Escritos
B. Piropo
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19/06/1995
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Esta Trilha Zero, como as demais, está sendo escrita em um domingo. Mas, ao contrário dos outros domingos, não estou batucando no teclado do micro lá de casa: desta vez, a coluna está sendo digitada no notebook. Começou no avião à caminho de Salvador, continuou no restaurante do aeroporto Dois de Julho (viu, Gravatá? em nossa terra, amigo irmão, depois da pausa de lei para comer um acarajé retado...) e prosseguiu, novamente no ar, à caminho do Rio de Janeiro. De volta daquele pedaço de paraíso chamado Natal, com suas dunas, suas praias, seu sol e, principalmente, seu povo, maravilhosos. De onde retorno dois ou três quilos mais gordo de carne de sol, camarão e peixada. E feliz, muito feliz.

Fui a Natal ("ao Natal", no estilo potiguar) à convite da SUCESU/RN para proferir uma palestra no Inforn'95, o segundo Congresso e Feira de Informática e Telecomunicações do Rio Grande do Norte. Cheguei achando que seria um evento como qualquer outro. Pois enganei-me: esse era em Natal.

Natal é uma das cidades mais agradáveis do nordeste. Com seus pouco mais de setecentos mil habitantes, está no tamanho ideal: já dispõe dos recursos essenciais aos grandes centros, mas ainda não sofre as mazelas das megalópolis. Fora alguns edifícios obviamente desnecessários, enfeando a paisagem (como um criminoso prédio de sete pavimentos, um monumento à estupidez humana erigido em plena praia de Genipabú), a cidade ainda mantém o charme das velhas capitais do nordeste. E com seu clima ameno e seu povo que recebe os forasteiros com uma hospitalidade fraterna, basta um mínimo de planejamento urbano para que venha a ser muito em breve uma das mecas do turismo desse país. Com justo merecimento.

O Inforn'95 foi a segunda edição de um evento voltado à disseminação e fomento do uso das novas tecnologias de informática e telecomunicações junto aos usuários de computadores do Rio Grande do Norte. Que foi realizado juntamente com a Multimagem 95, a Conferência Norte-Nordeste de Computação Gráfica e Multimídia. Como a maior parte dos eventos semelhantes, o Inforn'95 consistiu em um congresso e uma feira. No Congresso inscreveram-se mais de quinhentos participantes, um número respeitável para um evento regional. Que, além das palestras, assistiram a mini-cursos e apresentações. Falou-se de tudo, desde sistemas operacionais como o Warp e Windows 95, até rede local. E, evidentemente, de multimídia e Internet, os assuntos do momento e que atraíram maior público. Do que vi, o destaque do congresso correu por conta da palestra do André Bergholtz, da Espaço Virtual, uma firma de Brasília especializada em modelos tridimensionais de projetos de arquitetura e engenharia, sobre o uso da computação gráfica e realidade virtual aplicados a projetos arquitetônicos: até que enfim um uso realmente prático para a realidade virtual.

Mas o que realmente marcou o sucesso do Inforn'95 foi a feira, à qual, segundo os organizadores, compareceram mais de trinta mil visitantes. Uma estimativa que me pareceu perfeitamente razoável e compatível com os corredores sempre cheios do pavilhão do Centro de Convenções de Natal. E que obrigou sua prorrogação: a feira agradou tanto aos expositores que, mesmo a contragosto, os organizadores foram obrigados a estendê-la por mais um dia, esticando-a até a noite de sábado. E o pessoal tinha lá suas razões: afinal, a feira atraiu quase cinco porcento de toda a população da cidade.

Se bem que eu tenha encontrado no estande da Fênix Multimídia, de Natal, três discos de shareware para OS/2 distribuídos pela Accurate Research que nunca tinha visto antes em lugar nenhum, é verdade que na feira não havia muita novidade. Mas, pensando bem, na Comdex Spring de Atlanta também não. E se no caso da Comdex a falta de novidades pode ter sido frustrante, no Inforn'95 o pessoal não estava nem aí. Mesmo porque o objetivo desta feira não era mostrar novidades, mas trazer a última geração da tecnologia em telecomunicações e informática para o alcance do público local, que nem sempre pode freqüentar os eventos do eixo Rio-São Paulo. No que foi mais que bem sucedida. Tanto, que além da turma de Natal, encontrei entusiasmados grupos de visitantes de João Pessoa e até do Recife chegando em ônibus fretados e percorrendo a feira.

O Inforn'95 foi promovido pela SUCESU/RN. Que, com certeza, colaborou em peso. Mas não pude deixar de sentir que o evento foi quase uma realização pessoal do atual presidente, José Salustiano Fagundes. Uma figura humana notável, cheio de entusiasmo, justamente orgulhoso com o sucesso do Inforn'95. Um sucesso tão grande que comprovou a viabilidade de se organizar em Natal um evento de porte na área de informática. Resultado: por artes do mestre Salu e sorte dos participantes, o próximo congresso nacional da SUCESU, em 96, será em Natal.

No fim das contas, o Inforn'95 me surpreendeu. Mesmo já conhecendo Natal e tendo consciência de sua importância na região, não fazia a menor idéia que seus micreiros formassem massa crítica suficiente para o sucesso de um evento desse porte. Pelo visto, enganei-me: a turma é boa tanto em quantidade quanto em qualidade. Quem duvidar que se meta a discutir essas besteiras de micro com o Cassiano Lamartine, por exemplo. Um cabra danado, um lorde que, além de ser gente finíssima, é um dos poucos que conheço mais viciado em micro que eu mesmo. E não há de ser só ele: a julgar pela quantidade de estandes vendendo kits multimídia e discos CD-ROM, a alta micraria de Natal anda muito bem equipada. Tanto que, no congresso, as palestras sobre multimídia disputavam o recorde de público com as que discutiam Internet.

Pois é isso. E como não há bem que sempre dure, eis-me de volta ao Rio de Janeiro e à dura realidade da vida, tendo que cair no batente de volta de mais uma feira. Mas afinal, como diria o Conselheiro Acácio, uma feira é uma feira, nada mais que uma feira.

Mas uma feira em Natal é outra coisa...

B. Piropo