Escritos
B. Piropo
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10/07/1995
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A Cristina, coitada, está de disco rígido novo. Não que o disco seja de segunda: ao contrário, é um potentíssimo IDE Maxtor de 1,26G. Mas a pobre caiu na bobagem de aceitar meu oferecimento para instalar o bicho. E deu-se mal.

Acontece que ela tinha dois HDs. Um deles permaneceria na máquina e o outro seria substituído pelo novo. Que deveria ser configurado como "master", enquanto o velho seria o "slave". Depois, bastaria particionar, formatar e instalar o sistema operacional no drive novo. Como nada disso depende da máquina e como eu tenho uma placa mãe e seus penduricalhos sobrando aqui em casa (na verdade, não estão propriamente sobrando: trata-se de meu futuro Pentium que aguarda a substituição de um HD que deu pau, mas isso é outra história que talvez um dia vos conte), sugeri que ela para cá trouxesse seus discos rígidos e a respectiva placa controladora que a gente trabalharia na bancada onde (pelo menos em tese) seria mais fácil resolver tropeços eventuais.

Tudo teria sido perfeito não fora a lei da perversidade da matéria, também conhecida por lei da aporrinhação máxima, acumular pequenos fatos que, isoladamente, não viriam a constituir problema algum. Mas juntos, desgraçaram uma tarde de domingo.

O primeiro aparentemente nada tinha de maléfico. Era apenas incômodo: eu tinha todo o necessário para a tarefa proposta, exceto memória. Tudo bem: meia dúzia de parafusos a menos, cinco minutos a mais e eu empunhava triunfante os dois pentes de memória da minha máquina principal, já que a reserva ainda não foi instalada desde que me mudei e sua memória não cabe nos slots de 72 pinos da placa mãe. Isto feito, espetei na placa mãe os pentes de memória e a controladora dos drives à qual já havia conectado os próprios e fui em frente todo frajola.

Como já havia lido cuidadosamente o manual e ajustado os jumpers nos conformes para configurar como master e slave os drives respectivos, tudo correu na santa paz. Pelo menos até a hora de formatar os dois drives lógicos nos quais havia particionado o novo HD. Porque aí ocorreu o segundo fato também aparentemente sem importância: na balbúrdia em que moro desde a mudança, onde não tive tempo de arrumar nada além do essencial, não achei meu disco de boot nem com reza braba.

Ora, mas se não há disco de boot, por que não fazer um? Afinal, nada mais simples para um micreiro esperto. Pelo menos seria, não houvera eu removido a memória do único desktop que funcionava. E agora, como formatar um disco sem micro?

Mas alto lá: sem micro uma ova! Estaria eu esquecendo de meu brinquedo novo mais reluzente? Pois não estava ali mesmo na prateleira um magnífico notebook 486 com todos os luxos a que eu tinha me dado o direito de desfrutar? Pois então?

Daí para a frente, tudo pareceu entrar nos eixos: disquete de boot gerado no notebook, passamos para a bancada e mandamos ver. Formatamos as duas partições recém criadas no HD novo, transferimos o sistema para o drive "C" e testamos. Tudo nos conformes: os arquivos do antigo disco rígido da Cristina estavam lá, impávidos, no drive D, o boot entrou redondinho do sistema instalado na primeira partição do novo HD, o drive C, enquanto sua segunda partição aparecia toda pimpona como drive E (por estranho que pareça, é isso mesmo: o designador da segunda partição do primeiro drive sucede o designador da primeira partição do segundo drive).

Como diria o cara que caiu do vigésimo andar ao passar pelo segundo: até aqui, tudo bem. Ora, mas se até aqui tudo bem, então tudo bem e temos conversado. Pois já não faltava mais nada: a missão havia terminado e fora coroada de êxito. Ou não?

Bem, quase. Porque foi nesse momento que a Cristina perguntou que versão do DOS havia sido transferida para seu HD durante a formatação. Ora, evidentemente a que estava no notebook que gerou o disco de boot: o PC-DOS 6.3 da IBM.

Mas que chato: essa versão ela não tinha em casa para acabar de instalar o sistema (não se esqueçam que o drive C só tinha sido formatado: ainda havia que criar o diretório DOS e tudo o mais). É verdade que poderia conseguir uma com a IBM. Mas era domingo e ela tinha pressa. No notebook, o sistema veio pré-instalado e eu não sabia onde estavam os discos originais para completar a instalação. E havia a dúvida: como o disco rígido havia sido formatado com a versão 6.3, o MS-DOS 6.2 aceitaria fazer o "upgrade"? Afinal, no HD constava uma versão superior...

Eu presumia que sim, mas não garantia. Na dúvida, pusemo-nos a procurar os disquetes originais na babel de caixas, pacotes e pilhas de livros que chamo de sala. E, por má sorte da Cristina, ocorreu o terceiro fato aparentemente sem importância que somado aos dois primeiros gerou o caos: ao invés de encontrar um PC-DOS qualquer (seja a versão 6.3, seja a 7.0, que já saiu e está ótima), achei justamente o miserável disco de boot que sumira na hora de formatar o HD. Um disco de boot do MS-DOS 6.2. Que, aparentemente, resolvia o problema: bastaria reformatar com ele o disco rígido C da Cristina. Afinal, tratava-se exatamente da versão que ela tinha em casa.

Enfiei o disquete no drive A e mandei ver: "FORMAT C: /S /U". Porque o "/U"? Sei lá. Hábito, creio eu. Afinal, que mal faria, se no drive C nada havia além do sistema?

Eu juro que digitei "C:". A Cristina jura que verificou e lá estava na tela: "Formatando o disco rígido C" ou algo parecido. Mas o fato é que, por artes do diabo ou do driver que enganchou no sistema para permitir o uso de partições maiores que 512Mb, quem foi formatado foi o drive D. O velho. Aquele que continha os arquivos da Cristina.

Está claro que a primeira coisa que fiz depois das horrorizadas exclamações de espanto e dos atônitos pedidos de desculpa, foi tentar recuperar os dados com o Norton Utilities. Mas não deu: apareceram uns arquivos cruzados e a máquina travou. Tentei mais umas tantas vezes, mas o resultado foi sempre o mesmo: dos duzentos e tantos Mb de arquivos, consegui recuperar míseros sete. Só sete megas. Mais nada.

Eu sei que, nessa altura dos acontecimentos, você tem certeza absoluta que a perda não foi irreparável. Afinal, uma micreira esperta como a Cristina nunca se arriscaria a semelhante estrepolia sem antes fazer um backup completo de seu HD.

Cavalheiro que sou, eu jamais direi que não. Mesmo porque não seria eu quem iria desfazer vossas ilusões sobre o caráter sem jaça de tão prendada e formosa jovem.

O fato é que a Cristina, coitada, está de disco rígido novo...

PS: como em toda segunda terça-feira de cada mês, amanhã, no RDC da PUC, haverá mais uma reunião do Grupo de Usuários do OS/2 do Rio de Janeiro. E como sempre, basta aparecer para participar. Essa, eu vou fazer um esforço danado para não perder.

B. Piropo