Escritos
B. Piropo
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27/03/1995

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Windows 95 vem aí. Seu lançamento, previsto para dezembro de 94, foi adiado para abril de 95 e, depois, adiado novamente para agosto de 95. Mas deverá aparecer com certeza no segundo semestre desse ano (do contrário, terá que mudar de nome e isso seria um sério golpe na estratégia de mercado do produto - e não se iludam: de estratégia de mercado, a MS entende como ninguém...).

Nunca se viu tanta fé em um produto que ainda não foi lançado. Nem tanto interesse: a revista americana PC Computing tem uma seção sobre Windows 95, o que é no mínimo curioso, já que o produto não existe oficialmente. Fé e interesse são tamanhos que, ainda que pareça estranho, quando Bill Gates anunciou o adiamento de dezembro de 94 para abril de 95, as ações da MS subiram três pontos. Tudo porque, no anúncio, Gates afirmou que Chicago (o então nome de código de Windows 95) "será mais fenomenal que qualquer outro produto de software de sistema já desenvolvido por nós ou qualquer outro". Foi o que bastou para Wall Street manter sua fé...

O lançamento será retumbante. Citando Schulman: "O anúncio de Windows 3.0 em maio de 90 - algumas vezes chamado de 'a mãe de todos os lançamentos' - mudou a face da indústria de software para PC. A Microsoft gastou cerca de dois milhões de dólares no lançamento de Windows 3.0; aparentemente ela está planejando uma campanha de quarenta milhões de dólares para Windows 95".

Windows 95 não será apenas uma interface gráfica, mas um sistema operacional. Ainda usará o DOS (na nova versão 7.0) para ser carregado, mas logo após assume totalmente o controle da máquina, como convém a um sistema operacional. E não será um produto inteiramente novo, como quer fazer crer a MS, mas uma evolução de Windows 3.x. Mas, sem dúvida, será um sistema operacional completo. Na verdade, segundo alguns concorrentes, completo até demais.

Porque, além da maior parte dos utilitários já incluídos no DOS e de tudo que se espera em um sistema operacional, Windows 95 incorporará ainda suporte a rede, sistema de correio eletrônico, suporte a fax, uma shell extremamente avançada com gerenciamento de arquivos, um editor de textos completo (WordPad), um programa gráfico avançado (o novo MS Paint) e um programa de comunicações decente (Hyperterminal). Isso sem mencionar o Marvel, sobre o qual falaremos mais tarde, já que merece mais espaço por ser uma boa indicação dos planos da MS para o futuro.

E como Windows 95 afetará a concorrência? Uma pista pode ser encontrada no artigo de Steve Gibson no Infoword, em junho de 94: "Um sistema equipado apenas com Chicago pode ser usado para executar trabalho realmente útil tão logo retirado da caixa. Hoje eu estou usando uma velha e confiável versão do cc:Mail Remote, uma versão encarquilhada do Procomm for Windows e o excelente software WinFax Pro da Delrina Corp. Nenhum se integra com o outro ou com o sistema operacional. Conseqüentemente, sou obrigado a pular de um para o outro para fazer o que o Chicago fará mais facilmente desde seu primeiro dia. Para os fornecedores das soluções de ontem, isso deve ser um ruidoso sinal de alarme. Os desenvolvedores precisam começar a encarar Chicago com seriedade desde já para descobrir como melhor nivelar suas oportunidades nessa nova área de Chicago. Quem não o fizer, terá que encarar a extinção certa e garantida." Uma previsão nem um pouco otimista.

Mas que não é solitária. Voltando a Schulman: "O presidente de uma importante empresa de software, enquanto lia sobre todas essas novas funções no Chicago Reviewer's Guide da Microsoft, começou a fazer a lista das empresas que ele esperava que fechassem as portas logo após o lançamento de Windows 95. Tudo bem, isso é um tanto melodramático, mas mesmo a sóbria Business Week afirma sobre Windows 95: '... Se os que desenvolvem outros sistemas operacionais tem apenas um fio de esperança, os que desenvolvem outros softwares não têm nenhuma. Com Chicago a Microsoft incrementa seus esforços para incorporar mais características que eram vendidas separadamente - como programas de correio eletrônico."

Comparar os velhos programas DOS com os atuais programas Windows é como comparar um automóvel com uma charrete. Em um artigo de novembro de 91 na revista Forbes, Julie Pitta afirma: "A Quarterdeck... sobrevive preenchendo lacunas nos produtos da Microsoft. Como a Microsoft dá espaço a esse pequeno competidor? Como a Quarterdeck sobrevive?... A resposta é que seus programas [Qemm e Deskview] funcionam muito melhor que Windows 3.0 com as versões antigas dos aplicativos. Em contraste, Windows 3.0 funciona melhor com as versões mais novas... desenvolvidas especificamente para serem compatíveis com Windows. Assim, a Quarterdeck está vendendo a usuários que ainda usam velhos sistemas ao invés das novas e reluzentes máquinas. A Quarterdeck vende charretes novas e incrementadas enquanto as empresas maiores se ocupam do vasto mercado das carruagens sem cavalo. Charretes são um nicho interessante por algum tempo, mas o que você fará quando o último cliente trocar seu cavalo por um automóvel?" O artigo é de 91, ainda tempo das charretes. Hoje, elas praticamente desapareceram. Como a Quarterdeck...

Mas não são só os fabricantes de charretes que devem se preocupar. Os de Rolls Royce também devem pôr as barbas de molho. Como a Delrina, a do excelente WinFax Pro, o mais popular programa de Fax para PC. Que acaba de inaugurar um serviço de caixa postal e envio e entrega de faxes. Segundo Schulman, "os executivos de lá devem saber que as vendas do WinFax Pro serão seriamente afetadas pelo Chicago, portanto a Delrina está se transformando em um provedor de serviços de Fax..." Em suma: está mudando de ramo enquanto é tempo.

Note que o carro chefe da Delrina, o WinFax Pro, é um programa desenvolvido especificamente para se aproveitar das funções de dois produtos da MS, o DOS e o Windows. Ao que parece, esse tipo de programa (e de softhouse) está fadado a desaparecer. Como diz Schulman: "Para qualquer aplicativo e utilitário de uso geral muito popular, provavelmente é apenas uma questão de tempo até que a Microsoft considere pôr o produto, ou suas funções, no lugar ao qual ele 'pertence': em Windows. Windows suporta aplicativos de uso geral não-Microsoft da mesma forma que se pode dizer que uma corda suporta alguém que logo será enforcado".

Bem, até aqui estamos falando de aplicativos de uso geral, como compressores de disco, gerenciadores de memória, programas de fax e correio eletrônico. Nada se disse sobre as grandes softhouses, as verdadeiras concorrentes da Microsoft nos aplicativos "pesados", como editores de texto, planilhas e bancos de dados. Essas, com certeza, não precisam se preocupar com Windows 95 e podem ficar tranqüilas...

Ou não?

B. Piropo