora suporte para este novo tipo de disco.

Este código, em geral, vem em dois arquivos separados. Um deles é um driver, ou gerenciador de dispositivo desenvolvido pelo fabricante do equipamento, que se encarrega das particularidades específicas da marca e modelo do drive. Como todo driver que se preza, ele se aloja no Config.Sys. Em geral, o equipamento é fornecido com um programa de instalação que se encarrega, entre outras coisas, de incluir no Config.Sys a linha correspondente ao driver e adicionar os parâmetros necessários. Este driver é específico, já que depende das características do hardware, e não pode ser substituído, exceto por uma versão mais nova, também desenvolvida pelo fabricante e que seja garantidamente compatível com o modelo do drive. E que nem sempre pode ser carregado nos UMB. Portanto, se logo depois da instalação seu CD-ROM funcionou perfeitamente e mais tarde a máquina travou ou o CD-ROM parou de funcionar ao carregar o driver nos UMB com o loadhigh do EMM386 ou qualquer outro gerenciador de memória, basta fazê-lo retornar aos 640K da memória convencional que tudo voltará à normalidade.

O outro também é um driver, mas fornecido sob a forma de um programa executável que deve ser carregado no Autoexec.Bat. Trata-se de um gerenciador de dispositivos genérico para suporte de CD-ROM desenvolvido pela Microsoft. Chama-se Mscdex.Exe (um acrônimo de Microsoft CD-ROM Extensions). Em geral uma cópia do Mscdex.Exe acompanha o equipamento e a linha correspondente também é acrescentada ao Autoexec.Bat pelo programa de instalação do equipamento. Este driver, sendo genérico, sempre pode ser substituído por uma versão mais recente. Mas também costuma dar problemas quando carregado nos UMB. Os dois juntos fazem com que o drive CD-ROM seja "visto" pelo DOS como um drive apenas de leitura, o que permite emitir comandos como "DIR", "TYPE" e "COPY" envolvendo o CD-ROM (o último, evidentemente, apenas quando se pretende copiar um arquivo do CD-ROM para outro drive).

Se o drive obedece a um dos dois padrões existentes, o High Sierra ou o ISO 9660 (quase todos os drives atualmente disponíveis obedecem a um destes padrões, que são mutuamente compatíveis), não haverá problemas: basta instalar e sair usando o drive como se fosse mais um disco pendurado na máquina.

Agora já podemos escolher nosso drive CD-ROM. Só falta detalhar o caminho das pedras. O que será feito semana que vem.

PS: De raro em raro a vida nos concede o privilégio de conviver com alguém assim especial como Claudia Massadar. Que de tão mais se preocupar com os problemas alheios que com os próprios, fez disso profissão e tornou-se psicóloga especializada em atendimento familiar. Não me lembro de tê-la visto jamais sem um sorriso, uma palavra amiga, um gesto de afeto. Meiga Claudia, tão cheia de vida. Vida tanta, tão bonita e vivida com tal intensidade que esvaiu-se em pouco mais de três décadas. E extinguiu-se brutalmente, de chôfre, como a colorida bolha de sabão que some no ar e faz o mundo ficar mais feio com sua ausência. Um beijo, minha doce Claudia, o último e carinhoso beijo deste seu velho amigo. Que, eu sei, você receberá com aquele mesmo sorriso moleque, seja lá onde estiver. De você, fraterna amiga, só guardo uma queixa: ter tornado tão difícil escrever esta coluna. Que havia de ser escrita justamente no dia em que soube que você se foi.

B. Piropo